"Congresso Nacional, se gradear vira zoológico, se murar vira presídio, se cobrir com lona vira circo, se botar lanterna vermelha vira puteiro e se der a descarga não sobra ninguém".
A frase está na seção deste sábado do humorista José Simão, na Folha de S. Paulo.
Cautelosamente, ele a colocou entre aspas, antecedida de um "E olha a revolta das pessoas", dois pontos.
Pouco importa se a ouviu ou a criou. Num país sério, ela lhe acarretaria sérios problemas. Aqui, os parlamentares tornaram tão deplorável a imagem do Legislativo que qualquer punição seria descabida.
É o que o colunista Fernando Rodrigues explicou admiravelmente na mesma edição da Folha:
Na verdade, os três Poderes da República foram esvaziados. No lugar deles, manda e desmanda o poder econômico.
No que realmente importa, o grande capital tem a seu serviço o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Para que o povo não perceba a nudez do rei, deixa-lhes alguma autonomia para decidirem o secundário e o irrelevante.
Então, não há motivo para espanto quando o Congresso é comparado a zoológico, presídio, circo, puteiro ou latrina.
Pior ainda é a situação da imprensa, antes referida como o quarto poder. Virou mera caixa de ressonância dos interesses burgueses.
Já deixou até de exigir qualificação dos seus profissionais. Qualquer cozinheiro hoje equivale a um jornalista, conforme a frase inesquecível de Gilmar Mendes (nós sempre a teremos em mente quando estivermos escrevendo sobre ele!).
Daí minha tese de que o sistema não tem mais salvação.
Quem busca poder dentro do stablishment para depois tentar voltá-lo contra ele (como, de maneiras diferentes, fizeram Lula e Chávez), ou é cooptado ou acaba enveredando pelo autoritarismo.
É claro que dará muito mais trabalho se nos propusermos a obter consenso na sociedade, fora do sistema e contra o sistema, para a realização das mudanças que se fazem cada dia mais necessárias -- e talvez sejam a única tábua de salvação face às ameaças que a ganância capitalista coloca para a própria sobrevivência da humanidade, começando pelas alterações climáticas.
Mas, se o caminho é longo, temos de começar a trilhá-lo o quanto antes, ao invés de desperdiçarmos nosso tempo insistindo em práticas cuja validade expirou no século passado, como o caudilhismo.
A frase está na seção deste sábado do humorista José Simão, na Folha de S. Paulo.
Cautelosamente, ele a colocou entre aspas, antecedida de um "E olha a revolta das pessoas", dois pontos.
Pouco importa se a ouviu ou a criou. Num país sério, ela lhe acarretaria sérios problemas. Aqui, os parlamentares tornaram tão deplorável a imagem do Legislativo que qualquer punição seria descabida.
É o que o colunista Fernando Rodrigues explicou admiravelmente na mesma edição da Folha:
Embora o foco agora seja o Senado, não custa lembrar das estripulias na Câmara. Lá, já está tudo abafado. Usou-se até parecer jurídico pago com dinheiro público na absolvição do deputado que levou a namorada ao exterior.Faltou dizer que os políticos só se avacalharam dessa forma por se terem tornado supérfluos e decorativos.
Essa impunidade generalizada parece ter conexão com o momento pelo qual passa o país. A economia não foi para o buraco. Milhões de brasileiros recebem o Bolsa Família. A sensação de bem-estar produzida leva os cidadãos a pensar mais no próximo crediário nas Casas Bahia e menos em protestar contra a canalhice na política.
Num país miserável, não é surpresa a barriga vir na frente da ética e da moral quando se trata de escolher entre ganhar a vida e preocupar-se com políticos indecentes.
Na verdade, os três Poderes da República foram esvaziados. No lugar deles, manda e desmanda o poder econômico.
No que realmente importa, o grande capital tem a seu serviço o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Para que o povo não perceba a nudez do rei, deixa-lhes alguma autonomia para decidirem o secundário e o irrelevante.
Então, não há motivo para espanto quando o Congresso é comparado a zoológico, presídio, circo, puteiro ou latrina.
Pior ainda é a situação da imprensa, antes referida como o quarto poder. Virou mera caixa de ressonância dos interesses burgueses.
Já deixou até de exigir qualificação dos seus profissionais. Qualquer cozinheiro hoje equivale a um jornalista, conforme a frase inesquecível de Gilmar Mendes (nós sempre a teremos em mente quando estivermos escrevendo sobre ele!).
Daí minha tese de que o sistema não tem mais salvação.
Quem busca poder dentro do stablishment para depois tentar voltá-lo contra ele (como, de maneiras diferentes, fizeram Lula e Chávez), ou é cooptado ou acaba enveredando pelo autoritarismo.
É claro que dará muito mais trabalho se nos propusermos a obter consenso na sociedade, fora do sistema e contra o sistema, para a realização das mudanças que se fazem cada dia mais necessárias -- e talvez sejam a única tábua de salvação face às ameaças que a ganância capitalista coloca para a própria sobrevivência da humanidade, começando pelas alterações climáticas.
Mas, se o caminho é longo, temos de começar a trilhá-lo o quanto antes, ao invés de desperdiçarmos nosso tempo insistindo em práticas cuja validade expirou no século passado, como o caudilhismo.
7 comentários:
Celso, você está confundido o Estado com o "stabilishment", ou que seja o Estado com "sistema" no sentido de "sistema de domínio do poder econômico sobre todo o resto".
Estamos em um Esado Democrático de Direito. Toda mudança necessária para a construção de uma Sociedade mais humana, justa, solidária e menos desigual se dará pelo Poder Público, portanto pelo Estado. Aliás, a formalização dessas metas está na Constituição Federal, a Lei Máxima de nosso Estado. Não adianta querer desmontar o Estado com o intuito de implantar um "sistema sem sistema", anarquista ou o que for.
Chávez não é nenhum salvador da América Latina. Ele erra, talvez erre bastante. Mas é muito infantil condena-lo por exercer autoridade, principalmente sendo essa autoridade dentro do Estado de Direito. Aliás, como esquerdista eu digo que o que há de mais chato na maioria dos esquerdistas é esse problema com autoridade, essa confusão entre autoridade e autoritarismo. O Nihilismo esquerdista, essa vontade de desmontar tudo, de apagar todas as bases do tal "sistema" porque não há mais salvação é idêntico ao nihilismo da neo-direita midiática dos jovens "conectados", ou seja, os papagaios de Marcelo Tas. "Não reeleja ninguém", "política é bandidagem pura", eles dizem se achando o máximo por esse dadaísmo ideológico de quinta, sempre se esquecendo de que não há nada de errado na política. O que há de errado são os políticos e a mídia para a qual os midiáticos do século XXI trabalha. Igualmente, a vontade de apagar a figura do SISTEMA (ô palavrinha que dói no coração da esquerda) e a negação do Estado em detrimento de um outro modelo de sociedade, ou seja lá o que for, é conveniente aos interesses dos grandes grupos economicamente poderosos, pois a falta de "sistema" é justamente a maior aspiração dos conglomerados "neobananeiros".
A imposição, pela autoridade estatal, das ferramentas estatais de distribuição de riquezas e de garantia das liberdades individuais e dos Direitos Humanos é o grande meio de se construir a sociedade idealizada na própria base do nosso Estado, ou seja, na Constituição Federal, principalmente nos seis primeiros artigos. Em um país como o Brasil, grande, rico, mas de uma herança colonial e sectária, a autoridade do atual Estado, que nasceu em Outubro de 1988 (deixo bem claro que o Estado anterior a esse era terrorista e ilegítimo), é a parte legítima para contrariar o poder dos latifundiários de vários ramos - mídia, agricultura, indústria, etc.
Curioso, Celso, um cara como você, que lutou contra a ditadura, citar como exemplar essa tentativa risível do Fernando Rodrigues de colocar a culpa pelo descalabro no Congresso no governo Lula.
Pois você, como poucos, sabe que o descalabro no Congresso sempre existiu, e que a única diferença do atual momento é que, por interesses políticos, ele está vindo à tona como, com o perdão do bordão, nunca antes neste país.
Outra diferença é que antes a situação do povo estava muito pior do que está agora - e não me refiro apenas às consequências do Bolsa-Família, embora estas não possam ser descartadas assim, sem mais nem menos,como os colunistas da Folha roteineiramente o fazem. Mas à cultura, educação, acesso à informação, etc..
QUe você faça restrições ao reformismo "por cima" de Lula é uma posição que eu compreendo e respeito. Agora, por conta dessa posição, corroborar essa tentativa infame de culpabilizar o atual governo por conta de uma situação estrutural, é algo que eu sinceramente não esperava ler em seu blog.
Caetano,
continuo fiel à visão inicial de Marx sobre o Estado, que era quase igual a dos anarquistas: o Estado teria de ser suprimido junto com o capitalismo, com a "administração das pessoas" cedendo à "administração das coisas".
Essa visão foi retomada pelos neo-anarquistas de 1968, o último grande avanço da teoria revolucionária em nossa época. O sistema, ou stablishment, é apenas outro nome para o Estado burguês ("democrático de Direito", uma ova!
É muito mais oligárquico de direita...).
E é desse marco que, no meu entender, começará a nova maré revolucionária.
Quanto ao autoritarismo, condena-nos a só ser aceitos em países periféricos, ao contrário do que Marx acertadamente colocava: os países mais prósperos são aqueles que regem os destinos da humanidade. São esses que precisamos conquistar. E, nesses, os métodos caudilhescos de Chávez são recebidos com absoluto desprezo.
Abs.
Maurício,
é exatamente por ter lutado contra a ditadura que repudio a colocação de um partido dito de esquerda a reboque dos interesses do grande capital.
A lição do governo Lula é de que um revolucionário não consegue mudar a sociedade por dentro da estrutura de poder burguês. Pelo contrário, acaba sendo mudado por ele.
Ou, em português claro, aburguesa-se, é cooptado.
O PT, infelizmente, repetiu a trajetória do PTB getulista, do PMDB e do PSDB: começou na esquerda e "endireitou" dia a dia. Já está no centro, enquanto o PSDB chegou à centro-direita e o PTB e o PMDB, à lata de lixo.
Abs.
Celso,
Tendo a concordar com o Caetano e o Maurício.
Aliás, sua colocação sobre quem 'rege o destino da humanidade' me soa bastante problemática, como um complexo de inferioridade, de 'vira-lata'. Sem contar a aceitação de tipos como Berlusconi na 'próspera' Europa como contra-exemplo.
Um abraço,
Luis Henrique
Um adendo, Celso:
Quanto ao Estado 'democrático de Direito' ser na verdade 'plutocrático da direita, concordo inteiramente contigo.
Mas o niilismo à la Marcelo Tas é de fato perigoso, disso ao neo-fascismo é um passo. Você mesmo disse anteriormente, o combate à corrupção é bandeira da direita.
Um abraço,
Luis Henrique
Marcelo Tas? Quem é?
Quanto à colocação do Marx, era de que os países que mais desenvolveram suas forças produtivas acabam por sempre liderar os retardatários.
Então, p. ex., os EUA derrotaram a URSS ao darem um novo salto cientifico-tecnológico, com a informática, a biotecnologia, novos materiais, novos processos, etc., na década de 1980.
Até então, a União Soviética ainda conseguia equilibrar um pouco a correlação de poder mundial. A nova arrrancada dos EUA fez a diferença.
Desde as jornadas do final dos anos 60 e início dos 70, não temos mais uma proposta revolucionária atrativa para os países-líderes da economia mundial.
Pelo contrário, deixamos que a revolução ficasse identificada com o autoritarismo e o atraso, facilitando o serviço para os propagandistas do sistema.
Temos de virar esse jogo. Por enquanto, estamos perdendo de goleada.
Abs.
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