terça-feira, 31 de agosto de 2010

VENDIDO COMO LEBRE, O NOVO 'KARATE KID' MIA...

Para a indústria cultural, do boi só se perde o berro.

Então, qualquer música pode ser regravada, qualquer filme refeito, qualquer peça remontada, mesmo que o resultado seja desastroso.

Quando eu escutei pela primeira vez "Don't Le Me Be Misunderstood" interpretada por uma bandinha discothèque chamada Santa Esmeralda, não acreditei: além de medíocres, esses caras não tinham o menor simancol?!

Por que evidenciarem sua insignificância, expondo-se a um confronto com Eric Burdon e Joe Cocker, que lhes eram estratosfericamente superiores? O punhado de dólares terá compensado o ridículo artístico?

E que dizer dos patéticos remakes de fitas como Matar ou Morrer, Jesus Christ Superstar e Psicose?! Não se davam conta, os perpetradores dessas bobagens, que se tratava de obras emblemáticas dos períodos históricos correspondentes e deles inseparáveis?

P. ex., afora ser um filmaço, o High Noon de 1952 se constituiu num ato de coragem de Fred Zinneman, equipe e atores, irmanados num altaneiro repúdio ao macartismo.

Quando a caça às bruxas grassava nos EUA, eles ousaram responder com uma história de simbolismo transparente: a cidade que amava seu xerife Will Kane, abandona-o covardemente quando ele está prestes a ser desafiado pela gangue de Frank Miller, assim como Hollywood estava covardemente abandonando seus ídolos à sanha do bando de Joseph McCarthy e Richard Nixon.

Hair, vira e mexe, volta aos palcos. Mas, depois da  geração das flores, é só mais uma peça.

Quando da primeira encenação, muito mais do que uma peça, era o manifesto de um novo tempo: daquela arrebatadora primavera que, infelizmente, não se consolidaria, pois o sistema tudo fez para trazer de volta o inverno de nossa desesperança.

Estas elocubrações me ocorreram ao ler uma entrevista do cineasta Harald Zwart, tentando convencer o distinto público de que o novo Karate Kid seja algo além de um caça-níqueis.

Em vão. E até caça-níqueis há melhores.

Zwart conseguiu o prodígio de, com a tecnologia moderna e orçamento muito superior, nem chegar perto do  simpático  divertissement de 1984.

Porque, como diretor, ele é mesmo muito inferior a John G. Avildsen (nada além de um artesão, mas com aquele bom gosto e bom senso básicos que hoje andam tão em falta).

Porque havia química entre Ralph Macchio e Pat Morita, inexistente na dupla Jaden Smith-Jackie Chan.

Porque Ralph Macchio tinha carisma e o o filho de Will Smith, previsivelmente, nenhum.

Porque Pat Morita era mesmo idoso como o papel exigia, enquanto Jackie Chan, além de não sê-lo, jamais consegue disfarçar sua inadequação ao personagem.

Porque ambientar a história no Japão foi idéia de jerico; melhor ficaria em Hong Kong, como outras muambas de lojas de 1 real.

Porque o duelo final faz lembrar aqueles bangue-bangues em que os colts disparam 50 tiros sem serem recarregados: como um lutador com a perna seriamente lesionada conseguiria tomar impulso para a execução de um salto acrobático?

De resto, sabem por que me dei ao trabalho de detonar esse filmeco?

Porque não há mais críticos de cinema com conhecimentos e independência para o fazerem.

Os que passam por sê-lo, estão quase todos acumpliciados com a indústria cultural, ajudando a impingir gato por lebre.

Que falta faz um Rubem Biáfora!!!

2 comentários:

Juliana Maciel disse...

Miaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaauuuuuuuuuuuu!!!
Passando por aki pra fazer um afago no meu bichano...

Roberto de SP disse...

Acabei de ver o belo filme High Noon. Mais uma bela dica de cinema que consegui no seu blog.

Gostei demais do filme. Não há nenhuma solução fantasiosa no enredo no sentido de redimir a covardia dos acomodados de todos os tempos.

Que bofetada para todos os medrosos e medíocres.

Ainda bem que vc conseguiu livrar o blog daquele alerta de malware que ficou por aqui por duas semanas.

Não conseguia mais nem acessar.

abraço

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