sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

JORNALÕES ADMITEM: BANCOS AGEM COMO RAPINANTES NA CRISE

A atual crise cíclica do capitalismo, a mais grave desde a de 1929, já provocou um quase milagre: irmanou os dois principais jornais paulistas, a Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, nas críticas ao nível exorbitante, escandaloso, que a agiotagem bancária atingiu.

A Folha (editorial A batalha do "spread", 06/02) admite que, no momento em que todos deveriam colaborar para que o pior fosse evitado, os bancos trataram é de acumular ainda mais banha, aumentando o chamado spread, que é a diferença entre o que eles pagam para quem lhes empresta dinheiro e o que eles cobram dos que lhes tomam empréstimos (a melhor tradução para esta prática repulsiva e parasitária é ágio bancário).

Diz a Folha que os bancos comerciais "aumentaram os 'spreads' em meio ao estrangulamento do crédito, quando as autoridades agiam no sentido contrário", disponibilizando dinheiro barato para as instituições financeiras, a fim de que houvesse crédito para irrigar a produção e o consumo.

Antes tarde do que nunca, a Folha admite: "...é inegável o peso da oligopolização bancária, que resulta em déficit crônico de competição, nessa equação dos juros altos".

Ou seja, a culpa pelos juros altíssimos praticados no Brasil não é só do Banco Central, dos impostos elevados, da inadimplência excessiva, etc., como alegam os bancos, mas sim da ganância desmedida dos próprios bancos, dos "estrondosos lucros que auferem, chova ou faça sol, as grandes casas bancárias brasileiras".

Não menos incisivo é o Estadão, no editorial Spread alto demais (06/02).

Depois de informar que "uma das causas apontadas pelo Banco Central (BC) para a elevação dos juros ou sua manutenção em níveis altíssimos é o aumento do spread, que propicia o aumento do lucro dos bancos, apesar da crise", o jornal opina ser isto mesmo o que está ocorrendo:

"Apesar das medidas tomadas pelo governo para reduzir os custos bancários, o crédito, além de escasso, está ainda mais caro do que já era. (...) Os gastos da indústria com o pagamento mensal de juros aumentaram 17% no último trimestre de 2008, na comparação com o custo médio dos nove primeiros meses do ano. Normalmente, os gastos com juros são inferiores à folha mensal de salários (sem os encargos). De janeiro a setembro, para cada R$ 100 da folha, a indústria gastou R$ 95 com juros. Nos três últimos meses do ano, para o mesmo gasto com pessoal, a indústria pagou R$ 111 de juros".

Evidência maior de que os bancos são sanguessugas não existe: o patamar dos juros superou o da própria folha salarial das indústrias!

Até a Federação Brasileira de Bancos teria falhado ao tentar rebater as acusações do Banco Central, segundo o Estadão: "Na tentativa de contestar o BC, a Febraban divulgou um estudo técnico cujos resultados, embora divirjam numericamente dos apresentados pelo governo, confirmam que o spread é muito alto e aumentou nos últimos meses, e que medidas de alívio para os bancos tomadas pelo governo não resultaram na queda dos juros para o tomador do empréstimo".

Quem é flagrado praticando a rapina durante uma guerra acaba diante do pelotão de fuzilamento. Pena que, mesmo numa situação de emergência como a atual, esta regra não se aplique aos bancos rapinantes, pois clama aos céus que estão merecendo punições severas!

3 comentários:

Marcos A. Rondineli disse...

Celso, você disse tudo. Resumiu a história.
"Depois de informar que "uma das causas apontadas pelo Banco Central (BC) para a elevação dos juros ou sua manutenção em níveis altíssimos é o aumento do spread, que propicia o aumento do lucro dos bancos, apesar da crise", o jornal opina ser isto mesmo o que está ocorrendo:"
Aqui vc mostra onde mente (não creio que digam a verdade sobre ser mesmo o aumento do spread a causa real do aumento dos juros... isso é só matemáticamente correto... aumenta o número aumenta a taxa) o Banco Central, sem comentar que suspeitas que a corrupção seja a verdadeira causa. Creio que possas pensar assim como eu, afinal notório é que ela existe.
Seguindo conclues:
"Evidência maior de que os bancos são sanguessugas não existe: o patamar dos juros superou o da própria folha salarial das indústrias!"
Aqui penso que os bancos são copartícepes ... não tiremos da mente que a causa do juro alto é a corrupção ... minha hipótese favorita ... aumentando os spreads, aumentando as taxas, eles lucram mais.
Então, sem querer acusar ninguém, que prova tenho senão a lógica?, fica meu palpite, siga o dinheiro e encontrará o ladrão. Se o banco não é o ladrão, sabe quem é. Agora... o Banco que guarda esse segredo, é particular ou poderia ser mesmo o Banco Central?
Que sabem sabem... ora essa... cpf pelo menos... endereço não lhes cabe também saber ... penso aqui.

Anônimo disse...

Celso,

Mais um excelente artigo teu.

Os bancos precisam ter limites. O Governo Federal precisa aplicar a Lei: que se cumnpram os juros fixados pelo BC. Apenas isso.

Ismar C. de Souza

Anônimo disse...

Também gostei do artigo!
Queria compartilhar este link com vocês para continuar a discussão sobre a farsa dessa briga sobre o spread.

Spread bancário e o teatro costumeiro

Claudio Silveira
P.s. foi difícil colocar esse comentário

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