Além da justificada catilinária de Josias de Souza contra o presidenciável ultradireitista Jair Bolsonaro, que reproduzimos aqui, outro artigo fundamental deste sábado, 30, é Lógica sectária, do Demétrio Magnoli, no qual ele crítica a visão de André Singer, de que a eleição deva ser encarada como uma disputa entre a esquerda ("Lula ou quem ele indicar, Ciro, Manuela e Boulos") e a direita ("tal como melancias no caminhão, o sacolejo irá arrumando as relações entre Bolsonaro, Alckmin, Meirelles ou Temer, Maia e Marina").
Assim como eu também já o fiz nesse mesmo contexto, Magnoli lembrou os erros cometidos pela esquerda stalinizada que facilitaram a conquista do poder pelos nazistas:
"Nove décadas atrás, no declínio da Alemanha de Weimar, os comunistas alemães aplicaram a estratégia do terceiro período, ditada a partir de Moscou. De acordo com o dogma inventado por Stálin, a revolução proletária aguardava na esquina —e, diante do espectro da insurreição, os social-democratas convertiam-se em aliados objetivos dos nazistas. Consequentemente, os comunistas rejeitaram a ideia de uma aliança com os social-fascistas, facilitando a ascensão de Hitler".
Ele constata que o PT está fazendo a mesmíssima besteira atualmente:
"No discurso e em certas práticas políticas, o PT parece-se, cada vez mais, com os antigos partidos comunistas. Colocando no saco bolsonarista melancias como Alckmin, Marina, Maia ou Meirelles, Singer pouco esclarece sobre a corrida presidencial, mas revela-nos que o PT percorre o túnel escuro do terceiro período."
E aponta o que mudou nesta eleição, obrigando-nos a deixar de lado a visão que perdurou "durante um quarto de século, [quando] o dilema expressou-se como disputa binária PSDB/PT, ou seja, "sob a forma da concorrência entre os partidários da economia de mercado e os do capitalismo de Estado".
Agora, contudo, temos de repetir Camões: "Cessa tudo que a antiga musa canta/ que outro valor mais alto se alevanta", qual seja a necessidade de barrarmos a pior ameaça à esquerda brasileira desde a redemocratização.
Neste sentido, será imperativo somarmos forças com as melancias de centro-direita e centro-esquerda, pelo mais simples dos motivos:
- tendo-as como adversárias na rotina democrática, sobreviveremos para continuar lutando por nossos objetivos;
- já se tivermos a direita nostálgica do regime militar como adversária, a rotina democrática poderá ser trocada por execuções, torturas, estupros e outras atrocidades, com reais possibilidade de não sobrevivermos, politicamente e até fisicamente.
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