“Papai, não chore, que eu ainda vou ganhar uma Copa do Mundo para você” (Pelé aos 9 anos, quando Dondinho
chorava após a perda do Mundial de 1950)
Perder dói, mas é saudável!
Calma aí... Não estou defendendo nenhuma tese masoquista; e muito menos querendo ser um pai experiente que tenta consolar o filho inconsolável. Quero apenas fazer uma reflexão sobre o que torna grandiosa a vitória!
Por mais paradoxal que pareça, é a derrota aquilo que torna a vitória valiosa quando ela acontece. A vitória é o lado bom de uma fruta apetitosa cuja outro lado ficou amassado na queda da árvore e perdeu o viço.
Na história das copas do mundo, que já soma 76 anos (descontados os Mundiais cuja realização foi cancelada devido à 2ª Guerra Mundial), somos o país mais vencedor. Cinco ao todo (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002). Em termos de futebol, estamos na categoria cinco estrelas.
Estivemos presentes em todas as Copas do Mundo e por duas vezes fomos vice-campeões (o que, para os brasileiros, não vale nada).
Cedo já tivemos um artilheiro que encantou o mundo, com 9 gols marcados nos Mundiais de 1934 e 1938 (com a camisa brasileira foram 37 gols em 37 jogos!): o diamante negro, Leônidas da Silva, inventor da bicicleta.
Raridade: uma bicicleta do grande Leônidas da Silva |
Tivemos Garrincha, a alegria do povo, mundialmente admirado. E pertence a nós o rei do futebol, Pelé, o maior conquistador de Copas, ganhando três das quatro de que participou.
A dor profunda que tomou conta do país em 1950, levando à execração injusta do goleiro Barbosa por ter-se posicionado para interceptar um centro e ser surpreendido por um arremate direto e quase sem ângulo, condenou-o à pena mais longeva que jamais teve um criminoso qualquer em nosso país (50 anos, até 2000, quando faleceu).
Foi, contudo, o elixir capaz de levar ao delírio o nosso povo em 1958, com vitórias retumbantes sobre a França nas semifinais (5x2) e sobre os donos da casa, a Suécia, na final (outro 5x2).
Já imaginou quão chato seria se ganhássemos todas as copas? Pareceria tão fácil a ponto de entediar.
Mas perder, dói, principalmente quando sabemos que somos melhores.
Perdemos algumas Copas para nós mesmos, e esta de 2018 foi um exemplo. Tamanho era nosso medo de perder que acabamos mesmo perdendo. A ansiedade tomou conta de um escrete que se desorganizou num momento-chave, tomou um gol bobo e outro em contra-ataque; e que depois teve várias chances de marcar e, por nervosismo, não foi capaz de traduzir em gols o seu domínio
Abriu a defesa no impulso de empatar logo e tomou um segundo gol graças ao deslize cometido no primeiro gol, quando, também por ansiedade, Fernandinho e Gabriel Jesus bateram cabeça num corner.
O fatídico gol contra que desestabilizou a seleção |
É que o nosso Brasil, de tão carente que anda de boas notícias, acaba encarando o futebol como uma grande chance de redenção mundial, atirando responsabilidade demasiada sobre o ombro dos atletas.
É preciso salientar que o mundo inteiro sabe que estamos entre os melhores ou que somos os melhores, se quisermos ser pretensiosos (e temos o direito de sê-lo em matéria de futebol).
Daí as outras seleções sentirem-se tão aliviadas quando passam pelo Brasil ou mesmo quando veem que saímos pelas mãos de outras seleções, pois aí o caminho da conquista fica mais fácil ou possível.
Agora, só existem duas seleções campeãs do mundo na disputa: França e Inglaterra. Portanto, são as únicas que podem almejar a glória de serem bicampeãs. Nós somos pentacampeões e daqui a mais quatro, oito ou mais anos (três toques na madeira) seremos hexacampeões.
Do alto dos meus 68 anos, espero ainda estar por aqui para ver a glória dessa conquista, que será valorizada pela dor que hoje sentimos todos.
Como as outras seleções gostariam de ter os nossos números (ainda que o presente seja sempre mais valorizado do que o passado, pois parece ser sempre definitivo)!
Não façamos com Gabriel Jesus o que fizemos com Barbosa. Esse jovem talento não merece carregar o peso da nossa derrota nas costas.
Barbosa: Ninguém merece tal estigmatização! |
Não deixemos de apreciar o excepcional comando do Tite, que certamente está sendo observado pelos astutos times europeus, os quais já enxergaram nele uma mistura de conhecimento técnico, capacidade de comando, seriedade, discernimento, lhaneza e talento para comunicar aquilo que está dentro de sua boa cabeça pensante.
Quanto ao Neymar Jr. devemos entender que as críticas direcionadas às seus contínuas quedas diante das botinadas e empurrões dos adversários, por mais teatrais que sejam, são injustas; por que não pensarmos que o maior erro é as botinadas e empurrões não serem punidos com rigor pelos árbitros? Afinal, não se trata de uma exibição de artes marciais...
O futebol, por ser a mercadoria (infelizmente) mais preciosa do mundo do esporte, é atingido por interesses de merchandising globalizados e, por isso, não fica imune às ingerências nefastas que cercam uma Copa do Mundo.
Mas, isto não deve servir de desculpa para a nossa derrota.
Perdemos porque não soubemos controlar os nossos nervos e definir um resultado que nos era possível conseguir; perdemos porque o adversário soube reconhecer a sua inferioridade e se fechar bem, atacando quando possível e defendendo o resultado quando necessário (a maior parte do tempo).
É isso o que faz do futebol um esporte maravilhoso: a possibilidade de um time inferior sair vencedor a partir de uma estratégia bem definida.
A Bélgica mereceu vencer exatamente porque soube ser assim: modesta no reconhecimento da sua inferioridade; e grandiosa na sua estratégia e crença na vitória.
Por Dalton Rosado |
Ao Brasil deve restar o aprendizado de que perder não é o fim do mundo, mas a valorização da vitória futura, para que, assim compreendendo, possa doravante encarar com naturalidade os gols que venha a sofrer e a possibilidade de derrotas, sem o desespero que só atrapalhou contra a Bélgica.
Até 2022 (pois espero que passemos bem, com Tite, pelas eliminatórias)!
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