sábado, 27 de novembro de 2010

MEDVEDEV LANÇA CAMPANHA PARA EXORCIZAR O FANTASMA DE STALIN

O pacto de não-agressão que Stalin firmou com Hitler 
garantiu à URSS algum tempo mais para se preparar 
antes de combater a Alemanha, mas deixou em cacos
a imagem da Revolução Soviética. Compensou?


Leio no Último Segundo que Medvedev deve lançar campanha para lembrar crimes de Stalin. Eis os principais trechos:
"O presidente russo, Dmitri Medvedev, lançará uma campanha de 'desestalinização' da Rússia, lembrando a população dos crimes cometidos pelo ditador soviético Josef Stalin...

(...) Medvedev debaterá o papel de Stalin na história russa em uma reunião marcada para janeiro com integrantes do Conselho de Direitos Humanos do Kremlin. O grupo elaborou um projeto de programa federal que tem como objetivo homenagear as vítimas da repressão stalinista.

O projeto inclui a abertura completa dos arquivos soviéticos, operações de buscas de pessoas mortas e a instalação de novos monumentos em homenagem às vítimas. Além disso, o Conselho pedirá que Medvedev faça uma 'abordagem política e jurídica dos crimes'.

(...) Nesta sexta-feira, a Câmara Baixa do Parlamento russo (Duma) aprovou em primeiro turno uma declaração que reconhece como o massacre de milhares de poloneses em Katyn, em 1940, como 'uma tragédia' ordenada por Stalin. 'Os documentos publicados, que permaneceram por muitos anos nos arquivos secretos, não apenas revelam a amplitude desta terrível tragédia, como são uma prova de que o crime de Katyn foi cometido por ordem pessoal de Stalin e de outros dirigentes soviéticos', afirma a declaração adotada.

'A responsabilidade desta matança foi atribuída na propaganda soviética aos criminosos nazistas, o que alimentou a revolta, a amargura e a desconfiança do povo polonês', completa o texto. O Parlamento russo manifesta sua 'profunda compaixão com todas as vítimas desta repressão injustificável, com suas famílias e amigos'.

Em 1940, após a invasão pela URSS de regiões do leste da Polônia, 22 mil oficiais poloneses prisioneiros do Exército Vermelho foram mortos nos bosques de Katyn e em Mednoia, na Rússia, assim como em Jarkiv, na Ucrânia. Durante décadas, a União Soviética acusou a Alemanha nazista de ter cometido os assassinatos. Apenas em abril de 1990 o líder soviético Mikhail Gorbachov reconheceu a responsabilidade do país no massacre".
Passar a limpo acontecimentos traumáticos como esses é bom para todos os países. A transparência ganhou enorme impulso a partir do advento da internet.

Em circunstâncias históricas terríveis, enfrentando inimigos poderosíssimos, Stalin optou por salvar seu "socialismo num só país" recorrendo a meios odiosos, alguns por sua brutalidade, outros por sua incompatibilidade com os valores marxistas:
  • coletivização forçada da agricultura, com a morte de milhões de camponeses;
  • imposição da ditadura do partido único, com a destruição das demais agremiações, começando pelas direitistas e centristas, mas depois atingindo também anarquistas, sociais-revolucionários e outras forças de esquerda;
  • adoção da mesma atitude intolerante no exterior, buscando sempre a destruição de partidos revolucionários divergentes e não a cooperação com eles (vide, p. ex., o papel importantíssimo que a beligerância em relação a anarquistas e trotskistas teve na derrota contra Franco);
  • imposição de uma tutela dos interesses soviéticos sobre os dos partidos comunistas de outros países, que eram sacrificados politica e até fisicamente às conveniências de Moscou;
  • imposição de regimes assemelhados em países que o Exército Vermelho ocupou ao final da II Guerra Mundial,  sem que a esquerda fosse neles a força política dominante (ou seja, a revolução foi exportada na ponta das baionetas soviéticas, ao invés de expressar a correlação de forças real nessas nações, daí as sucessivas tentativas de se livrarem do que consideravam uma  dominação estrangeira);
  • eliminação da velha guarda bolchevique nos grotescos julgamentos de Moscou e também no seio dos partidos comunistas espalhados pelo mundo.
Eu poderia ampliar esta relação, mas o fundamental está aí: entre as bandeiras materiais e espirituais de uma revolução, Stalin priorizou as primeiras em detrimento das segundas. Fez a economia soviética avançar aceleradamente para recuperar-se do considerável atraso a que o czarismo a relegou, mas suprimiu a liberdade, os direitos civis, a própria defesa dos trabalhadores contra as imposições daqueles que regiam seu trabalho.

Qualquer balanço que se faça de seu papel histórico deve levar também em conta ter sido a URSS que impediu a dominação nazifascista do mundo, ao impor a Hitler a derrota que mudou o rumo da II Guerra Mundial.

Mas, sem encararmos Stalin como um ogro, devemos fazer uma boa triagem do seu legado: parte só serve como referencial negativo.

Ações que jamais poderemos repetir, pois nos trouxeram descrédito, decepções e desencanto, ensejando uma associação entre revolução e totalitarismo que até hoje é o principal trunfo utilizado pela burguesia e por sua indústria cultural contra nós.

Um comentário:

Vieira disse...

Muito bom o texto! E boa visão dos acontecimentos.

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