Noitada inesquecível no Mineirão: Cruzeiro 6x2 Santos |
O chocolate aplicado pelo Coritiba no Palmeiras me fez lembrar o último time de um centro futebolístico menor que detonou de forma tão surpreendente e desvastadora a hegemonia dos medalhões: o Cruzeiro, em 1966.
Até então, o futebol brasileiro vinha sendo monopolizado pelo Rio de Janeiro e São Paulo -- ainda mais durante o apogeu do Botafogo de Garrincha e do Santos de Pelé.
Houve uma moeda que caiu em pé no ano de 1959, quando a Taça Brasil foi disputada pela primeira vez e o Bahia sagrou-se campeão, vencendo o Santos por 3x2 na Vila Belmiro, perdendo por 0x2 na Fonte Nova e ganhando por 3x1 o jogo extra, também em Salvador.
Mas, na verdade, não se tratava de uma equipe memorável e a Taça Brasil era um torneio de importância secundária, disputado pelos campeões estaduais.
Servia para definir os representantes brasileiros na Copa Libertadores da América, à qual não dávamos grande importância, já que os argentinos e os uruguaios quase sempre saíam vencedores, aproveitando bem seus trunfos: a pressão da torcida, a violência, a catimba e o apito amigo.
A principal competição nacional era o Torneio Rio-São Paulo, que manteve seu formato original entre 1933 e 1966; de 1967 a 1970 admitiu representantes de outros Estados, acabando por ceder lugar ao Campeonato Brasileiro em 1971.
Depois da zebra baiana, o Palmeiras conquistou a Taça Brasil de 1960 e o Santos, as cinco seguintes.
O campeão Tostão beijando a Taça Brasil 1966 |
Pentacampeão, entrou como franco favorito para iniciar a disputa das finais no Mineirão, em 20/11/1966, naquela que provavelmente foi a primeira partida com televisionamento direto de Minas para São Paulo.
Eu assisti porque, mesmo sem torcer para o Santos, apreciava as jogadas maravilhosas de Pelé & cia.
Eu assisti porque, mesmo sem torcer para o Santos, apreciava as jogadas maravilhosas de Pelé & cia.
O Santos entrou com força total: Gilmar; Carlos Alberto, Mauro, Oberdã e Zé Carlos; Zito e Lima; Dorval, Toninho, Pelé e Pepe.
O Cruzeiro veio com Raul; Pedro Paulo, William, Procópio e Neco; Piazza, Dirceu Lopes e Tostão; Natal, Evaldo e Hilton Oliveira.
Foi só a bola começar a rolar e os mineiros fizeram 1x0 (Zé Carlos, contra, a 1').
O Cruzeiro estava avassalador e, logo aos 5', Natal ampliou. O desnorteado Santos não via a cor da bola e os gols foram se sucedendo: Dirceu Lopes (20' e 39') e Tostão (42') estabeleceram o inacreditável placar de 5x0 na primeira etapa.
O impacto no planeta bola foi total, o resto não passando de detalhe: a reação do Santos no segundo tempo, conseguindo diminuir um pouco o prejuízo (com gols de Toninho Guerreiro aos 6' e aos 9', e de Dirceu Lopes aos 27', a partida terminou em sonoros 6x2); e a nova vitória do Cruzeiro em São Paulo, por 3x2.
O futebol brasileiro ganhava um terceiro polo: Minas Gerais. Com a afirmação do Rio Grande do Sul na década de 1970, chegaríamos aos quatro centros predominantes até hoje.
O grande time do Cruzeiro que massacrou o Santos |
Não por acaso, foi Dirceu Lopes o principal carrasco do Santos, marcando três gols naquele inesquecível 6x2 e um quarto no 3x2 do Pacaembu.
De quebra, dois dos craques que se tornaram estrelas de primeira grandeza da noite para o dia, três anos e meio depois estariam erguendo a Taça Jules Rimet no México: Piazza e Tostão.
Torço para que a história se repita, com os 6x0 do Coritiba sobre o Palmeiras revitalizando o futebol brasileiro e revelando craques tão importantes quanto aqueles cruzeirenses.
Tudo é possível. E, mais do que nunca, precisamos de novos talentos.
Pois as perspectivas para 2014, por enquanto, estão mais para Maracanazo do que para hexa.
2 comentários:
Celso,
Deste time do Santos eu só conheço o eterno Pelé. Como pode o Santos ter sido humilhado desta forma com Pelé em campo?
Além do Pelé, estes outros jogadores do Santos eram bons? Me pai me dizia que Pelé ganhava jogo sozinho (certo exagero).
Abração.
Era um grande time, Ismar, com os campeões mundiais Gilmar, Carlos Alberto, Mauro, Zito e Pepe, além de um ótimo artilheiro, o Toninho Guerreiro.
Mas, o Cruzeiro estava inspiradíssimo e apresentou uma evolução tática que desconcertou o Santos: um meio de campo fortíssimo, que solidificava a defesa e ainda criava perigo no ataque.
A torcida pressentiu e lotou o Mineirão, criando o ambiente ideal para a goleada histórica.
O Pelé às vezes resolvia as coisas sozinho -- mas nem sempre, claro. A superioridade do Cruzeiro era demasiada.
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