"Sometimes I feel so uninspired
Sometimes I feel like giving up
Sometimes I feel so very tired
Sometimes I feel like I've had enough"
(Steve Winwood)
Sometimes I feel like giving up
Sometimes I feel so very tired
Sometimes I feel like I've had enough"
(Steve Winwood)
Quando lancei este blogue, prometi colocar texto novo todo dia, ao contrário do mais antigo, Celso Lungaretti - O Rebate, que servia apenas para armazenar os um ou dois artigos por mim escritos a cada semana.
Mas, parafraseando o poeta armorial Marcus Accioly, há ocasiões em que meu fogo não se acende de repente: passo os olhos por um mundaréu de notícias e nada me anima.
Hoje, p. ex., eu poderia defender o Programa Nacional de Direitos Humanos do ataque concentrado que os reacionários lhe estão movendo.
É ministro da Agricultura reclamando de um lado, donos de empresas de comunicação do outro, militantes contra o aborto fazendo os habituais discursos inflamados com o habitual apoio da Igreja Católica, partidos de oposição tentando surfar nessa onda. Uma banda de música grotesca, mas eficaz.
Enquanto o problema era só com os comandantes das três Armas e seu ancião de recados, dava pra encararmos. Na argumentação, vencemos fácil o primeiro round.
Só que nossas ponderações consistentes ficam restritas à internet e o inimigo martela sua propaganda enganosa dia e noite na cabeça dos espectadores, ouvintes e leitores da indústria cultural.
Mesmo assim, o resultado era incerto, com boa chance de pender para nosso lado.
O quadro mudou drasticamente nesta 5ª feira (7), quando o império contra-atacou, Jornal Nacional à frente.
A orquestração, como sempre, foi óbvia: o inimigo nem se preocupa mais com o fato de que suas maquinações dão na vista.
E, de um momento para outro, a guerra ficou bem adversa para nós. Lutarmos em todas essas frentes ao mesmo tempo é péssima estratégia. Não sabemos nem por onde começar.
O que essa gente quer é o aval do Lula para retalhar e desfigurar todo o PNDH, inclusive a importantíssima instituição da Comissão Nacional da Verdade.
Se eu estivesse no lugar do Paulo Vanucchi, nem tentaria resistir a esse rolo compressor. Abriria mão de algumas medidas, para retirar do campo de batalha parte dessas forças (algumas não passam de adversárias circunstanciais, as outras são inimigas figadais).
E fincaria pé na manutenção das que realmente importam -- até porque a alternativa é a derrota total.
* * *
Eu poderia também falar sobre o julgamento, neste sábado (9), de sete membros da minoria Baha'i, no Irã. A Anistia Internacional conclama o mundo a reagir contra sua provável condenação à morte, por perseguição religiosa que não ousa dizer seu nome.
São acusados de crimes tão díspares que basta sua citação para constatarmos o caráter farsesco: "corrupção", "espionagem para Israel", "propaganda contra o sistema", "insulto a santuários religiosos" e por aí vai.
É odioso? É. Revoltante? É. Inaceitável? É.
Só não consigo imaginar como nossos protestos e assinaturas vão impedir que ocorra uma terrível injustiça lá do outro lado do mundo.
Nem no caso de Honduras, bem menos distante, nossa mobilização virtual adiantou.
Tínhamos a razão ao nosso lado. Já os golpistas tinham a força... dos EUA, que manobraram descaradamente nos bastidores para produzir o resultado mais adequado ao seu propósito de barrar Chávez.
* * *
Eu detesto imaginar-me como provedor de catarses. Luto para levar as causas à vitória, não para poder dizer depois que fiz o possível, mas não havia como evitar a derrota.
Talvez fosse o caso de não dispersarmos tanto o foco. Elegermos as lutas em que temos reais possibilidades de influir no resultado final e as travarmos com muito mais empenho.
De imediato, vejo duas: a confirmação do direito de Cesare Battisti a viver em liberdade no Brasil e a concretização, sem nenhuma concessão aos militares, da Comissão da Verdade.
São enfrentamentos claros e inequívocos entre esquerda e direita, num ano em que a eleição presidencial marcha para uma polarização entre esquerda e direita.
A derrota numa dessas frentes, ou em ambas, será simplesmente catastrófica para nós, pavimentando o caminho para a tomada do Planalto pelos reacionários. Quem viver, verá.
* * *
Seria chover no molhado repetir eu também que a permanência de José Roberto Arruda no governo do Distrito Federal é uma piada de mau gosto e um achincalhe à nossa democracia
Mas, trata-se do mesmíssimo caso da permanência de José Sarney como presidente do Senado. Quem compactuou com aquela esculhambação, está sendo obrigado a engolir também esta.
Canso de dizer: a rua é sempre de duas mãos.
E de citar o ensinamento bíblico: "Seja o vosso falar sim, sim; não, não. Pois o que passar disto, virá do Maligno." (Mateus 5:37)
* * *
"Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu", disse o poeta Chico Buarque.
Por força do hábito, meio no piloto automático, consegui mais uma vez preencher este espaço.
Sinto-me como um veterano mantido na ativa porque ainda não existe para quem passar o bastão.
Nós - minha geração - não engendramos uma esquerda apta a responder aos desafios do século 21. Então, ainda temos de fazer por merecer o repouso do guerreiro. Nossa missão não foi cumprida.
É cansativo estar aos 59 anos tentando levar a pedra para o topo da montanha, depois de tantas vezes tê-la visto despencar pelo outro lado.
Só que nada mais me resta fazer.
Calar diante das injustiças, nunca! Compactuar com a desumanidade, jamais! Aceitar o putrefato capitalismo globalizado que aí está como o ponto final da aventura humana, nem pensar!
Já que andei citando músicas, aqui vai mais uma, do Geraldo Vandré, para encerrar esta reflexão melancólica de dia chuvoso:
"Quanto mais eu ando,
mais vejo estrada.
E se eu não caminho,
não sou é nada.
Se tenho a poeira,
como companheira,
faço da poeira
o meu camarada."
7 comentários:
Parabéns, ótimo texto, ótima análise.
1- Também tenho ficado pasmo diante do comportamento da Globo que, é claro, só coloca um ponto de vista, o da senadora Kátia Abreu, conhecida escravocrata e portanto contra o PNDH,,,também os berros de Jair Bolsonaro tem vez na Globo,,,já a opinião contrária nem pensar, mesmo se sabendo que o PNDH não foi criado em gabinete e sim fruto de discussão de todos os setores interessados, que se reuniram numa conferência nacional, de onde sairam o projeto.
Prá que Conferência Nacional então se o que vale é a opiniã da Globo, o rolo compressor da elite.
Imagina só então o que vai acontecer quando vier o projeto que brotou da Confecon, sobre as comunicações.
2- Também acho que, apesar da Conferência ter abordado diversos pontos, inclusive os direitos dos homossexuais, no momento o governo deveria ter centrado suas forças apenas na punição aos assassinos torturadores da ditadura militar, que até agora não prestaram contas dos seus crimes contra a humanidade, por sinal imprescritíveis, conforme acordos internacionais assinados pelo Brasil.
3- Será que seremos um país avançado com este tipo de monopólio da informação e da fala?
ps
O Nassif abriu um debate em seu blog sobre o PNDB, segue link
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/01/08/discutindo-o-pndh/
Prezado Celso,
A propósito da intensificação da propaganda reacionária a partir da última quinta-feira, dia 7, contra o PNDH, em epecial contra a Comissão Nacional da Verdade, tenho a testemunhar o seguinte: na madrugada de quinta, no jornal do SBT, o José Nêumane Pinto justificou a tortura contra os que resistiram em armas à ditadura pela simples suposição de que os resistentes pretendiam instaurar uma ditadura de esquerda que, mais cedo ou mais tarde, passaria também a cometer as mesmas barbaridades que vinham combatendo. Seria, então, segundo o, vá lá, jornalista JNP, uma punição preventiva, baseada em pressupostos plausíveis.
Essa barbaridade, proferida àquela hora, não chegou a me chocar, pois daquele senhor tudo pode se esperar. Intrigou-me apenas a virulência e vileza do ataque, que, agora, após a leitura deste seu artigo, pude entender onde se encaixa.
Permita-me, agora, opinar sobre dois temas:
1. Penso que após a déblâque do socialismo soviético e as decepções que se seguiram no campo das esquerdas, o pensamento de esquerda se dispersou em lutas e causas comezinhas, comportamentais, que seriam subsidiárias a uma verdadeira e radical transformação social. Na melhor das hipóteses, eram questões referentes à superestrutura do statu quo. De má fé, poderia dizer que o recuo foi pura covardia, mas reconheço que o rolo compressor econômico e midiático foi monstruoso. Houve cooptações importantes, traições, desinformação e, o pior dos mundos, a falta de formação revolucionária. "Não há revolução sem pensamento revolucionário". Acho que não se pode, não se deve, atuar em muitas frentes, sob pena de não se conseguir nem o essencial que se pretende. Mas essa estratégia caiu em desuso, quer-se resolver todos os problemas numa tacada só e nada se resolve; o movimento não se produz quando não se indentificam as oposições dialéticas;
2. E essa dispersão reproduziu-se no PNDH. Agora, enfrenta-se uma oposição gigantesca, aglutinada por vários temas, e perde-se o foco da questão essencial, que é o acerto de contas com o passado para se construir o futuro. "Quem quer tudo não quer nada." Apesar das experiências de fracasso, parece-me ue o núcleo de esquerda não aprendeu. Ou, então, há sabotagens ao Programa e, da forma como foi posto na mesa, teve o destino da reporovação antecipado.
Grato por sua atenção,
Marco Rocio
Rio de Janeiro
Opa,isso só mostra que existe sim uma direita eletista no Brasil composta por suas diversas classes históricas.
Elite urbana,lantifundio(hoje agronegocio),politicos reacionários pro EUA e capitalismo,midia manopolizadora e empresas capitalistas nacionais e internacionais.
...
Muito bom o post...
O que é pior para um guerrilheiro: Morrer em combate ou envelhecer em combate?
O recado que o porta voz da direita Fernado Mitre deu em seu comentário no Jornal da Band não teve nada de blefe, ou coisa que desmereça a credibilidade!
"Lula está brincando com seus 83 porcento de popularidade!" Vão pagar para ver? eu não pagaria!
Este blogue, pela sua pertinência, vem se firmando como formador de uma opinião libertária. Imagino que aqui se possa ainda dar mais força à luta pela libertação de Cesare Battisti, chamando a atenção dos visitantes para o inexplicável descaso com um importante instrumento de pressão: o abaixo-assinado impulsionado, entre outros, pelo jornalista Carlos Lungarzo: http://www.petitiononline.com/btstlng/petition.html. Até a presente data, menos de 2,8 mil assinaturas constavam dele, parecendo mais da metade (não contei) de origem não brasileira. Por mais reduzida que esteja a esquerda, convenhamos que esse número é um escracho, que só ajuda Lula a empurrar com a barriga a concessão do asilo. Minha proposta é que o blogue tenha uma espécie de contador atualizado diariamente, que obrigue a cada qual a se mobilizar para assinar e convencer outros.
Saudações,
Luiz Henrique Cunha
Desanimo. Que tal comentar o ultimo artigo do Carlos Lungarzo sobre o caso Battisti. Sisifo. Nao parece o Lungaretti que conheco dos textos e das lutas.
Flavio Jacopetti
Companheiros,
só seres humanos compreendem e sensibilizam-se com as aflições de outros seres humanos.
Tenho travado sem esmorecimento as batalhas dos últimos anos, mesmo em ocasiões que estava com problemas de saúde, pessoais ou familiares. A luta veio sempre em primeiro lugar.
Mas, isto não significa que eu seja um homem de ferro nos moldes stalinistas. Nem quero que me vejam assim.
Então, não vejo motivo nenhum para esconder de ninguém que, como qualquer ser humano, também tenho momentos de desânimo -- principalmente quando vejo esforços mal direcionados ensejando contra-ataques avassaladores dos inimigos.
Não se iludam com pesquisas de opinião e resultados eleitorais: o poder real é o econômico, e este, claro, pertence ao inimigo.
Travamos nossa luta em situação de aguda inferioridade de forças, mesmo com Lula na Presidência. Quem não percebe isto, não entende nada de política.
Se já não bastasse termos o poder econômico e a indústria cultural contra nós, ainda damos de mão beijada trunfos aos inimigos com nossos erros!
Foi isto que que tentei transmitir, numa linguagem cifrada, para não vulnerabilizar ainda mais quem já está vulnerabilizado.
E, claro, não quis guardar só comigo meu desapontamento, pois quem age assim acaba com úlceras.
Se fosse um texto para distribuição ampla, talvez não me permitisse ser tão sincero. Mas, eu o escrevi para ficar retrito a este blogue, como uma conversa entre amigos e companheiros de luta.
De resto, aprecio imensamente os esforços do Lungarzo para manter o Caso Battisti em evidência.
Ele me complementa, ao criar artigos intemporais, a partir de sua experiência acadêmica.
Já o meu pique é outro, de jornalista e de militante: respondo às evoluções concretas dessa luta, aos desdobramentos, aos novos acontecimentos. Reajo ao fogo inimigo. Tento levar nossas forças para o campo de batalha.
Como o caso permanecerá em compasso de espera até que o STF publique seu acórdão, eu teria dificuldade para encontrar, nesta fase de marasmo, novos "ganchos" para artigos, depois de já haver escrito mais de 100 desde novembro/2008.
Como o Lungarzo vem cumprindo otimamente esse papel, avalio que o espaço está preenchido.
E há novas iniciativas em gestação. Oportunamente, vocês saberão.
Quanto à petition on line, depende mais de vocês do que do Lungarzo e de mim.
A nossa parte já fizemos, lançando-o (vale registrar que os créditos principais são do Lungarzo, que teve a idéia e a implementou, com uma pequena força minha no texto de apresentação e na divulgação).
Um forte abraço a todos!
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