sábado, 23 de outubro de 2010

DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU SEI DO EDSON/PELÉ

Edson ao lado de Médici, quando ainda 
ignorava que vivia sob uma ditadura...

Não sou de fazer média com leitores, nem nunca serei. Quem procurar meus espaços, vai encontrar sempre opiniões sinceras. As convenientes deixo para outros.

Então, o que tenho a dizer sobre o agora septuagenário Edson Arantes do Nascimento é: Pelé foi um gênio do esporte, o maior futebolista de todos os tempos, mas eu nunca quereria ter o Edson como amigo.

Foi, mais ou menos, o que comentou Muhammad Ali -- não só o maior boxeador de todos os tempos, como também o melhor cidadão que já lutou boxe.

Na época em que Ali perdia milhões de dólares para não servir como garoto-propaganda de uma guerra injusta e Edson/Pelé fechava os olhos ao arbítrio político e à discriminação social que incidia sobre os negros no Brasil, o pugilista disse algo tipo "um homem pode ser extraordinário esportista e isto basta, mas se ele for também um grande defensor de sua gente, aí sim será completo".

Insinuou que Edson/Pelé não era completo. E estava certo.

Jamais engolirei sua soberba exageradíssima, a ponto de, quando falava como Pelé e não como Edson, utilizar o plural majestático ("nós").

Despediu-se da Seleção Brasileira quando continuava em atividade no Santos, ainda como um grande jogador, embora não mais o melhor de todos.

Até aí, tudo bem. Era direito dele.

Mas, o que ele queria mesmo era sair por cima. Tirar a camisa  canarinha  como o campeão do Mundial de 1970 não como o talvez derrotado na Copa de 1974.

Prefiro, mil vezes, os Maradonas, que atendem ao apelo dos torcedores e vão, aos trancos e barrancos, tentar corresponder ao que deles se espera.

Mesmo assim, ter fechado os ouvidos ao clamor e às suplicas dos brasileiros, que tanto o queriam na Copa de 1974, ainda era direito dele.

O certo é que aquela geração de ouro estava nos estertores e a nova ainda não se afirmara. Fazia muita falta alguém como Pelé, com sua experiência e incomensurável prestígio futebolístico. Assustaria os adversários e daria confiança aos brasileiros.

Entretanto, já aposentado do Santos e do futebol profissional, Edson sucumbiu em 1975  ao pecado capital da ganância, não resistindo ao punhado de dólares que lhe ofereceram para ressuscitar o Pelé nos Estados Unidos.

Obviamente, esta decisão repercutiu muito mal entre nós.

Pelo Brasil e pelos brasileiros se recusara a atuar, com a desculpa de que já fizera seus jogos de despedida da Seleção e não poderia voltar atrás, caso contrário os torcedores que compareceram a tais partidas festivas teriam sido iludidos.

Mas, tentado pelo vil metal, não hesitou em dar um bico na aposentadoria, lixando-se para quem prestigiou suas exibições finais pelo Santos.

Pior ainda foi a nova desculpa que ele inventou, já que o prazo de validade da anterior se esgotara: teria evitado jogar por uma ditadura.

Ora, no auge da bestialidade, 1970, sob Médici, nada disso lhe importou.

Nem nunca manifestara o menor interesse pelos que eram barbaramente torturados e pelos que eram covardemente assassinados.

De repente, quando o pior já havia passado (não porque os déspotas houvessem se regenerado, mas por não existirem mais contingentes expressivos de resistentes para eles barbarizarem), teria o Edson/Pelé sido atingido por escrúpulos tardios? Me engana que eu gosto.

Aí, sim, fiquei p. da vida com ele. Que inventasse outro pretexto, pois uma luta tão trágica como a nossa jamais deveria servir como argumento falacioso para ninguém.

Encarei então, e continuo encarando agora, como uma total falta de respeito por quem sacrificou  o que tinha de mais precioso por colocar seus ideais acima de tudo.

Pior ainda partindo de alguém que colocava sua egolatria acima de tudo.

Então, algumas efemérides do Pelé ainda merecem ser comemoradas pelos brasileiros conscientes -- exceto, claro, as que se referirem a 1975/77, quando jogou pelo timeco dos EUA.

Já as do Edson, como este 70º aniversário, não nos dizem respeito.

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com vc sobre Pelé e sua "egolatria". E acrescento algo que é pouco veiculado: o Pelé canalha com mulheres, desde a mãe de sua filha que não queria reconhecer, até outros casos de aproveitamento e abuso. Nem sempre o herói (esportivo e cultuado) é exemplo na vida pessoal!

Frau BUP disse...

Desde que o cara se recusou a reconhecer sua filha que posteriormente morreu de câncer sem ter recebido nem uma visita do pai, para mim já era, fora os motivos que vc. citou aqui que eu não sabia, nasci em 70. Abraço Celso.

luiz carlos disse...

Se escreverem sobre o Edson será que o mito Pelé sobrevive incólume?
Os cartolas do Santos que acompanharam sua trajetória poderão responder muito bem a tal questão.
Celso, Parabéns pela seriedade das matérias

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