terça-feira, 30 de junho de 2009

MICHAEL JACKSON (1958-2009): DO BOI SÓ SE PERDE O BERRO

Do boi só se perde o berro, diziam os antigos. Foi o que me veio à cabeça ao assistir à overdose de Michael Jackson em jornais, revistas, rádios e tevês.

A mesma indústria cultural que deu projeção exageradíssima a quem tinha talento, é verdade, mas nunca foi um revolucionário da música como os Beatles; que tanto glamourizou suas esquisitices de adulto malresolvido, como se fosse desejável que quarentões se comportassem à maneira de impúberes; que foi de uma crueldade ímpar ao expor o que me pareceu ser mais uma atração platônica pelos jovens do que pedofilia propriamente dita (ou seja, ele continuaria estacionado na sexualidade infantil, impotente para chegar às vias de fato); e que o relegou ao ostracismo quando sua imagem se tornou politicamente incorreta - agora transforma sua morte num repulsivo espetáculo de canonização midiática.

Nunca apreciei a música do Jacksons 5, nem a que ele fez depois na sua carreira-solo. Comercial demais para o meu gosto de rockeiro apegado às origens bluesísticas.

Ademais, os malditos videoclips, de quem Jackson foi o rei, marcam a retomada do controle por parte da indústria cultural, depois de ter sido obrigada a submeter-se à explosão roqueira durante alguns anos gloriosos, entre o final dos '60 e o início dos '70.

Nunca esquecerei de Joe Cocker, depois de um animado passeio por São Paulo, entrando diretamente no palco, com a roupa que vestia. Para arrasar, com sua entrega incondicional à música.

Nunca esquecerei da temporada do Cream em que os fulgurantes improvisos de Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker faziam com que, noite após noite, os números tivessem duração diferente.

Nunca esquecerei de Jimi Hendrix, com sua beleza selvagem, implodindo o hino estadunidense em Woodstock.

Os clips dos anos 70 significaram a substituição do talento bruto pela produção onerosa, da paixão pelo ensaio, da arte pelo espetáculo. E Michael Jackson acabou simbolizando essa domesticação.

Mas, seu destino como ser humano vitimado por essa engrenagem perversa sempre me inspirou compaixão. É triste vermos como um menino bonito, simpático e espontâneo, após receber o toque de Sadim (Midas às avessas) do sistema, tornou-se um adulto descaracterizado e sofredor.

Até sua cor quis negar, ao invés de orgulhar-se dela como o grande Muhammad Ali. Acabou ficando com imagem idêntica à dos vampiros mutantes de um clássico do terror, A Última Esperança da Terra (d. Boris Sagal, 1971), como se castigado pelos deuses.

Foi sugado, espremido e jogado fora. Aí a comoção causada por sua morte deu chance a um reaproveitamento do bagaço, para faturarem mais um pouquinho.

A indústria cultural é um dos componentes mais doentios e malignos do capitalismo putrefato. Casos como o de Michael Jackson dão uma dimensão total de sua capacidade de destruir seres humanos para saciar a curiosidade mórbida de seus públicos, movida pelo amoralismo do lucro.

10 comentários:

Anônimo disse...

Magistral análise desse menino-zumbi. Pensei em colocar alguma nota no meu blog, mas desisti ao ler este texto, ele diz absolutamente tudo que eu teria querido escrever.

Embora não apreciasse o gênero musical do falecido, admirei o seu talento de quando era negro. Mas "Michael Jackson" morreu quando deixou de ser negro (na aparência e no espírito), o que morreu agora foi só o corpo de um zumbi, que a mídia continua a devorar... Pobre menino, que descanse em paz!

yasmin

Naty disse...

Celso, gosto muito das coisas que escreves, mas dessa vez acho que tu está extremamente equivocado e não precisava ter falado nada disso.

Michael Jackson não foi revolucionário? combinar música negra, transforma-la em pop em todas as áreas da música tanto para negros quanto brancos, combinar música e dança como ninguém e principalmente os video clipes que são SIM, verdadeiras obras de arte, isso não é revolucionar? só um lembrete, os anos 60 não foram os únicos que tiveram revoluções, chega a ser ridículo essa prepotência de achar que só o que aconteceu nos anos 50, 60 no máximo é revolução.

Realmente não foi um dos seus melhores posts.

Anônimo disse...

tambem acho que voce está completamente equivocado!!!Michael Jackson era,e sempre será o melhor!!!

megazeh disse...

Você não conhece nada de música, tenho certeza que não ouviu os trabalhos mais polêmicos de Michael
Ele não foi somente o melhor musico de todos os tempos, ele derrubou barreiras nas diversas áreas inclusive barreiras políticas com suas músicas disseminadas de ideologias e críticas necessárias num período em que muitos escolhem fazer vistas grossas as incoerências ele ousou dizer a verdade
Por isso era perseguido, por isso a idéia dos que não conhecem é errônea.
Você está olhando para Michael que mídia criou.
Vai escutar algumas musicas, ver algumas entrevistas, ler reportagens sérias que você vai ver que ele foi de verdade

Muidinga disse...

Ao ler, em algum momento achei que terias argumentos racionais e originais. sinceramente falando perdeste a soberba oportunidade de nao comentar. Jackson foi o homem que quebrou barreiras atraves do seu talento inquestionavel, a musica feita por este homem quebrara barreiras do tempo atraves do seu conteudo e riqueza ritmica. leia mais e sja original.

Anônimo disse...

santa ignorância por favor veja oiça e informe-se sobre a obra musical deste GÉNIO esqueça a vida pessoal que como todos sabemos tem tanto de realidade como de fictício deixemos sua alma descansar em paz ouçamos e regozijemo-nos com a sua obra Milhões de cópias vendidas não é para todos reconsidere a sua opinião.

ivanir disse...

Doi em mim saber, que pessoas tão maldosas ainda, tentem denegrir um dos gênios so seculo.
Tanta asneira, escrita com ares de intelecto.
Michael Jackson, era a Arte Viva nesse planeta.
Pena que ixistam pessoas como vc, que jamais vão compreender, um gênio como foi Michael Jackson.

Anônimo disse...

Sua análise está mais para o ESTÚPIDO do que o ESTUPENDO. Concordo que os Beatles , Hendrix e Clapton foram estupendos, mas é completamente estúpido não reconhecer o talentos dos irmãos Jacksons e, principalmente, talvez por ouvidos moucos e olhar míope não apreciar a belíssima voz, as primorosas composições e os surpreendentes passos de dança do genial Michel Jackson. A vida pessoal, nada admirável concordo, é outra coisa, mas não enxergar a genialidade Michel Jackson é estupidez. Talvez daqui há mil anos surja outro igual. Você cometeu uma injustiça com a arte!!!!!!!!

celsolungaretti disse...

Um texto de mais de um ano atrás de repente começa a receber comentários, um atrás do outro.

Será que a moçada pensa que sou tão tolo a ponto de não perceber que é uma ação concertada de fã-clube?

Como diria o grande Arnaldo Dias Baptista:
"'cê tá pensando que eu sou loki, bicho?
Sou malandro velho, não tenho nada com isso"

Anônimo disse...

Não faço parte de nenhum fã-clube e acessei porque achei que encontraria algo interessante.Gosto do Michael, das suas músicas, da sua genialidade e do seu "coração" lindo. Ele era solitário, triste e cercado de canalhas.Foi um menino grande, dono do sorriso mais lindo do mundo.justiça para todos os seus assassinos. Marta

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