Diretor de obras-primas como Perfume de Mulher (a distância entre o original italiano e a refilmagem estadunidense é a mesma que existe entre o genial Vittorio Gassman e o correto Al Pacino), Risi foi mestre das comédias impregnadas de críticas sociais e visão compassiva da realidade.
Aliás, o Perfume de Mulher de 1974 contém um dos maiores momentos de um ator que vi em toda a vida: é simplesmente de arrepiar a metamorfose do militar cego quando, abalado por haver descumprido o pacto de suicídio com o amigo, não consegue mais manter a postura agressiva que utilizava como defesa.
Não dá sequer para imaginarmos um ator que expressasse a desorientação e fragilidade do personagem com a mesma dignidade de Gassman.
Assim como não nos vem à cabeça ninguém melhor do que Marlon Brando para transmitir a profunda repulsa pela desumanidade que inspira a frase "o horror, o horror!", em Apocalypse Now; ou outro que não Gregory Peck fazendo as alegações finais da defesa do negro injustiçado em O Sol É Para Todos.
Foi também Gassman quem interpretou o repulsivo empresário de Esse Crime Chamado Justiça, 1971. É investigado por um procurador honesto (Ugo Tognazzi), por suspeita de haver assassinado a amante.
No curso do inquérito, vêm à tona sucessivos casos de pessoas destruídas pelo empresário, com sua ganância e insensibilidade predatórias.
Finalmente, quando tudo aponta para sua culpa, cai nas mãos do procurador uma carta que comprova não ter havido crime, mas sim suicídio.
Então, depois de haver seguido fielmente as regras durante toda a sua carreira, o funcionário decide fazer a verdadeira justiça: suprime a prova, para que, por linhas tortas, seja punido um cidadão extremamente nocivo a seus semelhantes.
Este filme, com sua tese controversa, veio-me à lembrança ao ler que quatro aposentados alemães, na faixa de 63 a 79 anos, sequestraram e mantiveram em cativeiro durante quatro dias o consultor de negócios que os induziu a um investimento desastroso.
Forçaram-no a assinar uma confissão de culpa, comprometendo-se a repor as perdas.
Presos, estão sendo agora julgados. E a polícia investiga se o consultor cometeu abuso de confiança.
Caso houvesse verdadeira justiça, os idosos cumpririam uma pequena sentença de prisão domiciliar, pouco penosa para quem tem sua idade; e o consultor seria atirado numa masmorra por uns dez anos.
Mas, claro, não é isto que acontecerá.
4 comentários:
Caro senhor(a), Io sonno un vecchio, naão sei muito bem valer-me do computador, salvo como máquina-de-escrever mais dsofisticada, para traduções eventuais e correspondência.
Doutra parte, ando, louco, atrás de "Esse crime chamado Justiça", ao qual assisti há muitpissimos anos. Não sou especialista em cinema italiano, embora já o tenha visto e revisto muito, inclusive Zurlini. Coleciono filmes francese, franco-canadenses e do Leste europeu.
No aguardo da reposta do senhor(a),
Subscrevo-me,
Osmar Z. G. Portugal FH
Sr. Osmar,
sendo um jovem de 60 anos, recebi com muita simpatia sua mensagem.
Eu também não tenho e estou atrás desse filme, que assisti nos anos 70. Parece-me não ter sido lançado no Brasil em DVD. E não o encontrei para download.
Se o sr. souber baixar da internet, pode solicitá-lo a um ótimo blogue de cinema aí mesmo de Portugal: http://myonethousandmovies.blogspot.com/
O blogueiro é muito gentil e tentará atender seu pedido.
Também gosto muito de filmes franceses (das décadas de 1960 e 1970, principalmente) e franco-canadenses ("Jonas, que terá 25 anos no ano 2000" é extraordinário!).
Um abração!
Celso Lungaretti, do Brasil
Caro Celso
Eu também gostaria muito de conseguir o filme "Esse crime chamado justiça", lançado sim no Brasil com esse título.
Tem uma dica para mim de como consegui-lo?
obrigada
Lina
w1g2@uol.com.br
Lina,
você está com sorte. Há três meses disponibilizaram um torrent com o download do filme + legendas em inglês, francês e espanhol:
https://kickass.to/in-nome-del-popolo-italiano-in-the-name-of-the-italian-people-1971-dvdrip-x264-ita-multisubs-brshnkv-t9957964.html
Abs.
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