"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores brasileiros ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado. ("Prontos para o século XIX", retranca complementar da matéria-de-capa "Você sabe o que estão ensinando a ele?", edição 2.074 da revista Veja - http://veja.abril.com.br/200808/p_076.shtml )
"Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu Norte e Bíblia, esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os/as que a fazem, vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. (resposta de Ana Maria Araújo Freire, viúva de Paulo Freire - http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/viuva-de-freire-escreve-carta-de-repudio-a-veja/ )
Acreditando que os textos falem por si, recomendo aos meus leitores que leiam a íntegra das duas manifestações e tirem suas conclusões.
Só gostaria de acrescentar que, se eu tivesse sido consultado, Paulo Freire ganharia de 30 x 6 de Albert Einstein. Não por uma comparação da contribuição científica de cada um, mas porque a ingenuidade política de Einstein está associada a um dos maiores crimes contra a humanidade do século passado: a destruição de Hiroshima e Nagasaki.
É que físicos asilados nos EUA para escapar das perseguições do nazi-fascismo, temerosos do que Hitler poderia fazer com a bomba atômica, recorreram em 1939 a Einstein, pedindo sua ajuda para convencerem o governo estadunidense a iniciar seu próprio programa nuclear. Estavam há anos tentando conseguir verbas, em vão.
Einstein assinou a carta por eles escrita e a encaminhou ao presidente Roosevelt que, diante do peso da autoridade do maior físico vivo, encampou a idéia.
Quando os aliados vitoriosos ocuparam os centros em que os alemães tentavam criar sua bomba atômica, descobriram que o programa ainda estava num estágio bem embrionário. Ou seja, havia sido só um rebate falso.
O excesso de zelo de Leo Szilard, Enrico Fermi & cia., mais a malfadada assinatura de Einstein, dotaram os EUA de uma arma devastadora. E, como armas são produzidas para serem usadas, o fraquíssimo presidente Harry S. Truman mandou atirá-las sobre um Japão já vencido e que buscava apenas uma fórmula de rendição menos humilhante (queria preservar seu imperador).
O maior horror que a humanidade já presenciara foi, na verdade, apenas uma demonstração prática do potencial destruidor da bomba atômica, para intimidar Joseph Stalin, com quem Truman estava prestes a discutir a partilha do mundo.
Durante as décadas seguintes, o temor de uma guerra atômica entre EUA e URSS foi um pesadelo constante, com a ameaça chegando muito perto de concretizar-se durante a crise dos mísseis cubanos, em 1962.
Como as boas intenções pavimentam o caminho para o inferno, permito-me não acompanhar as loas generalizadas a Einstein. O "maior gênio da história da humanidade" se revelou um trapalhão funesto na principal atitude que tomou fora da torre de marfim.
2 comentários:
parabéns pelo texto
e a resposta da ana maria cala a doutrina devastadora desta revcista.
bruno bedotti
Celso,
Discordo de suas afirmações sobre a posição de Einstein, legando ao mesmo parte da culpa pela morte de milhares de pessoas.
Hoje é fácil olhar para trás e dizer que Einstein foi ingênuo. Mas, afinal, o que ele deveria ter feito frente à possibilidade de apenas a Alemanha nazista possuir uma bomba atômica? Tudo menos esperar. Ou seja, se alguém pode ser culpado em toda essa história é justamente os EUA, que deram um destino sujo ao que até hoje deveria estar guardado.
Ademais, Einstein relutou tanto quanto foi possível para não pôr o peso de sua assinatura na carta endereçada ao Roosevelt...
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