Unidos contra Battisti: de relator a presidente... |
As avaliações desencontradas que nos chegam das mais diversas fontes, a desinformação deliberada com que a mídia golpista tenta alavancar as posições reacionárias (mesmo pondo em risco a democracia brasileira) e a guerrilha judicial movida pelos dois ministros do Supremo Tribunal Federal que agem flagrantemente como quadros direitistas estão ensejando os piores temores nos cidadãos empenhados em evitar o linchamento do escritor italiano Cesare Battisti.
...e de presidente a relator, sempre os mesmos. |
"...demagogias, mentiras, ameaças, bravatas e buffonatas italianas à parte, permanece o fato de que a dupla reacionária do STF parece querer colocar o Supremo no papel de uma corte internacional que estivesse julgando uma pendência entre o Brasil e a Itália, e não como um Poder brasileiro obrigado a respeitar as decisões tecnicamente consistentes de outro Poder.
Francamente, acredito que ficará falando sozinha, com os demais ministros não a acompanhando nessa aventura insensata e potencialmente catastrófica para nossa democracia.
Mesmo assim, cabe a todos os cidadãos brasileiros avessos ao totalitarismo, imbuídos de espírito da justiça e ciosos da soberania nacional manterem-se alerta contra o linchamento de Battisti e vigilantes contra essa nova forma de golpismo que habita os sonhos da direita inconformada com a hegemonia petista: a ditadura judicial".
Nada do que ocorreu nos últimos dias me leva a mudar uma vírgula sequer do artigo Lula decidiu: Battisti fica! Continuo acreditando que Cezar Peluso e Gilmar Mendes não conseguirão atrair os demais ministros do STF para sua cruzada de esvaziamento do presidencialismo brasileiro, mediante a usurpação de seus poderes e prerrogativas; da última vez, foi exatamente aí que a britzkrieg de ambos empacou.
O que o presidente do STF está fazendo é ganhar tempo, para ver se as pressões italianas e o comportamento abjeto de alguns jornalistas brasileiros criam um cenário mais favorável à sua intenção de colocar de joelhos o Governo Federal, submetendo-o aos caprichos dos neofascistas europeus.
Há um clima de insanidade no ar, graças à perda dos últimos escrúpulos por parte da imprensa canalha.
De um lado, O Estado de S. Paulo arrasta na lama sua tradição centenária, ao estuprar a verdade num editorial em que afirma ter sido Cesare Battisti sempre um criminoso comum.
Nem o mais virulento linchador midiático, Mino Carta, ousou ir tão longe.
Fanático simpatizante do Partido Comunista Italiano, Mino tudo fez para queimar o arquivo vivo chamado Cesare Battisti, o escritor que estava trazendo à tona o papel infame assumido pelo PCI durante os anos de chumbo.
Foi quando os comunistas mancomunaram-se com a reacionária, corrupta e mafiosa Democracia Cristã para chegarem ao poder e o utilizaram da pior maneira possível, colocando-se na linha de frente da perseguição macartista à ultra-esquerda -- marcada pela introdução de leis caracteristicamente de exceção (como denunciou o grande Norberto Bobbio), orquestração de farsas judiciais e prática abrangente de torturas, mais fáceis de serem relegadas ao esquecimento porque lá os porões não tinham poder de vida e morte sobre as vítimas (daí sua dramaticidade ter sido menor...).
Obcecado em desacreditar o escritor e desobstruir os caminhos para que fosse despachado para a Itália e lá silenciado, Mino chegou até a encampar a infãmia inventada pela repressão italiana, de que Battisti seria um criminoso comum convertido à revolução no presídio.
Ou seja, falaciosamente apontou o ingresso de Cesare no grupo Proletários Armados pelo Comunismo como marco inicial do seu engajamento na esquerda, omitindo que era neto, filho e irmão de comunistas, tendo militado anteriormente na Juventude do PCI e nos grupos A Lotta Continua e Autonomia Operária.
Mas, até para não conflitar com as sentenças dos dois julgamentos italianos de Battisti, Mino não se atreveu a ir além disto.
O "ESTADÃO", NAS PEGADAS DE GOEBBELS
O Estadão, entretanto, não teve tais melindres, mentindo da forma mais descarada possível, a ponto de afirmar que Battisti teria estado escondido na França, e não protegido pela Lei Mitterrand das perseguições italianas, como tantos outros integrantes dos aproximadamente 500 grupos de ultraesquerda que, levados ao desespero pelo compromisso histórico, fizeram uma opção insensata, mas, inquestionavelmente, política.
E é chocante vermos as mentiras italianas repercutirem até nas seções de cartas dos jornais, com leitores lamentando a sorte de Alberto Torregiani, coitadinho, obrigado a assistir ainda menino ao assassinato do seu pai por Battisti... embora ele próprio já tenha admitido à Agência Ansa que Cesare não foi um dos executores de Pierluigi Torregiani, pois, supostamente, estaria participando do atentado contra um açougueiro numa localidade distante (vide aqui).
Trata-se, nada mais, nada menos, da célebre balela que o delator premiado Pietro Mutti impingiu aos promotores italianos e estes engoliram, até alguém menos relapso se dar ao trabalho de conferir datas, horários e mapas, constatando que era impossível Battisti estar presente no palco dessas duas ações quase simultâneas.
Mesmo assim, a acusação inicial de quatro assassinatos -- alterada, pateticamente, para autoria direta de três e autoria intelectual do quarto -- continua trombeteada até hoje pela imprensa brasileira, que jamais tem a compostura de mencionar este pequeno detalhe.
Assim como boa parte da mídia continua rotulando Battisti de terrorista, adjetivo que não encontra respaldo nas sentenças italianas (nelas só se fala em subversão contra o Estado) e, na pior das hipóteses, só se aplicaria a suas atividades até 1979.
Ou seja, um cidadão que abandonou as organizações armadas há três décadas e vive desde então em fuga, preso ou trabalhando honestamente, tendo constituído família e se projetado na literatura, é até hoje identificado com seu passado longínquo, num óbvio artifício para levar-se o público desinformado a supor que se trate de um Osama Bin Laden da vida!
UMA CERTEZA: O GOLPISMO SERÁ DETIDO
Errará, entretanto, quem admitir a hipótese de que o Governo Federal venha a ser intimidado pela instrumentalização midiática da verdade e pelas arrogantes ameaças italianas.
O Governo Dilma não poderá recuar um centímetro sequer neste caso... não só para manter-se coerente com seus compromissos democráticos, mas até por instinto de sobrevivência. Submeter-se à ditadura judicial seria ensejar o caos institucional, que naturalmente adubaria e potencializaria o golpismo.
Governos não se suicidam.
Nem são ingênuos Dilma Rousseff e os que a cercam: estão carecas de saber que há muito mais em jogo além do destino de um perseguido político que nem sequer teve militância importante, capaz de justificar tamanha obsessão revanchista por parte dos neofascistas.
Trata-se, desde o início, não só de uma testemunha de episódios que se quer varrer para baixo do tapete, mas também de um símbolo: o troféu que a direita quer exibir para tripudiar sobre os ideais de 1968.
E, como todo símbolo, Cesare foi assumindo diferentes significados para cada contingente humano, de acordo com a evolução dos acontecimentos.
Neste momento, p. ex., para os brasileiros dignos deste nome, a imediata libertação de Battisti está identificada com o equilíbrio de Poderes, a preservação da democracia e a soberania nacional.
4 comentários:
lo lamentable de esta historia, era que Battisti, como varios refugiados italianos en Francia, vivian normalmente pues habia un pacto de honor entre ellos y el Presidente Mitterrand, a condicion de no tener actividad politica, cosa que hicieron...hasta que un presidente rompió ese pacto de honor entre los refugiados italianos y la Francia, deciendo de extraditarlos a Italia!!! Huir, huelga de hambre... fueron las armas que eligieron... veremos "la suite" ....
ruthL
Ao que parece Battisti é perseguido como troféu não apenas pela direita italiana, mas também pela brasileira, que foi derrotada nas últimas eleições. Querem agora alguma vitória, ainda que seja rasgando a constituição através de instrumentos golpistas, como tem se revelado tanto uma parcela do STF, quanto a mídia dominada por poucas famílias.
O que a imprensa golpista divulga por todo canto, de maneira irresponsável - inclusive aqui em Minas - é que Lula libertou um criminoso comum, sem fazer qualquer esclarecimento acerca do personagem em questão e sobre os contextos que envolvem sua ação política e sua condenação na Itália, marcada por graves vícios de origem.
Mas, esta versão pró-direita dos fatos tem sido a marca da mídia como triste legado da Guerra Fria, do domínio do grande capital e da ideologia neofascista e neoliberal que resiste às mudanças e impertinências em curso no mundo.
Não acredito que a presidenta Dilma recue um milímetro sequer. Mas, existe o risco, citado por Celso Lungaretti, de alguns personagens do STF tentarem criar um clima de confronto, postergando a soltura de Battisti e até tomando decisões pró-governo da Itália, o que entraria em confronto com a decisão da Presidência da República. Eles jogam com a baixa repercussão do caso no dia-a-dia do país e com a manipulação midiática. Vejamos como será o desdobramento desta encenação.
Este STF está sim dando mostra de como agem desavergonhadamente. Não bastasse o fato de terem sido "humilhados" juridicamente pelas decisões da OEA, prolongam uma situação da qual sequer têm direito de opinar por ser do Executivo a atribuição de se conceder Refúgio e ainda, para envergonharem ainda mais a nação, ao ter de plantão um não menos desrespeitoso Sr. e não assumir um fato inquestionável - "o assunto não mais demanda qualquer ação do STF."
O STF brasileiro, em seu atual momento, reflete o que a maioria da população ja se manifestou em várias pesquisas de opinião. Decrépito, padece de justiça e de respeito e já não reage a razão e sim a emoção.Para estudantes de direito,novos advogados e jovens promotores de justiça postulantes de cargos no STF, não há laboratorio melhor do que o atual STF para estudar e desenvolver uma ou várias teses sobre mal procedimentos da justiça para corrigir essas distorções e promover reformas. Salvo as excessões, cobaias é que não faltam. Dois deles são relíquias e o tema é o caso Battisti.
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