quinta-feira, 14 de abril de 2011

VALE A PENA LER DE NOVO: "ESSE CRIME CHAMADO JUSTIÇA"

Face à nova vitória de Roberto Requião em sua cruzada para desmoralizar a Justiça e a política brasileiras, é mais do que oportuna a reedição do artigo abaixo, que escrevi no último mês de novembro, quando foi anunciada a merecidíssima sentença de Roger Abdelmassih. 

Este, que obtivera um inacreditável habeas corpus para responder ao processo  em liberdade, escapuliu logo depois da Justiça  que para os pobres tem garras, mas para a  gente bem  é uma mão que afaga. 

Abdelmassih continua até hoje foragido.
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O estuprador serial merece mesmo a pena de 278 anos a que foi condenado.
Ronaldo Cunha Lima

Tivesse eu os poderes de Deus, faria com que vivesse o suficiente para cumprir até o último dia de prisão, matando-o em seguida.

Mas, não consigo esquecer que a Justiça se faz algumas vezes, noutras não.

E, se colocarmos os casos lado a lado, fica a impressão de que tudo não passa de uma loteria.

Há culpados que recebem a sentença merecida... mas, do universo dos ricos, poderosos e famosos, são poucos, bem poucos. Além de dificilmente a cumprirem.

Há os que escapam graças a filigranas jurídicas... e são muitos.

Vai daí que a balança da Justiça não só foi substituída por uma loteria, mas por uma loteria fraudulenta.

P. ex., sem concordarmos com a frase infame de Paulo Maluf, assassinato é bem pior do que estupro.

Então, se o velho médico merece 278, quantos anos merece o velho jornalista que foi ao encontro da amante já antegozando seu assassinato, tendo-o executado com estarrecedora frieza, a ponto de haver disparado um tiro de misericórdia na moça que estrebuchava a seus pés?!

Um milênio seria pouco.
Roberto Requião
Mas, este faz parte da regra, não da exceção: não ficou nem um ano preso e está conseguindo tourear a Justiça até que seu inominável crime prescreva.

Da mesma forma, o político que surpreendeu e alvejou o rival num restaurante conseguiu não só ficar fora das grades -- deveria passar o resto da vida num calabouço medieval, isto sim! --, como continuou ganhando eleições e governando.

E que dizer daquele outro político que, mesmo tendo vencido o pleito graças a uma farsa exibida no horário eleitoral gratuito, desfrutou integralmente seu mandato espúrio e ainda saiu com a ficha limpa, sem condenação?!

E da absolvição daquele personagem que iniciou sua trajetória como seguidor de um mito (permanente como a revolução) da esquerda mundial, mas depois se tornou homem de confiança dos grandes capitalistas?!

Deveria defender os humildes dos abusos dos poderosos. Fez exatamente o contrário, utilizando todo o poder do Estado, da forma mais arbitrária e abusiva, para achatar um coitadeza qualquer.

Foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal, que aos verdadeiros esquerdistas, como Battisti, persegue encarniçadamente, mas que, aos banqueiros corruptos e aos ex-revolucionários que a burguesia cooptou, chama de Vossas Excelências.
Antonio Palocci

Então, somos obrigados a presenciar, enojados, o espetáculo: alguns bodes expiatórios ameaçados de não assumir mandatos por causa da  Lei da Ficha Limpa, enquanto centenas de vilões com culpas semelhantes serão poupados e um culpadíssimo segundo quaisquer critérios (tanto os da legalidade burguesa quanto os daqueles que a combatem)  está voltando à tona como, no mínimo, eminência parda do novo governo.

Aqueles a quem os deuses querem perder, primeiramente enlouquecem.

O Estado brasileiro dá, cada vez mais, a impressão de estar à mercê dos loucos.

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