quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O POST CAMPEÃO DESTE BLOGUE

Abaixo eu republico o post mais lido deste blogue nos seus quase três anos e meio de existência; de 27/12/2010 até este momento, já havia sido visitado 4.236 vezes.

Estava um pouco à frente de Michael Jackson (1958-2009): do boi só se perde o berro, com 3.939 visualizações; e bem à frente das 1.615 de Casoy me move ação criminal por artigo sobre o episódio dos garis.

Eu não saberia explicar por que os artigos sobre o pistoleiro lendário e o rei do pop despertaram tanto interesse. Talvez vocês, leitores, tenham algum palpite.

O certo é que, quando os escrevi, encarei os dois primeiros como rotina. E que outros, nos quais botei muito mais empenho, nem aparecem na lista.

Talvez seja uma lição de humildade para mim...

BILLY THE KID PODE RECEBER AGORA 
O PERDÃO PROMETIDO EM 1879

Billy não era parecido com Kris
Kristofferson ou Emilio Estevez...
Billy the Kid pode ser oficialmente perdoado pelo governador do Novo México, quase 130 anos após sua morte, ocorrida em julho de 1881.

É outra pendência que ficou para o finalzinho de mandato: assim como o presidente Lula em relação ao Caso Battisti, o governador Bill Richardson prometeu dar sua decisão até 5ª feira, 31, quando deixará o cargo.

Morto aos 21 anos, Henry McCarty, também conhecido como William Henry Bonney e  Billy the Kid, começou a se tornar uma das maiores lendas do Velho Oeste estadunidense por obra e graça daquele que o matou: Pat Garrett.

O xerife pagou a um escriba para relatar, em seu nome, a caçada por ele movida contra o velho companheiro de cavalgadas.

A versão de Pat Garrett -- Billy the Kid: a história de um bandido (L&PM, 258 p.) -- é apresentada como uma tentativa de restabelecer a verdade dos fatos, pois já se começava a mitificar o personagem.

Foi como apagar uma fogueira com gasolina: fez o mito crescer cada vez mais.

O que se sabe:
  • Billy perdeu cedo o pai e, aos 14 anos, tornou-se órfão também de mãe;
  • preso por roubar roupas de uma lavanderia, foge da prisão e vagueia pela fronteira entre EUA e México, furtando cavalos;
  • mata um ferreiro no Arizona, aos 17 anos;
  • escapa para o Novo México e, no condado de Lincoln consegue um emprego honesto na fazenda de John Tunstall, a quem passa a admirar muito;
  • quando Tunstall é assassinado a mando de outro fazendeiro da região, ele e outros vingadores, intitulando-se  vigilantes, travam uma guerra sangrenta contra a facção contrária.

O que permanece nebuloso:
  • o número de suas vítimas fatais, pois, das 20 ou 21 mortes que lhe atribuíram, apenas em quatro sua autoria é hoje dada como líquida e certa, havendo dúvidas quanto a outras cinco e a certeza de que as demais foram mero exagero;
  • se realmente foi morto por Pat Garrett ou sobreviveu, só vindo a expirar em 1950, quando um ancião que usava o nome de Brushy Bill Roberts disse ser, na verdade, Billy the Kid, em busca do perdão governamental (mas, faleceu antes que sua história fosse apurada).
Embora não se constituam nos melhores filmes a respeito de Billy, os dois Young Guns são os mais esclarecedores.

O primeiro -- Os Jovens Pistoleiros (1988, dirigido por Christopher Cain) -- reconstitui a guerra do condado de Lincoln, mostrando como as disputas violentas por terras acabaram devolvendo à criminalidade os empregados de Tunstall (que contratava jovens marginais e os regenerava).
...e muito menos Pat com James
Coburn ou William Pettersen.

E o outro -- Jovem Demais Para Morrer (1990, d. Geoff Murphy) --, além da perseguição de Pat Garrett a Billy, introduz elementos interessantes, como a participação do jornalista contratado como  ghost  writer, o surgimento do nonagenário Brushy Bill Roberts (cujas alegações são aceitas como verdadeiras pelo filme) e o próprio fulcro do atual pedido de perdão.

É que o governador Lew Wallace, empenhado em acabar com a corrupção e arbitrariedades dos poderosos de Lincoln, prometeu (mas não cumpriu) perdoar Billy caso ele depusesse incriminando os assassinos do seu ex-patrão.

"O fora-da-lei foi mais honrado", diz o criminalista Joel Jacobsen, autor de Such Men as Billy the Kid, garantindo haver evidências "fortes, irrefutáveis mesmo" dessa barganha.

Em Jovem Demais Para Morrer,  Wallace é mostrado como sincero, mas impotente para cumprir o prometido.

Então, o dilema proposto ao governador atual é o seguinte: cabe a ele honrar a palavra de seu remoto antecessor?

Seja qual for a decisão, o certo é que Billy já foi reabilitado pela arte, com sua saga inspirando verdadeiras obras-primas:
  • o estranhíssimo western freudiano Um de Nós Morrerá (1958, d. Arthur Penn), em que seu drama é equiparado ao de um filho que perdeu o pai (não o biológico, mas o fazendeiro Tunstall);
  • o belíssimo western outonal Pat Garrett & Billy the Kid (1973, d. Sam Peckinpah), centrado na má consciência do primeiro, que aceita uma estrela e uma missão infame como preço a pagar por uma velhice sem problemas financeiros;
  • a antológica trilha musical composta por Bob Dylan para o filme de Peckinpah, incluindo "Knockin' at Heaven's Door".

Há quem destaque também os temas criados por Jon Bon Jovy para Jovem Demais Para Morrer e depois reunidos no álbum Blaze of Glory.

Têm lá seu impacto, mas a inevitável comparação com o trabalho de Dylan acaba sendo cruel para Bon Jovi...

P.S.: o governador do Novo México decidiu negar o indulto simbólico a Billy. Alegou "incertezas" quanto a seu antecessor haver ou não prometido o perdão e "uma ambiguidade histórica sobre o motivo pelo qual o governador Wallace teria desistido da graça".

Um comentário:

Cláudia Lemes disse...

Engraçado eu li o livro do Pat Garrett mas até agora não tinha me ligado em quantos filmes falavam da história, vou correr atrás de uns agora. Valeu, Celso.

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