domingo, 31 de julho de 2011

QUEM CHOCOU O OVO DA SERPENTE?

Muito esclarecedora a análise enviada de Berlim para a Folha.com por Carolina Vila-Nova, Europa foca islã e deixa de ver extremismo de direita. Eis os trechos principais: 
"Nos últimos dez anos, seguindo a orientação da política externa americana, a Europa centrou sua atenção no combate ao extremismo islâmico e subestimou a ameaça potencial da extrema direita, deixando de monitorar seu crescimento na região.
Um desses radicais, Anders Breivik, chocou a até então estável Noruega no último dia 22 com dois ataques que mataram 77 pessoas.
...enquanto a Europa investigava as comunidades muçulmanas - e fomentava indiretamente a islamofobia, base da extrema direita -, vários países tiveram aumento da representação de partidos de direita populista em escala nacional e da ocorrência de atos de extremismo.
'...demos uma atenção exagerada às comunidades islâmicas aqui', avalia Joerg Forbrig, do German Marshall Fund em Berlim.
'Seguimos a agenda ditada pelos EUA, (...) mas não analisamos a situação regional bem o suficiente para transformar isso também em prioridade', diz.
O cientista político da Universidade Livre de Berlim Hajo Funke diz que 'nos últimos anos, o cenário da extrema direita na Alemanha cresceu em termos de atos de violência, lenta mas firmemente, havendo cerca de mil casos por ano'. Segundo ele, 'desde a reunificação, do país, em 1990, mais de 300 pessoas já foram mortas nessas ações'.
O mapa da extrema direita é bem diverso ao redor da Europa. Em alguns países, seu crescimento é ilustrado pela participação de partidos no governo ou no Parlamento em proporções inéditas - na casa dos dois dígitos. É o caso de Itália e Holanda.
Em outros países, houve um aumento da ação extremista que não se traduziu em aumento da representação política, como na Alemanha.
Há um terceiro grupo de países em que ambos os fenômenos se articularam, como Áustria, Hungria e a Escandinávia de modo geral.

Embora bebam de um repertório ideológico comum - anti-imigração, anti-integração, anti-Islã -, há também diferenças regionais.

No Leste Europeu, onde há poucos imigrantes e poucos muçulmanos, o alvo preferencial dos extremistas são minorias tradicionais, como ciganos e judeus - casos de Bulgária, Romênia, Hungria.

Já no norte europeu, o movimento aparece como uma reação a políticas que favoreceram a chegada de refugiados e migrantes econômicos, muitos muçulmanos - casos de Dinamarca e Holanda.

Para Forbrig, 'esses partidos responderam a incertezas e medos da sociedade europeia. São países que passaram por mudanças maciças nos últimos 20 anos'.

Na análise do especialista, 'o aumento da imigração traz uma diversidade que confronta as pessoas. Há dúvidas sobre a capacidade de integração dos migrantes, temor da presença de muçulmanos e do fundamentalismo islâmico e preocupação com a crise econômica e o futuro'.

Uma explicação para o crescimento dos partidos de direita é que 'eles souberam responder a esses medos...'".
Nenhuma surpresa: açular o lumpesinato contra os judeus, concentrando neles a responsabilidade pela hiperinflação e a penúria sobrevindas após a derrota na 1ª Guerra Mundial, foi a bandeira que levou a extrema-direita alemã ao poder.

O antissemitismo já era sua palavra de ordem nº 1 quando um obscuro cabo começou a discursar nas cervejarias e rapidamente afirmou-se como o mais eloquente porta-voz da intolerância.

Quase um século depois, a mesma prática de canalizar as insatisfações generalizadas contra um bode expiatório de ocasião produziu o mesmo resultado: carnificina.

Só que as fúteis tentativas de repetir a História tendem a terminar em farsas, ainda que sangrentas. Não houve ninguém capaz de lançar-se como o novo Hitler e o candidato a Benito Mussolini redivido acabou revelando uma constrangedora afinidade com um personagem mais antigo: Caio Júlio César Augusto Germânico, mais conhecido pelo apelido de Calígula.

Um comentário:

Glória Reis disse...

Até que enfim li essa notícia de forma abrangente. Adorei seu blog, já salvei no favoritos.Enviei para o facebook a notícia do Elias, já tinha lido sobre o caso e tb fiquei indignada.

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