terça-feira, 11 de setembro de 2018

É ALTAMENTE IMPROVÁVEL QUE BOLSONARO SE ELEJA, MAS A DEMOCRACIA BRASILEIRA PODE IR A NOCAUTE NUM PRÓXIMO ROUND

clóvis rossi
O PROBLEMA NÃO É BOLSONARO, É QUEM VOTA NELE
O problema não é Jair Bolsonaro. O problema são os que se dispõem a votar nele e que, segundo o mais recente Datafolha, constituem um terço dos eleitores (no 2º turno). Ou, mais corretamente, o problema é o sinal enviado por essa parcela do eleitorado.

Por que o problema não é Bolsonaro? Porque, conforme os especialistas em sociologia e política ensinam, a liquidação da democracia não se dá mais, hoje em dia, pelos tanques e canhões, mas pela erosão lenta, gradual e segura promovida por quem chega ao poder, de farda ou de terno, pelo voto popular.

Venezuela e Nicarágua são os dois exemplos do momento na América Latina. Há outros até na Europa ultracivilizada.

Parece altamente improvável, primeiro, que Bolsonaro se eleja, conforme mostraram as simulações de segundo turno no Datafolha. E, se ganhar, é mais improvável ainda que consiga levar adiante o trabalho de demolição da democracia.

Não digo que não queira. É, visivelmente, um autoritário empedernido. O problema é que não terá a colaboração da maioria do Congresso, da maioria dos governadores, da maioria dos partidos e, acima de tudo, enfrentará uma sociedade civil razoavelmente articulada.

Dividida, é verdade, mas naturalmente pouco inclinada a ceder os espaços de liberdade e de participação que foi conquistando. Democracia é oxigênio para a sociedade civil.

Mesmo os militares, salvo alguns alucinados, não têm em tese incentivo para estrangular a democracia. O fantasma do comunismo, usado como pretexto para o golpe de 1964, já foi exorcizado.

As elites, que conspiram contra a democracia sempre que sentem seus interesses ameaçados, não têm com que se preocupar. Até o PT deixou de ser aquele partido cuja vitória, em 1989, levaria 800 mil empresários a deixar o país, na famosa frase de Mario Amato, então presidente da Fiesp.

Lula acabou ganhando 13 anos depois e, em seu governo, os empresários nunca ganharam tanto dinheiro, segundo o próprio Lula diria mil e uma vezes. Os 13 anos e algo de governos petistas não tocaram em um só fio de cabelo das elites.

O problema, do meu ponto de vista de militante pela democracia, é que ela, nesses seus 33 anos de vigência no Brasil, não conseguiu convencer um terço do eleitorado de que é o pior dos regimes, fora todos os outros, para citar Winston Churchill.
Há uma parcela nada desprezível de brasileiros que prefere o pior dos regimes, uma ditadura, resgatada, pela primeira vez nas oito eleições democráticas, das catacumbas a que havia sido felizmente condenada.

Posso até ver algo de positivo nesse ressurgimento: é melhor que os viúvos e viúvas da ditadura trabalhem à luz do dia, no processo eleitoral, do que conspirem nas sombras, como fizeram nos anos 60, até derrubar o governo e impor 21 anos de trevas.

Mas é importante que os que rejeitam o autoritarismo que Bolsonaro simboliza tomem consciência de que a eleição de 2018 é uma demonstração de que a democracia está capengando. 

Uma muleta —rejeitar o autoritarismo— não vai bastar. É preciso restabelecer a confiança no modelo democrático, sob pena de que, em algum próximo assalto, ele vá a nocaute. (por Clóvis Rossi)

3 comentários:

Henrique Nascimento disse...

Na minha opinião, o que mais motiva 80% dos fanáticos do ídolo Bolsonaro não é o discurso homofóbico ou racista ou machista, mas sim a política que ele quer impôr ao combate à violência. As pessoas deliram quanto às suas propostas. Acho até compreensível essa percepção, pois estamos assustados. Vivemos enjaulados em condomínios, com medo de andar em certos locais e horários e os índices de violência crescendo.

Tiro essa conclusão baseado em eleitores do Bolsonaro próximos a mim.

Valmir disse...

para o petismo não existe violência nem criminalidade no país; isso é coisa que puseram na sua cabeça..estive pensando sobre isso não posso deixar de lhes dar razão ao menos no meu caso..num ano o que puseram na minha cabeça foi um três oitão de cano longo e enferrujado que ficou tão perto que vi la dentro do cano e conclui que se não morresse com a bala morria de tétano com o ferrugem; no ano seguinte "melhorou" um pouco...foi uma brilhante submetralhadora de fabricação israelense Uzi de 9 mm, feita em inox, que brilhava ao sol do meio dia na BR 101 próximo ao posto da PRF...mas gostaria muito que parassem de por coisas na minha cabeça se possível...se não for incomodar os petistas mais convictos

WILLIAM ORTH disse...

É Valmir, a realidade é essa. O povo que tem filhos morrendo em assaltos na periferia por um celular não esta preocupado com racismo, homossexual e costumes. As pessoas querem que quem esta preso não saia no dia dos pais e natal e saia matando, que um menor mate sabendo que não vai ser punido. Essa é a realidade.Direitos Humanos estão infelizmente sendo deturpados pelas " esquerdas". Bolsonaro cresce e muito. Como eu disse não será eleito, mas daquí a 4 anos ..... Outro detalhe, a Bancada da Bala vai vir com tudo. Não se enganem. Brasil e Bolivia são os únicos países em que a maioridade penal só começa aos 18 anos. Sou contra Bolsonaro mas não adianta maquiar com teorias de "vítimas da sociedade , capitalismo". Já estive em enterros de policiais e NUNCA houve um representante dos DH manifestando solidariedade.Realidade pura que alimenta BOLSONADAS. Abrasço Celso e Valmir.

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