domingo, 10 de julho de 2011

A ESCOLHA DE NEYMAR

Muricy Ramalho aconselha Neymar a escolher o Barcelona como seu novo clube. Eu também.

Por ter um time montado e vitorioso, o Barça poderá se dar ao luxo de conceder ao atacante brasileiro todo o tempo de que precisa para ambientar-se no futebol europeu, antes de cobrar-lhe atuações à altura da fortuna nele investida.

Já o Real Madrid vem de uma péssima temporada 2010/11: ganhou a Copa do Rei, mas foi superado pelo maior rival no Campeonato Espanhol e na Liga dos Campeões, as duas principais competições que disputou.

A pressão será grande sobre Neymar. O Real quer um craque que faça a diferença, a exemplo de Messi no Barcelona. Então, desde o início a mídia criará um clima de confronto entre os dois supercraques -- com a vantagem do que já se afirmou sendo imensa em relação ao que ainda busca afirmação.

É responsabilidade demais para um jovem de 19 anos, que várias vezes mostrou ser emocionalmente instável -- agora, p. ex., as dúvidas sobre seu futuro estão encruando seu futebol na Copa América a tal ponto que nem a camisa de titular ele está fazendo por merecer.

E há um motivo maior ainda para Neymar recusar a proposta merengue, mesmo que a do Barça seja inferior em termos financeiros: o intragável José Mourinho.

Trata-se de um treinador defensivista, que engessa o time com uma rigidez tática absoluta.

Se Neymar não entendeu-se com o afável Dorival Jr., é praticamente inimaginável uma boa convivência com Mourinho -- salvo se abrir mão da criatividade, sua melhor característica, para jogar como um dos robôs do português que tem alma de alemão.

Já com  Pep Guardiola a conversa vai ser bem diferente. Desde que não abuse do individualismo, Neymar terá todo incentivo para exercitar seu talento. É um técnico que prazerosamente se coloca em segundo plano, cedendo o palco para os artistas da bola -- ao contrário de Mourinho, que faz questão de ser ele e mais ninguém a estrela do time...

Torçamos para que Neymar faça a escolha correta -- e nos dê o privilégio de vê-lo jogando ao lado de Messi num ataque de sonhos.

6 comentários:

Anônimo disse...

Hello Very funny post...

Blogs Reunion disse...

Grande coisa! Como se um jogador de futebol fosse fazer algo de "realmente importante" para o país. Aconteça o que acontecer, a situação de Neymar não interfere EM NADA na vida de qualquer brasileiro. É só um palhaço a entreter as massas.

Somente um povo sem auto-estima como o brasileiro para dar excessiva importância a algo tão fútil e inútil como o futebol, uma brincadeirinha que tem sido cada vez mais levada a sério.

Os direitistas estão felizes. O futebol é uma excelente e infalível máquina de lavagem cerebral: aliena até pessoas de esquerda.

Anônimo disse...

Qual o problema de um simples artigo sobre futebol?
Como diria o Che: Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás!

celsolungaretti disse...

Sempre acreditei que o artista (e também o articulista) deve ir até onde o povo está, não esperar que o povo venha até ele.

Então, a exemplo de João Saldanha e Sócrates, tento escrever sobre futebol de uma forma enriquecedora e não alienante.

Creio que o melhor exemplo de tal postura, de minha parte, é este texto aqui: http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2010/06/1970-caneco-glorioso-calice-vergonhoso.html

The Light Son of Janus disse...

Caro Celso,

Acho que só discordamos sobre futebol...

Acho que Neymar devia era ficar no Brasil. O futebol europeu tem a mania (fascistizante, em minha opinião) de engessar os craques brasileiros, dando-lhes músculos e sugando-lhes a criatividade. Lá, nossos talentos puros, leves e ágeis, viram grandes armários, desajeitados e ocos. Perdem, com isso, sua graça. Tudo em nome de uma eficiência alienizante, paralizante, massificante.

Não que haja muita distância entre os técnicos de lá e os daqui. Sob Muricy, Felipão ou José Mourinho o futebol tem perdido o que lhe é genuíno, transformando-se em um jogo tático vazio e massante (para não dizer elitista).

Ainda perguntam-me o por quê de eu não assistir mais futebol. Não assisto porque, ao ver nossos jogadores, vejo o que o belo esporte pode ser. Ao ver nossos jogos, vejo o que ele se tornou.

Veja o futebol africano, por exemplo. Achava eu (ah, inocência!) que veríamos na última copa o esporte sendo praticado da maneira correta. Achei que as seleções africanas chegariam longe, que mostrariam ao mundo a força do futebol alegre e despreocupado que já me encantara. O que se viu, no entanto, foi um joguinho sem magia, engessado pelo burocratismo tático (na verdade, pela tática burocrática).

A Espanha levou a melhor (a Espanha!). Dos males, o menor, na verdade. Afinal, entre os times europeus, foi o que jogou mais bonito... Mas mostrasse o Brasil o que esse povo ainda produz, e deixassem os técnicos, a CBF e que tais que esses talentos não se perdessem na estupidez burocrática, e veria o mundo o jeito certo de jogar bola.

O caso é que ainda se vêem gracejos em meio a tanta pedra no futebol brasileiro. No europeu e nos que nele estão, qualquer faísca de genialidade parece morrer.

Grande abraço! (Desculpe a extensão do comentário)
Ivan

celsolungaretti disse...

Quem utiliza este curioso nick, que algum dia talvez tenha a bondade de nos explicar -- estará se referindo a Fontus, filho de Janus e deus dos mananciais? -- é ninguém menos do que o grande companheiro Ivan Seixas, cuja visita muito honra este blogue.

De resto, não há exatamente uma discordância entre nós sobre futebol. Apenas dei como favas contadas que Neymar não resistirá ao assédio europeu.

Afinal, o próprio técnico do Santos, o maior interessado em sua permanência, já se resignou ao inevitável, limitando-se a aconselhá-lo quanto à melhor escolha a fazer. Eu fui na mesma direção.

No fundo, nós três -- o Muricy, o Ivan e eu -- tememos o mesmo: que o fulgurante talento de Neymar seja destruído pela "eficiência alienizante, paralizante, massificante" que é marca registrada do técnico José Mourinho (e da quase totalidade dos treinadores "top").

A mais conspícua exceção é exatamente o Barcelona de Pep Guardiola, que deu a Messi as condições ideais para que atingisse seu ápice, assim como fizera com Ronaldinho Gaúcho e tantos outros craques estrangeiros.

Isto se deve, como Sócrates brilhantemente explicou ( http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2011/02/o-craque-e-barcelona.html ), às características especiais e únicas da cidade e do povo catalão.

Nem preciso dizer que eu também prefiro ter Neymar aqui, com sua gente, ajudando a tirar o futebol brasileiro do fundo do poço em que hoje está (ainda que isto implique a perda de outros títulos pelo meu Corinthians...).

Mas, se tiver de ir, que pelo menos seja para o Barcelona, a melhor chance de seu futebol moleque não se tornar adulto, travado e macambúzio!

Related Posts with Thumbnails