que também é
da Silva Xavier,
queria ser dono do mundo
e se elegeu Pedro II.
Das estradas de Minas,
seguiu pra São Paulo
e falou com Anchieta,
o vigário dos índios.
Aliou-se a Dom Pedro
e acabou com a falseta:
da união deles dois,
ficou resolvida a questão
e foi proclamada
a escravidão"
(Sérgio Porto,
Samba do crioulo doido)
A linha do tempo do site da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo está mais para linha do contratempo, conforme pode ser constatado aqui.
Além da justificativa grosseira do golpismo --a afirmação, retirada anteontem (27/01) sob vara, de que os forças policiais acumpliciados com a quebra da normalidade constitucional teriam traído seu dever para se porem "solidárias às autoridades e ao povo" (ver relato do episódio aqui)--, há também um estupro grosseiro da História, referente ao ano de 1970. Este:
"O Comando de Operações Especiais da Polícia Militar foi criado em 13 de março de 1970, logo após incidentes com grupos de guerrilha liderados pelo ex-capitão Carlos Lamarca. O COE funciona como tropa reserva do Comandante Geral da Polícia Militar, e tem como missões: operações especiais policiais militares; busca e captura de procurados em locais de difícil acesso...", etc.
Portanto, em 13 de março foi criada uma unidade para atuar em situações como a malograda perseguição ao comandante Carlos Lamarca no Vale do Ribeira... que só seria iniciada no dia 20 de abril!!!
A mesma confusão pode ser constatada no louvaminhas verbete Comando de Operações Especiais da Wikipedia (ver aqui), evidentemente de autoria fardada.
"Em 1970, no estado de São Paulo, Vale do Ribeira, vinham sendo registradas atividades típicas de insurgência, ações típicas de guerrilha, tendo como chefe o ex-Cap EB Carlos Lamarca e sendo que para lá, foram deslocados contingentes militares reforçados que incluíam, obviamente, homens pertencentes à milícia estadual. Em um dos combates havidos, o Aspirante a Oficial PM Alberto Mendes Junior foi tomado como prisioneiro pelos rebeldes, sendo, depois friamente assassinado.
Podemos considerar este fato - a morte do PM Alberto Mendes Junior - como a célula-máter da criação do COE, em 13 de março de 1970. O fato, dentre outras implicações, evidenciou a necessidade de se constituir uma unidade especializada, no âmbito da Polícia Militar, para desenvolver operações de contra-guerrilha".
Aí o samba do milico fica mais doido ainda, pois a morte do tenente ocorreu no dia 10 de maio.
A hipótese mais plausível é que tenham criado o COE como um reforço para o aparato repressivo destinado a combater uma eventual guerrilha rural em São Paulo (*), e estejam sendo obrigados a manter a data de 13/03/1970 por ser a que consta na papelada oficial.
Só que, para a novela ficar mais piegas, resolveram apresentar o COE como uma resposta aos eventos de abril e maio. Quem iria notar?
O atento companheiro baiano Ismar C. de Souza, militante do movimento negro e pesquisador de assuntos dos anos de chumbo, notou... e me deu a dica. Daí estarem agora aprendendo, da pior maneira, que mentiras oficiais não permanecem em pé sem uma censura para as escorar.
Fica, enfim, mais uma vez comprovado o viés propagandístico das versões que a ditadura apresentava dos acontecimentos e suas viúvas mantêm até hoje. Nunca deram a mínima para a veracidade histórica; seguiam, isto sim, o manual de guerra psicológica.
* àquela altura, iludidos pelas balelas que o comandante Chizuo Ozawa lhes impingiu nas sessões de tortura, os militares acreditavam que a área de treinamento guerrilheiro da VPR se localizasse em Goiás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário