Um jornalista brasileiro que ainda conserva o senso de justiça e a coragem para afrontar os poderosos é Ruy Martins, hoje vivendo na Suíça e colaborando com jornais portugueses, além do site Direto da Redação ( http://www.diretodaredacao.com/ ).
Batalhador incansável para que o caso de Cesare Battisti tenha uma solução civilizada, Martins comentou com justa indignação a negativa do Conare em conceder refúgio para o escritor italiano. Eis os trechos mais marcantes:
"Quando se sabe que muitos atuais parlamentares e gente do governo lutou contra a ditadura militar, parece estranho que concordem em punir o militante italiano dos anos 60, Cesare Battisti, que nega mesmo ser autor dos crimes dos quais vem sendo acusado. Não acredito que o governo Lula extradite Cesare Battisti para agradar Berlusconi, Sarkozy e a grande imprensa brasileira, que nesta questão conta com o estranho apoio da revista Carta Capital.
"Battisti é acusado de ter cometido crimes, quando jovem, em nome de um movimento de extrema-esquerda italiano. Há quase trinta anos, Battisti vive como foragido. Na França, no governo de Mitterrand, tinha encontrado abrigo, pois o presidente socialista francês havia dado refúgio aos italianos envolvidos nas agitações da época da Brigada Vermelha.
"Durante a campanha eleitoral, o atual presidente francês, com o objetivo de agradar os eleitores de direita, decidiu entregar Battisti à Itália, onde está condenado à prisão perpétua, num julgamento à revelia. Battisti conseguiu fugir mais uma vez e se escondeu no Brasil, onde foi localizado quando alguém de Paris ia lhe entregar algum dinheiro para sobreviver.
"Ao mesmo tempo, outra militante daquela época, Marina Petrella, que vivia normalmente na França, foi presa e ia ser extraditada para a Itália. Entretanto, ao ser separada de sua filha e de sua família para ser enviada à Itália, Marina entrou num processo depressivo e estava perto da morte quando, por intervenção da cunhada do presidente Sarkozi, foi suspensa definitivamente sua extradição para a Itália, onde deveria cumprir prisão perpétua.
"Cesare Battisti é o último dos italianos que a Itália quer recuperar para deixar apodrecer na prisão. Além de negar ter praticado crimes de morte, Battisti se tornou escritor no exílio forçado, quando vivia no México, casou, tem duas filhas e sua extradição, por acusações de atos cometidos há trinta nos, não seria um ato de justiça mas de vingança da Itália berlusconiana.
"Hoje, no Brasil, diversas personalidades que lutaram contra a ditadura fazem parte do governo e seria um absurdo extraditarem alguém que, na juventude, também lutou contra o que acreditava ser um Estado totalitário.
"(...) É hora de se passar a esponja nos excessos políticos da juventude italiana de há 30 anos. Fernando Gabeira, o senador Suplicy já se pronunciaram em favor do asilo a Cesare Battisti no Brasil, porque se trata de um foragido político e não um autor de crime comum.
"O Brasil deve dar a Cesare Battisti o asilo para que possa trazer a esposa e filhas. E iniciar, em terra brasileira, uma outra fase de sua vida, num país de justiça e liberdade.
"A negativa da Conare constitui um retrocesso em matéria de direito internacional, por considerar como acusado de crime comum um notório militante de um grupo politico italiano. É uma inexplicável concessão do Brasil ao pedido de dois presidentes europeus, em detrimento de uma tradição do asilo do governo brasileiro a todos os perseguidos e de uma independência que o Brasil fazia questão de manter nessa matéria."
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