O capitalismo putrefato desperdiça criminosamente as possibilidades hoje existentes para o desfrute da existência, sobrecarregando os seres humanos com trabalho inútil, excessivo e estressante. E os brasileiros estão entre os que mais padecem sob a escravidão de novo tipo.
É o que se pode depreender da pesquisa sobre jornada de trabalho que a multinacional Regus acaba de divulgar (ver aqui) .
Ouvidos 12 mil profissionais em 85 países, os principais resultados foram:
Ouvidos 12 mil profissionais em 85 países, os principais resultados foram:
- 43% dos profissionais no Brasil trabalham de nove a onze horas por dia. No restante do mundo esse percentual é de 38%;
- 17% dos profissionais no Brasil e 10% em outros países trabalham mais de onze horas por dia regularmente;
- no Brasil, 46% dos profissionais levam trabalho para terminar em casa, mais de três vezes por semana, no comparativo com o índice de 43% global;
- Os profissionais do sexo masculino no Brasil (20%) têm quatro vezes mais chances de trabalharem 11 horas por dia, do que as mulheres (4%).
Segundo Guilherme Ribeiro, diretor geral da Regus em nosso país, "mais da metade dos profissionais no Brasil trabalham além das oito horas por dia e mais de 40% levam trabalho para concluir em casa regularmente", daí advindo as consequências previsíveis:
"O problema do estresse relacionado à pressão por resultados está crescendo, os efeitos a longo prazo desse excesso de trabalho podem prejudicar tanto a saúde do profissional como a sua produtividade, já que os próprios funcionários exigem demais de si mesmos e ficam frustrados, depressivos e até mesmo fisicamente doentes”.
ANDANDO PARA TRÁS,
COMO OS CARANGUEJOS
COMO OS CARANGUEJOS
A progressiva redução da jornada vinha sendo uma constante depois da fase mais terrível do capitalismo selvagem, quando se trabalhava até 18 horas diárias nas minas de carvão européias.
Na esteira dos marcantes avanços científicos e tecnológicos das décadas de 1950 a 1980, a tendência acentuou-se, com a semana de 40 horas sendo cada vez mais adotada, enquanto na Europa já havia quem trabalhasse apenas quatro dias semanais.
Isto apesar do parasitismo capitalista, do sem-número de ocupações desnecessárias que mantêm os homens labutando sem proveito nenhum para a sociedade, muito pelo contrário -- casos emblemáticos dos bancos e da indústria bélica.
A partir da globalização da economia e da imposição do neoliberalismo como credo econômico supremo, a humanidade andou para trás: o desemprego só fez aumentar e a jornada dos que trabalham (assalariados, autônomos, terceirizados, micros e pequenos empresários), idem.
Muitos querem trabalhar e não podem, outros gostariam de trabalhar menos e também não podem: é a irracionalidade imposta pela ganância.
Como se tivéssemos voltado ao século 19, novamente as pessoas passaram a viver para trabalhar, mais do que trabalhar para viver, sacrificando seu repouso, lazer, a convivência com os entes queridos e sua saúde física/mental.
De certa forma, hoje a situação é pior ainda do que no capitalismo mais selvagem, quando, pelo menos, as mulheres eram poupadas da escravidão assalariada e podiam dedicar-se às crianças, ao invés de as depositarem em creches e escolinhas.
Sua absorção pelo mercado de trabalho acabou aviltando os ganhos de todos e deixando os lares com poder aquisitivo equivalente ao que tinham no tempo em que só o marido e os filhos mais velhos trabalhavam fora. Foi a chamada mágica besta.
Um comentário:
O problema do estresse, dito no texto, me faz lembrar o "banzo", depressão que os escravos sentiam e que fazia perecer muitos deles.
Àquela época, escravos trabalhavam 14 a 18 horas por dia.
Hoje, recebe-se (mal) por 8h30 trabalhadas por dia, mas a acumulação de trabalho levado para casa não é contada no final do mês.
E ainda há o assédio moral, a corrida pelos prazos e datas, os problemas não resolvidos e tudo o quanto é exigência intelectual a ser resolvida ou digerida, e que se faz justamente no período em que não se deveria estar trabalhando.
Conhecidos meus levam essa carga à cama, falando sobre o trabalho enquanto dormem. Acredito não ser essa uma moda restrita aos círculos que frequento.
Sei também que não sou o único a se sentir mal quando descansa, ao invés de pensar no trabalho, durante os finais de semana.
Ainda adiciono que problemas devidos a esse estresse, como gastrite (que pode levar a úlcera), taquicardia, derrames cerebrais e ataques cardíacos serão raramente considerados como doença relacionada ao trabalho ou acidente de trabalho.
Seja de banzo, de doença coronária ou por qualquer acidente, o trabalho em demasia ainda fará vítimas. Morrerão sem ter o pagamento pelas horas de sono que o estresse os roubou. E a causa mortis será a doença infernal do capitalismo.
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