sábado, 7 de julho de 2018

LEVANTA, SACODE A POEIRA E DÁ A VOLTA POR CIMA: AGORA É JUNTAR OS CACOS E INICIAR A RENOVAÇÃO DO ESCRETE

Gabriel Jesus e Fernandinho: dignos de comédia de pastelão!
Quando algum cidadão influente ia recomendar um jovem oficial a Napoleão Bonaparte, elogiava seus estudos, sua inteligência, seu espírito de liderança, sua coragem, etc. Mas Napoleão queria saber outra coisa: "Ele tem sorte?".

Se eu ainda estivesse atuando profissionalmente, não poderia explicar a derrota do escrete brasileiro diante da pouco mais que mediana seleção belga alegando sorte. Pega mal. 

Temos um bocado de pretensão de invariavelmente encararmos os acontecimentos como resultado de uma certa lógica; é uma forma de darmos importância excessiva tanto às nossas análises quanto a nós mesmos. 

Infelizmente, não passamos de joguetes do destino e todo nosso brilhante potencial pode ser anulado de um momento para outro pela queda de um carrinho de pedreiro do alto do edifício, atingindo-nos em cheio na cabeça (não é piada: uma vizinha ficou viúva dessa forma).

Então, nesta sexta-feira que foi dia 6 mas deveria ser 13 para os brasileiros, tudo começou a dar errado com a bola que Thiago Silva empurrou desajeitadamente para a trave no comecinho da partida; se entrasse, provavelmente o Canarinho Pistola teria prevalecido sobre os canários belgas.
Belgas comemoram: foram mais longe do que deveriam.

Aí veio um dos gols contras mais bizarros da história das Copas, digno de comédia de pastelão. E nosso selecionado, mesmo tendo uns 80 minutos (considerando os acréscimos) pela frente, perdeu a serenidade, passando a errar passes fáceis e a finalizar de forma precipitada sempre que surgia uma boa chance.

Criou muitas oportunidades, sim, mas algumas desperdiçou; outras, o goleiro pegou; houve as que o acaso frustrou, etc. Nada dava certo.

Ficou evidenciada, mais uma vez, uma falta de espírito vencedor por parte dos jogadores brasileiros: dão belos espetáculos quando as coisas vão bem, mas não conseguem lidar direito com as adversidades. 

E o inquietante foi que nada menos do que seis jogadores estiveram muito aquém do seu potencial: Neymar, Philippe Coutinho, Marcelo, Gabriel Jesus, Fernandinho e Willian. A má jornada dos dois primeiros tem muito a ver com a derrota, pois eram aqueles com quem Tite contava para romper o esquema defensivo belga.

E, enquanto Fernandinho jamais fez jus, jogando pelo Brasil, aos elogios que recebe do Pep Guardiola no Manchester City, Paulinho parece que nunca voltará a ser aquele que deslumbrava o Tite em 2012 (o tempo é implacável!). 

Infelizmente, nosso técnico, depois de acertar tanto nesses dois anos à frente do selecionado, cometeu alguns erros que acabaram sendo fatais:
A última das quedas do Neymar foi a mais ridícula
  • ter, em péssima hora, reabilitado Fernandinho, um dos vilões do 7x1 de 2014, que nem deveria estar lá, muito menos substituir o Casemiro;
  • haver insistido demais com Gabriel Jesus, Paulinho e Willian (o primeiro ficou devendo nas quatro partidas que disputou e os outros dois tiveram apenas uma atuação aceitável cada), quando Firmino, Renato Augusto e Douglas Costa teriam sido opções melhores;
  • ter promovido prematuramente o retorno de Marcelo, recuperado de contusão, quando a cautela mandava conservar o Felipe Luís, que vinha bem e é muito superior em termos defensivos.
Mas, por tudo que fez em clubes e pelo brilhantismo com que vinha conduzindo o escrete, Tite merece uma segunda chance em 2022, tal qual aquela que Telê Santana recebeu em 1986, após a infelicidade de 1982. O Adenor ainda é, disparado, o melhor treinador que temos, embora haja mostrado que o dom da infalibilidade ele não possui.

Talvez Tite opte pelo desafio de treinar uma  grande equipe européia, caso em que se deveria pensar nos nomes de Fábio Carille ou Renato Portaluppi, os únicos que mostraram algo mais nos últimos anos. 

Apesar das diferenças de personalidade –Carille é discreto e estudioso, enquanto o Renato tem personalidade parecida com a de outro gaúcho que se tornou mais carioca do que os cariocas, João Saldanha, daí cultivar a imagem fantasiosa de gênio inato–, ambos demonstram acompanharem bem as evoluções táticas do futebol atual (voltarmos a treinadores toscos como Felipão e Dunga seria um pesadelo!) e terem aptidão para cumprir a tarefa principal do próximo quadriênio: a renovação.
Tite: comandar renovação do escrete ou ir para a Europa?

Da geração cujo único grande feito foi a conquista da Olimpíada de 2016, é certo que Daniel Alves, Marcelo, Felipe Luís, Miranda, Thiago Silva, Fernandinho, Paulinho, Renato Augusto, Willian e Taison já deram o que tinham para dar, uns por haverem decepcionado e outros porque estarão velhos demais em 2022.

E há um grande ponto de interrogação sobre a cabeça daqueles que negaram fogo na hora H: Neymar, que esteve bem contra a Sérvia e o México, mas foi incapaz de assumir o protagonismo que dele se esperava nas duas partidas mais dramáticas (Costa Rica e Bélgica); Philippe Coutinho, que começou como leão e acabou como um gatinho; e Gabriel Jesus, uma lástima! 

Em princípio, Coutinho e Gabriel Jesus não devem ser descartados, a menos que suas carreiras despenquem nos clubes. Já Neymar quase nunca exibe nas grandes decisões todo o brilho de seu futebol, o que o acaba tornando nocivo, pois times e selecionados tendem a nele depositarem suas melhores esperanças e saem no prejuízo. Se não se curar dessa doença nos próximos anos, será melhor deixá-lo definitivamente de fora. 

Enfim, temos de nos levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, iniciando imediatamente o grande trabalho de renovação que precisa ser feito até a próxima Copa.

2 comentários:

Marcílio disse...

Caro CL,

Como você mesmo costuma lembrar, "quem é burro pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue".

Como não sou corintiano, posso dizer que o Adenor, infelizmente, foi burro e incompetente.

A comissão técnica milionária não analisou corretamente os jogos da Bélgica.

Resumindo, deveriam ter iniciado já com Douglas Costa, Firmino e Felipe Luís (uma avenida aberta na lateral esquerda com Marcelo)...

Enfim, Brasil com Globo e essa direita predatória nem a seleção escapa.

celsolungaretti disse...

Falemos de futebol, o resto é forçação de barra. O Tite em nada se identifica com a direita predatória e foi obrigado a suportar a Globo porque não convém ao técnico da seleção brasileira indispor o escrete com a maior rede de TV do país.

Ele fez uma campanha excepcional nas eliminatórias, ganhando 10 jogos e empatando 2 (88,9% de aproveitamento). Antes, o Dunga vencera 2, empatara 3 e perdera 1 (50% de aproveitamento).

Mas, o time que estava todo acertadinho em 2017 decaiu por vários fatores:
* as contusões do Neymar, do Gabriel Jesus, do Paulinho e do Daniel Alves antes da Copa (os três primeiros até hoje não voltaram a atuar tão bem como vinham atuando);
* as contusões do Danilo, do Marcelo e do Douglas Costa durante a Copa;
* e, no jogo fatal, a ausência do Casemiro por causa dos cartões amarelos.

Também considero que o Douglas Costa deveria ter sido o titular ontem. Mas, ele havia ganhado a posição na raça contra a Costa Rica e certamente começaria jogando contra a Sérvia, se não se machucasse. Aí o Willian fez uma partida boa contra o México, induzindo o Tite ao erro.

O catastrófico Fernandinho jogou por um mero acaso. Eu, como técnico, o teria riscado definitivamente da seleção após os 7x1, assim como ao David Luís. O Tite é do bem, não admitiria discriminar um jogador. E, quando o Casemiro tomou o segundo amarelo, noblesse oblige, teve de escalar o reserva maldito (Fernandinho deveria inscrever-se no Guinness: único jogador que detonou a seleção do seu país em duas Copas do Mundo consecutivas!).

Enfim, foi uma jornada infeliz do Tite, mas não que ele tenha ignorado como a Bélgica jogava: o técnico adversário mudou bastante o jeito de alguns jogadores atuarem, não leu suas entrevistas?

E NÃO FOI ESTE O MOTIVO DA DERROTA, MAS O QUE EU COLOQUEI NO TEXTO: DEU TUDO ERRADO PARA UM LADO E TUDO CERTO PARA O OUTRO. Todos os acasos vieram em nosso detrimento. Não me lembro de uma vez sequer que o Brasil tenha voltado para casa a partir de um gol tão bobo como o primeiro de ontem.

Depois do péssimo trabalho dos técnicos de 2006, 2010 e 2014, é injusto não reconhecer que Tite havia montado um Brasil bem competitivo e atualizado em termos táticos, mas não poderia imaginar, p. ex., que Neymar e Gabriel Jesus piorariam tanto de um ano para outro.

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