sábado, 16 de outubro de 2010

O BOPE E OS MAUS BOFES

Quem é, afinal, o capitão Nascimento, herói de Tropa de Elite 1 e 2?

Algo que não existe na vida real: um brutamontes que mata, surra e tortura os vilãos por pretender fazer justiça segundo a lei da selva.

O Esquadrão da Morte dos  anos de chumbo  e os  justiceiros  de periferia (tipo Cabo Bruno) queriam projetar exatamente tal imagem.

Mas, logo se descobriu que o primeiro agia a soldo de um grande traficante, eliminando seus concorrentes; e que os segundos não passavam de matadores de aluguel contratados por comerciantes.

Resta um diretor oportunista que não hesita em apelar para os piores instintos das platéias, no afã de conseguir glória & grana.

Parafraseando a afirmação do Lula sobre o Brizola, pisaria até no pescoço da mãe para alavancar sua carreira...

E nem sequer é fascista por convicção. 

Mas, isto não o exime de estar contribuindo para a fascistização da sociedade, ao induzir os espectadores a considerarem válidos os assassinatos cometidos por fardados (ou seja, as mortes que eles não precisariam causar), a asfixia de  SUSPEITOS  (lembram? É o que são os ainda não condenados...), o espancamento de cidadãos (mesmo que sejam políticos corruptos), etc.


Para ganhar suas 30 moedas, José Padilha trai a Constituição brasileira, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Bíblia, os fundamentos da vida civilizada. Quer nos mandar de volta para as cavernas.

Nem sequer é original: repete a repugnante   mensagem  de filmecos produzidos por Hollywood durante a década reacionária de 1970 -- como os do Harry, o Sujo (Clint Eastwood) e os do arquiteto com  desejo de matar  Paul Kersey (Charles Bronson).

A diferença é que, mesmo quando obrigados a perpetrar filmes pra lá de discutíveis, Don Siegel e Michael Winner ainda mostravam alguns lampejos do seu indiscutível talento.

[P. ex., no Perseguidor Implacável de 1971, quando o detetive Harry Callahan vai pisar na perna ferida do sequestrador, para obrigá-lo a revelar o local onde sua vítima poderá morrer por falta de ar, Siegel distancia rapidamente a câmara, até as duas figuras se tornarem meros borrões na tela. Não justificou a tortura,  mesmo numa circunstância extrema. Tratou-a como algo repulsivo, que não merece ser visto por ninguém.]

A distância entre eles e Padilha é exatamente a mesma que separa Eastwood e Bronson de Wagner Moura.

Quilométrica.

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