quinta-feira, 8 de julho de 2010

A INSUPERÁVEL LEVEZA DO SER

Dunga garantiu aos brasileiros que um Mundial se conquista com suor, lágrimas e o sangue dos adversários.

Impôs semanas seguidas de reclusão a marmanjos, como se fossem garotinhos de internato.

Tudo em nome do resultado, o qual, segundo ele, é a única coisa que importa.

Pois bem, qual foi o resultado?

O exército de soldadinhos de chumbo do Dunga entrou em pânico e sofreu eliminação vexatória.
Os que têm verdadeira têmpera de guerreiros chegaram às semifinais.

Mas, na final só estão selecionados felizes, para quem futebol é festa e espetáculo.

No vestiário, espanhóis comemoram com música (terá sido flamenco?) o feito de terem barrado o IV Reich.

"Não passarão!", disse La Pasionaria. "Não passaram!", disse Puyol.

E o técnico holandês, às vésperas da finalíssima, libera todos os jogadores para desanuviarem durante dois dias, que ninguém é de ferro.

Os carrancudos morreram na praia.

Os alegres estão no topo do mundo.

Mãe África sabe o que faz.

8 comentários:

Frau BUP disse...

Lungaretti, concordo geralmente com quase tudo que vc. escreve. Mas dessa vez chamou a Alemanha de IV Reich, minha filha nasceu na Alemanha, de pai alemão, que entre outras preocupações sociais, largou a boa vida na Alemanha depois que terminou o colegial para ser voluntário do MST no Brasil, não para bancar o herói, mas pq acredita em justiça social, e como ele, há muitos "nazistas" do IV Reich aqui que tb. pensam como ele. Meu marido ama o Brasil e é aqui que escolhemos viver e criar nossa filha, a despeito de todos os problemas que enfretamos.

Os garotos da seleção alemã deram duro, era uma seleção que todos desdenhavam, que não tinham a menor credibilidade, nem com o povo nem com a mídia alemâ e no entanto, foram longe muito longe. Os garotos de cara fechada choraram feito criança porque perderam, o técnico, com pragmatismo, que os espanhóis venceram porque mereceram, jogaram melhor, natural o resultado, mas nem por isso deixou de valorizar seus meninos, demonstrou amor e carinho, dizendo que eles eram muito jovens e que aquela expêriencia na Copa valeria muito no futuro.

Por favor, não coloque todos na mesma panela, não é justo e beira a preconceito.

Carlos Lungarzo disse...

Meu caro Celso:
Como você sabe que não acontece o contrário? Ou seja, que os espanhóis não representam o franquismo, em vez da Pasionária, e que os alemães não estão mais próximos de Rosa Luxenburg que de Hitler? (Bincadeira)
Realção entre esportes e política é complicada. Seleções claramente progressistas eu me lembro de duas: a de Suécia em todas suas épocas, e a de Holanda na Copa de Buenos Aires, quando fizeram um ato de repúdio a ditadura.
Quanto a Puyol, a grande probabilidade que seja progressista, porque na Catalunya a esquerda é grande maioria. Mas, e os outros...?
Abraços
Carlos

Roberto SP disse...

Isso!

Tripudia, tripudia!

rsrsrrs

celsolungaretti disse...

Ludmila,

dentro do próprio espírito do post, tente ver as coisas com mais leveza. Linguagem poética não é algo para ser tomado tão ao pé da letra.

O duplo sentido da frase vem, de um lado, da heróica resistência espanhola ao golpe do Franco.

Aqueles militares fascistas, egressos de guerras coloniais, eram muito mais poderosos do que os trabalhadores que os conseguiram deter, evitando que a tomada de poder fosse um simples passeio.

Da mesma forma, o selecionado alemão, a partir das goleadas aplicadas na Austrália, Inglaterra e Argentina, parecia impossível de ser vencido. É claro que a frase da Dolores Ibarruri me ocorreria, tinha tudo a ver (para alguém com a minha sensibilidade).

E, como a Alemanha já tem três Mundiais e tentava conquistar o quarto, isso me inspirou a brincadeira sobre o IV Reich.

Mas, não nego que essa eficiência extrema dos alemães nas partidas em que saíram na frente tinha algo de desumano; pareciam jogadas de xadrez, não de futebol.

Para alguém tão familiarizado com a história do século passado como eu, fazia mesmo lembrar as blitzkriegs da Wehrmacht no início da 2ª Guerra Mundial.

celsolungaretti disse...

Carlos,

a alma desse selecionado espanhol é o time do Barcelona, provavelmente o mais identificado com nossos ideais e nossa sensibilidade de homens de esquerda em todo o planeta.

Recomendo a leitura do magnífico artigo do Sócrates sobre o clube e a cidade, que citei aqui: http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2010/04/socrates-bom-de-bola-de-bisturi-e-de.html

Um abração!

celsolungaretti disse...

Ludmila,

vale acrescentar, também, que o nazismo não foi propriamente uma aberração histórica: o fuhrer tinha mesmo o apoio e a devoção da grande maioria dos alemães.

É um povo que tem essa tendência de prostrar-se resignada/fervorosamente a líderes messiânicos e autoritários, como o cineasta Werner Herzog mostrou em seu clássico "Aguirre, a Cólera dos Deuses".

Da mesma forma, não eximo os estadunidenses comuns dos pecados de Bush e Obama.

Abs.

Anônimo disse...

Pois é:
E como estamos vendo acontecer, a Seleção de Dunga perdeu. Mas perdeu tão somente para o campeão ou o vice-campeão!
É sempre bom esperar as coisas acontecerem até o final para que possamos fazer uma análise mais cerebral.
De qualquer modo quero deixar bem claro que estou com Dunga e não abro: se não for por nada, nada, acho que a cidadania brasileira deve a Dunga o desmascaramento dos privilégios da Globo frente aos outros veículos de comunicação. Afinal, porque só os globelezas podiam adentrar o quarto dos jogadores? Por que não a Rádio Difusora de Cafarnaúm de Dentro também não?

V I V A D U N G A!

Nelio Schneider disse...

Ué, de repente o selecionado holandês que (neste ano) está jogando um "futebol burocrático" e não sei mais o quê virou um selecionado "feliz", tipo um bando de rapazes alegres soltos pelas ruas... E o selecionado que mostrou o futebol mais leve e descontraído de toda a copa, digamos, o jogo mais próximo daquilo que o do Brasil deveria ser, que bateu brincando os ingleses e os argentinos, que, por sua vez, jogaram alegres e dispostos como sul-americanos devem jogar, esse selecionado "germânico" acabou sendo eliminado por um time por quem ninguém botaria a mão no fogo..., mas que agora é um selecionado feliz que joga como sul-americanos, mormente os brasileiros, deveriam jogar. Onde é que foi parar a "lógica"? A Holanda será campeã (por seus próprios méritos e bastante sorte contra o Brasil, e pelo retrospecto histórico de sua contribuição para o futebol mundial) e o Brasil "só" terá perdido para o time campeão.

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