quarta-feira, 11 de agosto de 2010

RECADO AOS PANFLETÁRIOS AFOBADINHOS

Até a semana passada, a grande imprensa fazia suas vítimas... digo, seu público acreditar que a eleição presidencial estava sendo disputada apenas por Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva.

Veio o debate da Band e se constatou que um único candidato expressava em alto e bom som o que realmente sentia... e era logo o estranho no ninho, Plínio de Arruda Sampaio!

Os três favoritos repetiam, como papagaios, o que marqueteiros tinham martelado em suas cabeças.

O sisudo Serra esforçava-se por sorrir, como lhe recomendaram. Ficou parecendo um bobo alegre... hipocondríaco.

A enérgica Dilma quis projetar a imagem de uma gerente confiável... e foi só o que conseguiu. De presidente, o que vai muito além das miudezas administrativas, nem a pau, Juvenal...

Marina foi o samba de uma nota só (ecológica) de sempre.

Plínio, que é, disparado, o melhor dos três em termos intelectuais, deitou e rolou.

Detonou-os com suas ironias ferinas, além de mostrar o que um candidato de esquerda tem a obrigação de ser: coerente com seus ideais de uma vida inteira.

Face à insofismável vitória do Plínio no debate, a mídia acordou para a realidade de que ele estava sendo extremamente injustiçado na cobertura eleitoral.

E começou, timidamente, a oferecer-lhe algum espaço.

Foi o bastante para alguns propagandistas de Dilma se apavorarem, atribuindo ao PIG a maquiavélica intenção de inflar nanicos para evitar uma decisão no 1º turno.

Em suma, querem forçar o voto útil já em outubro.

Em troca, o que nos dá Dilma?

Ela acaba de negar Marx três vezes, ao retirar do seu programa as propostas de controle social da mídia, de taxação das grandes fortunas e de redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

O que sobrou não passa de placebo, a que nenhum verdadeiro homem de esquerda pode aderir enquanto houver alternativa melhor.

Somos revolucionários: face a um leque de opções, escolhemos a que realmente nos expressa, priorizando o ideário positivo ao invés de apenas rejeitarmos o negativo.

Só quando essas opções se reduzem a duas, faz sentido optarmos pelo mal menor.

Então, estaremos traindo a nós mesmos se, no 1º turno, não votarmos em Plínio, ou Ivan Pinheiro (PCB), ou Rui Pimenta (PCO), ou Zé Maria (PSTU).

Assim como estaremos traindo a nós mesmos se, ocorrendo 2º turno e o candidato demo-tucano dele participando, não votarmos contra ele.

As sucessivas identificações de Serra com as teses das viúvas da ditadura fazem dele o presidenciável mais inaceitável para os eleitores progressistas, dentre os que têm chance de êxito.

Se, como tudo indica, ele disputar o 2º turno com a Dilma, teremos de apoiá-la, apesar das decepções que seus recuos nos têm causado e de outras que ainda estejam por vir.

Mas, aos panfletários afobadinhos, devo lembrar: devagar com o andor, pois o Plínio, o Ivan, o Rui e o Zé Maria merecem respeito.

7 comentários:

Lucas Secanechia disse...

Celso, eu faço coro a suas críticas em relação a esse abrir mão de causas e diretrizes, até mesmo quando se trata de posições pessoais que são externadas em público (essa passagem de Dilma do agnoticismo para o catolicismo), entretanto eu trago aqui mais uma ladainha que você já deve ter ouvido, o candidato Plínio (que merece respeito e admiração em alguns aspectos) não tem pela frente uma expectativa real de poder, de maneira que seus discursos possam vir no formato que lhe convir, e na política, não é possível a nota de uma só pessoa. Meu voto é em Dilma Rousseff, mesmo eu sabendo de suas amarras, creio que caberá a mobilização popular exigir as reformas necessárias e lhe dar as bases delas.

Anônimo disse...

Celso,
concordo em gênero, número e grau; com a única ressalva que também não é inteligente a pulverização do voto da esquerda em três candidaturas (o PCO é sectário demais). Na lista de decepções provocadas pelas declarações de Dilma, listaria mais uma: a defesa da entrega dos serviços de saúde a ONGs "filantrópicas" marca do tucanato de São Paulo. Esse dispositivo tem precarizado a mão de obras nessas lugares além de servir para politicagens e até atentando contra a laicidade do Estado (há serviços de sáude mental mantidos por entidades evangélicas que tratam esquizofrenia com exorcismos).

Naty disse...

Desculpa Celso, mas eu não quero arriscar e deixa o Serra ganhar no 1° turno...meu voto é na Dilma.

bLOgDoRiLdO disse...

Celso, sou seu leitor assíduo. Gosto da maneira como escreve e como nos revela seu pensamento. Penso que Plínio, assim como Marina, Rui, Ivan e Zé Maria, todos merecem respeito. Entretanto, quando você vai à um debate, com uma proposta utópica, que foge muito da realidade encontrada nas instituições de poder, e passa a criticar determinadas candidaturas, dando argumentos para que a direita use-os em benefícios próprios, o "esquerda" faz o papel que a direita precisa.

Fui da Convergência Socialista (que deu origem ao PSTU). Votei no Plínio num PED (Processo de Eleição Direta do PT) para presidente do partido, mas não comungo de suas ideias e penso, com o respeito que ele merece, que neste momento ele contribui para o retrocesso, para o pós-neoliberalismo do PSDEMB.

Haroldo Mourão Cunha / São Gonçalo / RJ. disse...

Lucas, disse tudo e mais um pouco. Que os outros candidatos merecem respeito é chover no molhado, mas que politicamente não possuem nehnuma perspectivas reais de poder. Não podemos esticar a corda, pois ela sempre arrebenta do lado mais fraco. Celso, tenho uma enorme admiração pelo que você e sua geração (que anterior à minha) representou e tudo que possuimos hoje, essa nossa insipiente democracia. Não dá para dizermos que tal coisa nunca funcionará, ela não é o certo, e coisa e tal, temos é que lutar, com o que temos, para que se faça funcionar. Murro em ponta de faca já se sabe no que vai dar.

Anônimo disse...

Olá Celso.Assisti ao debate da Band, e o mais estranho que vi neste episódio é justamente o pós debate.Esta estória de dizer quem foi melhor ou pior está virando piada pra mim.E estou falando sério.Reflita comigo:quem vai votar no Serra acha que ele foi o melhor, que desbancou a Dilma e até deu uma canjinha pro Plínio.Quem vai votar na Dilma acha que ela foi espetacular contornando a imagem de poste que lhe emprestaram mas não coube né?A esquerda radical achou que o Plínio é que teve discurso(Deus me livre...."o cara quer dar uma de Robim Wood tirando dos ricos para dar aos pobres.....este sim deu medo....e não estou dando uma de apavoradinho não meu......o discurso do Plínio, na minha opinião não chega nem a ser utópico, é totalmente fora de contexto com um Brasil que está começando a crescer.Ainda estamos engatinhando no voto.Um dia ainda aprenderemos a lição.
Ass. Maurício - Santos - SP(Voto Dilma)

Ricardo disse...

Celso, alguns desses blogueiros reclamam, e não sem razão, da ditadura do PIG. Porém, quando querem com seu clamor de voto útil no primeiro turno excluir as demais candidaturas, cometem os mesmo pecados da grande mídia. O que estão fazendo é o empobrecimento do debate, pasteurizando a campanha eleitoral. Plínio tem uma trajetória sensacional e é tratado como se fosse um nome tirado da cartola. É o que mais me revolta. Na eleição para governador em 2006 já havia dado uma "goleada" nos outros candidatos nos debates. Também não aceito a tese vendida tanto pela mídia quanto pelos panfleteiros de Dilma que as propostas de Plínio seriam inviáveis. Limitação de terras para 1000 hectares ainda é um teto alto se pensarmos em outras sociedades (consideradas inclusive modelo de capitalismo como a Coréia que limitou em 3 hectares). E a redução da jornada de trabalho é imperiosa, visto que a hora trabalhada no Brasil é tremendamente desvalorizada.
Viva a verdadeira esquerda!

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