Por Celso Lungaretti |
Tão logo ficou consumada a perda do mandato de Dilma Rousseff, passei a defender uma aprofundada discussão da estratégia, táticas e valores morais que até então prevaleciam na atuação do PT, a força hegemônica da esquerda brasileira.
Entendia e entendo que a aposta na democracia burguesa e nos valores republicanos foi uma ilusão nefasta que nos fez desperdiçar três décadas, conduzindo-nos finalmente a um beco sem saída.
Defendia e defendo que passemos a priorizar as lutas sociais e a construção de uma alternativa de poder ao lado do povo, longe dos palácios do governo.
Evidentemente, desde o 31 de agosto de 2016 o quadro só fez piorar, com a insistência no Fora Temer! não tendo consequências práticas (ele sobreviveu a duas tentativas de impeachment), de forma que demos demonstração de fraqueza e não de força.
E a melancólica prisão do ex-presidente Lula foi a última peça encaixada no quebra-cabeças do fracasso de um modelo de esquerda light que, flagrantemente, não estava à altura do inimigo que enfrentávamos por aqui (e que, mesmo na Europa, sua terra de origem, foi impotente para evitar que, com o agravamento da crise capitalista, a conta fosse paga em sua quase totalidade pelos trabalhadores).
Lula chegando para cumprir pena em Curitiba |
Decidi reproduzir o artigo abaixo porque ele nos traz mais evidências de que estamos mesmo assistindo ao fim de uma época: a ocupação de espaços no Executivo e no Legislativo não só se mostra cada vez mais inútil, como também cada vez mais problemática.
O PT nem sequer consegue vislumbrar um caminho para não decrescer muito nas eleições 2018. E isto não se dá apenas por causa das decisões erradas que o seu ícone supremo está tomando, mas também pelo fato de que hoje o partido não tem mais sobrevivência possível fora do lulismo, sendo obrigado a render-se incondicionalmente ao único puxador de votos significativo que lhe resta.
A transferência da sede nacional do PT para Curitiba, só porque é lá que se encontra – preso! – Lula, seria cômica se não fosse trágica...
PALMEIRA NO DESERTO, LULA
DEVE AGRAVAR O DECLÍNIO DO PT
Por Fernando Canzian |
Mesmo preso em Curitiba, Lula impôs ao PT preservar o lulismo em vez de tentar salvar o petismo e mobilizar o que resta da esquerda no Brasil.
Como faz há 30 anos, quer manter-se único, como palmeira no deserto.
A sinuca de Lula é só aparente: se liberar um plano B à Presidência, assumirá sua derrota na Justiça. Se mantiver a candidatura até 17 de setembro (data-limite para o TSE julgar a impugnação de candidatos), o substituto será apresentado a apenas duas semanas do 1º turno.
No dia da prisão em São Bernardo, Lula parece ter feito sua escolha: apresentou candidatos ainda inexpressivos e não petistas (Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila) como promessas da esquerda. A deferência ao petista Fernando Haddad foi protocolar.
No final, a homenagem a dona Marisa pode ter sido a missa de corpo presente do PT.
Com a proibição do financiamento empresarial, os partidos agora dependem sobretudo da bancada na Câmara (e em menor medida do Senado) para obter dinheiro do fundo eleitoral público e do fundo partidário, que totalizam R$ 2,6 bilhões neste ano. A bancada determina também tempo de TV para as campanhas.
Carregado pela vitória de Dilma e por um Lula em franca atividade em 2014, o PT elegeu o maior número de deputados há quatro anos, 70. [Mesmo assim, sua bancada já vinha decrescendo, tendência que se acentuou à medida que 10 deputados fossem, um por um, abandonando a sigla no biênio seguinte.]
Neste ano, sem um candidato forte já em campo, é provável que o total de deputados e senadores encolha consideravelmente, transformando o PT em partido médio ou até pequeno. Os casos rumorosos que marcaram o PT e a condenação do ex-presidente não ajudam.
Com Lula fora da campanha, o potencial de transferência de seus votos também tende a se diluir em alternativas e partidos nesse campo (Boulos/Psol, Manuela/PC do B, Ciro/PDT e Marina/Rede).
E embora o petista tenha até 37% das intenções de voto no melhor cenário do Datafolha, o PT é o partido preferido de 19% dos eleitores. Ou seja, tem em simpatia metade das intenções de voto no ex-presidente.
Sem Lula ou um substituto competitivo e apresentado desde já, é grande a chance de o PT definhar num deserto financeiro e sem palmeira, elegendo uma bancada bem menor que causará novo impacto daqui a quatro anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário