"O golpe de 1964 encastelou no poder um grupo de militares fanáticos pela doutrina da Escola Superior de Guerra (ESG), organizada em 1946.
Ao longo de quase 20 anos, os militares e civis da ESG formularam e desenvolveram a doutrina e formaram uma nova 'elite' para dirigir o país.
Várias tentativas de golpe de estado, durante as décadas de 50 e 60 haviam falhado. Mas, em 1964, a Segurança Nacional estava no poder.
(...) O Exército recebeu a tarefa de submeter a nação aos ditames da ideologia golpista.
Com a intenção de subjugar qualquer tentativa de reação democrática, foram criados organismos de repressão, sendo o primeiro deles a Oban (Operação Bandeirante), lançada em junho de 1969, que, posteriormente, recebeu a denominação de DOI-Codi (Departamento de Operações Internas - Centro de Operações de Defesa Interna).
Havia também organismos não oficiais clandestinos, que serviam ao sistema, como o Esquadrão da Morte, o Comando de Caça aos Comunistas (CCC). A organização denominada Tradição Família e Propriedade (TFP), embora fosse uma associação legal, possuía, segundo depoimentos, uma facção ilegal, inclusive com centros de treinamento de guerrilha anticomunista em Minas Gerais.
Durante a década de 50 do Século XX, era visível o crescimento, dentro da Igreja, de setores que apoiavam as lutas populares e a defesa dos direitos dos pobres e oprimidos socialmente, num prenúncio do que viria a ser a Teologia da Libertação.
Durante a década de 50 do Século XX, era visível o crescimento, dentro da Igreja, de setores que apoiavam as lutas populares e a defesa dos direitos dos pobres e oprimidos socialmente, num prenúncio do que viria a ser a Teologia da Libertação.
Em reação a esse processo, surgiu a Sociedade Brasileira em Defesa da Tradição, da Família e da Propriedade, (...) uma organização católica de extrema direita, cujos membros recebem treinamento paramilitar, e cujo ideário é bastante próximo ao neonazismo, exceto pela pregação religiosa bastante fanática e obscurantista que caracteriza esta organização.
A TFP existe até os dias de hoje, e organiza campanhas contra a reforma agrária (para eles, uma bandeira dos comunistas), contra o direito ao aborto, e contra o Projeto de Lei da Parceria Civil Registrada, e possui fortes financiadores, não somente da alta hierarquia da Igreja Católica, mas também de setores do grande empresariado.
Um terceiro braço da repressão, talvez o mais terrível e que só recentemente veio à luz e está sendo desvendado e denunciado, foi a Operação Condor, ou melhor, é a Operação Condor, visto que, segundo farto material jornalístico nacional e internacional, inclusive depoimentos de participantes, continua em atividade.
De acordo com o descobridor dos Arquivos do Terror, o advogado paraguaio e ex-preso político Martin Almada, a Operação Condor continua em funcionamento.
O advogado e ex-prisioneiro político paraguaio Martín Almada apresentou os chamados arquivos do terror à Comissão de Direitos Humanos do Parlamento do Uruguai, onde sustenta que a operação repressiva continua em andamento no Cone Sul.
Entre os documentos entregues (...) à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, há declarações do uruguaio Gustavo Insaurralde, militante do Partido pela Vitória do Povo, que teriam sido obtidas sob tortura, além de informações sobre seu traslado em avião militar à Argentina.
O documento denuncia uma lista de 40 uruguaios detidos no Paraguai pela ditadura, além de outro documento que indicaria os nomes do co-fundadores da Operação Condor e dos possíveis 'vôos da morte' em ambos países.
Almada também diz ter encontrado documento que mostra que, em abril de 1997, 'um coronel paraguaio disse a um colega equatoriano: envio aqui uma lista de subversivos paraguaios para a elaboração de uma lista de subversivos da América Latina'.
O ativista denuncia também que, durante a presidência de Carlos Menem na Argentina, um grupo de militares esteve reunido em Bariloche para intercambiar dados e nomes de 'subversivos da região'.
Ele disse ainda que as reuniões também foram feitas em 1997, em Quito, capital do Equador, em 1999, em La Paz, capital da Bolívia, e em Santiago do Chile, em 2001...
A Operação Condor foi responsável por milhares de assassinatos e desaparecimentos de militantes revolucionários latino-americanos."
(Neusah Cerveira, doutora em História Social pela FFLCH/USP, no artigo
"Rumo à Operação Condor - ditadura, tortura e outros crimes", publicado
em junho/2009, na edição nº 38 do Projeto História, São Paulo)
3 comentários:
Oi, Celso,
Será que um dia, você poderia falar se o Wilson Simonal foi agente da ditadura. Alguns falam que sim, outros acham que não. Vc que viveu aquela época, o que acha ?
Certeza só existe sobre estes pontos:
1) o Simonal tinha amigos na repressão;
2) pediu a esses amigos que dessem uma prensa no contador que o estava lesando;
3) depois, quando enfrentava dificuldades no processo judicial decorrente, foram, ainda, esses amigos que alegaram ser ele informante da ditadura, como uma forma de pressionar o tribunal.
O certo é que informante dá informações. Quais eles deu? Ninguém sabe.
Podemos também supor que esses agentes gostassem de ter um artista famoso como amigo. Até porque, com isto, teriam acesso às macacas de auditório que rodeavam o Simonal.
E que, para agradar ao amigo, tenham batido no contador e depois providenciado uma informação falsa em Juízo.
Enfim, tanto o Simonal pode ter sido um grande fdp, quanto um mau caráter que recebeu castigo excessivo por uma pilantragem.
Em qualquer dos casos, deveria ter escolhido melhor suas amizades.
Valeu , obrigada pela resposta !!1
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