Segundo os enviados especiais a Honduras, a proposta que o governo golpista de Honduras levará hoje à reunião com os chanceleres da Organização dos Estados Americanos é, basicamente, a seguinte:
1) Manuel Zelaya permaneceria na embaixada brasileira até dezembro;
2) as eleições seriam realizadas sob supervisão internacional;
3) três dias depois, já com seu sucessor definido, Zelaya sairia da embaixada para reassumir o poder;
4) haveria uma anistia para ambos os lados.
Se o acordo acabar indo nesta direção, só o mal maior será evitado: a perpetuação da ditadura, que, assim, terá durado apenas alguns meses.
O golpe conseguiria lograr um de seus principais objetivos, impedir que Zelaya exerça influência marcante no processo eleitoral.
Sob a alegação de que Zelaya pretendia distorcer as eleições com sua consulta popular, os golpistas distorceriam as eleições ao manter o presidente constitucional de castigo até que as urnas se fechassem.
Pois, se as leis hondurenhas vedam a reeleição, também não estabelecem o afastamento do presidente durante o processo eleitoral.
Numa avaliação realista, Zelaya não pode exigir muito porque a resistência popular foi insuficiente para impor o respeito ao seu mandato.
Tentou levantar o povo uma vez, com sua carreata até a fronteira hondurenha, mas teve de retroceder diante do dispositivo militar golpista.
Tentou levantar o povo uma segunda vez, ao colocar-se sob a proteção da embaixada brasileira, mas a esperada deposição dos golpistas não aconteceu.
Quanto à OEA, produzirá o que dela se pode esperar: uma decisão nem lá nem cá. Panos quentes.
Se estivesse no lugar de Zelaya, eu fincaria pé no direito de participar da campanha eleitoral livremente, nas ruas e nas praças (que, já dizia Castro Alves, são o reduto do povo, como o céu é do condor). Pois é exatamente isto que os golpistas mais estão tentando evitar.
A restituição do poder poderá até ficar para depois, caso não haja maneira nenhuma de impô-la aos golpistas.
Mas, mantido à parte da disputa eleitoral, já fora do foco principal do noticiário (por haver tido sua situação definida pelo acordo), Zelaya virará carta fora do baralho. O que lhe tentam impor é, praticamente, um suicídio político.
E, como os golpistas pretextam ter agido em defesa da democracia, uma exigência dessas calaria sua boca. O que há de mais democrático do que se deixar para as urnas o veredicto de Zelaya? Pela votação daquele por quem o presidente legítimo fizer campanha, será possível aferir-se, de uma vez por todas, se tem ou não o apoio da cidadania.
Complementarmente, Zelaya deveria negociar a restituição imediata de seu mandato constitucional, seguida de um pedido de licença.
Ou seja, ficar com a imagem de um presidente licenciado por decisão própria, não de um presidente punitivamente afastado até dezembro. Em política, tais detalhes, aparentemente retóricos, jamais devem ser negligenciados.
Aguardemos os próximos e emocionantes capítulos.
1) Manuel Zelaya permaneceria na embaixada brasileira até dezembro;
2) as eleições seriam realizadas sob supervisão internacional;
3) três dias depois, já com seu sucessor definido, Zelaya sairia da embaixada para reassumir o poder;
4) haveria uma anistia para ambos os lados.
Se o acordo acabar indo nesta direção, só o mal maior será evitado: a perpetuação da ditadura, que, assim, terá durado apenas alguns meses.
O golpe conseguiria lograr um de seus principais objetivos, impedir que Zelaya exerça influência marcante no processo eleitoral.
Sob a alegação de que Zelaya pretendia distorcer as eleições com sua consulta popular, os golpistas distorceriam as eleições ao manter o presidente constitucional de castigo até que as urnas se fechassem.
Pois, se as leis hondurenhas vedam a reeleição, também não estabelecem o afastamento do presidente durante o processo eleitoral.
Numa avaliação realista, Zelaya não pode exigir muito porque a resistência popular foi insuficiente para impor o respeito ao seu mandato.
Tentou levantar o povo uma vez, com sua carreata até a fronteira hondurenha, mas teve de retroceder diante do dispositivo militar golpista.
Tentou levantar o povo uma segunda vez, ao colocar-se sob a proteção da embaixada brasileira, mas a esperada deposição dos golpistas não aconteceu.
Quanto à OEA, produzirá o que dela se pode esperar: uma decisão nem lá nem cá. Panos quentes.
Se estivesse no lugar de Zelaya, eu fincaria pé no direito de participar da campanha eleitoral livremente, nas ruas e nas praças (que, já dizia Castro Alves, são o reduto do povo, como o céu é do condor). Pois é exatamente isto que os golpistas mais estão tentando evitar.
A restituição do poder poderá até ficar para depois, caso não haja maneira nenhuma de impô-la aos golpistas.
Mas, mantido à parte da disputa eleitoral, já fora do foco principal do noticiário (por haver tido sua situação definida pelo acordo), Zelaya virará carta fora do baralho. O que lhe tentam impor é, praticamente, um suicídio político.
E, como os golpistas pretextam ter agido em defesa da democracia, uma exigência dessas calaria sua boca. O que há de mais democrático do que se deixar para as urnas o veredicto de Zelaya? Pela votação daquele por quem o presidente legítimo fizer campanha, será possível aferir-se, de uma vez por todas, se tem ou não o apoio da cidadania.
Complementarmente, Zelaya deveria negociar a restituição imediata de seu mandato constitucional, seguida de um pedido de licença.
Ou seja, ficar com a imagem de um presidente licenciado por decisão própria, não de um presidente punitivamente afastado até dezembro. Em política, tais detalhes, aparentemente retóricos, jamais devem ser negligenciados.
Aguardemos os próximos e emocionantes capítulos.
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