Em O coronel e a tortura, o economista Pérsio Arida responde às acusações que lhe fizera o único torturador brasileiro reconhecido como tal por sentença judicial, Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Ao Pérsio convém duelar com um espantalho: o opróbrio do vilão Ustra coloca quase todos, a priori, ao lado do mocinho.
Espertamente, ele finge que o único problema no seu artigo seria ter denunciado torturas; e que a única objeção do Ustra haja sido quanto às torturas que o Pérsio diz ter sofrido.
Não é verdade. O Ustra o acusou também de haver falseado dados para se fazer de vítima a um nível que ele nunca foi. P. ex., aumentando o seu período de prisão (de 42 dias para "vários meses"), exagerando os rigores a que foi submetido e omitindo que os milicos o encararam como "um garoto estúpido" e inofensivo, tanto que o tão execrado comandante do DOI-Codi recomendou pessoalmente sua absolvição.
Recuso-me a explanar sobre as inverossimilhanças do artigo inicial do Arida, pois não me dizem respeito. Mas, continuo indignado com as referências desnecessárias e infames ao Massafumi Yoshinaga, protagonista de um dos episódios mais sofridos dos anos de chumbo.
Quem passou pela inferno que o Massa -- realmente -- conheceu, a ponto de ser levado ao suicídio, não merece ser evocado de forma tão oportunista por um pavão em busca de holofotes.
Ainda mais um pavão que, conforme acaba de reconhecer, deixou "de ser comunista ou socialista há muito tempo" e hoje declara que, ao militar contra a ditadura, não passava de "um jovem idealista, mas equivocado".
O fato é que o Pérsio, usando o Massa como escada para despertar o interesse dos leitores e para destacar (por contraste) a si próprio, fantasiou o relacionamento entre ambos, reduzindo-o a dois únicos contatos dramáticos e omitindo que haviam prosaicamente militado juntos durante pelo menos um semestre na Frente Estudantil Secundarista, vendo-se semana-sim-outra-também e separando-se como adversários rancorosos.
Em quantas outras liberdades poéticas terá o Pérsio incorrido, para pavonear-se com as penas que durante quatro décadas não lhe interessaram (mas agora convêm)?!
Enfim, a pendenga é entre um ex-torturador obcecado em negar a existência das torturas que comandou e um ex-jovem-idealista que resolveu se dedicar à lucrativa missão de aperfeiçoar o capitalismo ao invés de ajudar os brasileiros a dele se livrarem.
O Pérsio diz que preferiria voltar a ser o "equivocado" do passado do que ser o chefe da Operação Bandeirantes.
Entre esses dois, eu preferiria ser... nenhum.
Ao Pérsio convém duelar com um espantalho: o opróbrio do vilão Ustra coloca quase todos, a priori, ao lado do mocinho.
Espertamente, ele finge que o único problema no seu artigo seria ter denunciado torturas; e que a única objeção do Ustra haja sido quanto às torturas que o Pérsio diz ter sofrido.
Não é verdade. O Ustra o acusou também de haver falseado dados para se fazer de vítima a um nível que ele nunca foi. P. ex., aumentando o seu período de prisão (de 42 dias para "vários meses"), exagerando os rigores a que foi submetido e omitindo que os milicos o encararam como "um garoto estúpido" e inofensivo, tanto que o tão execrado comandante do DOI-Codi recomendou pessoalmente sua absolvição.
Recuso-me a explanar sobre as inverossimilhanças do artigo inicial do Arida, pois não me dizem respeito. Mas, continuo indignado com as referências desnecessárias e infames ao Massafumi Yoshinaga, protagonista de um dos episódios mais sofridos dos anos de chumbo.
Quem passou pela inferno que o Massa -- realmente -- conheceu, a ponto de ser levado ao suicídio, não merece ser evocado de forma tão oportunista por um pavão em busca de holofotes.
Ainda mais um pavão que, conforme acaba de reconhecer, deixou "de ser comunista ou socialista há muito tempo" e hoje declara que, ao militar contra a ditadura, não passava de "um jovem idealista, mas equivocado".
O fato é que o Pérsio, usando o Massa como escada para despertar o interesse dos leitores e para destacar (por contraste) a si próprio, fantasiou o relacionamento entre ambos, reduzindo-o a dois únicos contatos dramáticos e omitindo que haviam prosaicamente militado juntos durante pelo menos um semestre na Frente Estudantil Secundarista, vendo-se semana-sim-outra-também e separando-se como adversários rancorosos.
Em quantas outras liberdades poéticas terá o Pérsio incorrido, para pavonear-se com as penas que durante quatro décadas não lhe interessaram (mas agora convêm)?!
Enfim, a pendenga é entre um ex-torturador obcecado em negar a existência das torturas que comandou e um ex-jovem-idealista que resolveu se dedicar à lucrativa missão de aperfeiçoar o capitalismo ao invés de ajudar os brasileiros a dele se livrarem.
O Pérsio diz que preferiria voltar a ser o "equivocado" do passado do que ser o chefe da Operação Bandeirantes.
Entre esses dois, eu preferiria ser... nenhum.
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