Eu era menino quando o Corinthians vivia a maior seca de títulos da sua história, 23 anos de agonia.
Meu pai gostava de me falar sobre o último grande esquadrão, campeão paulista de 1951, 1952 e 1954, que tinha Gylmar, Cláudio, Luísinho, Baltazar.
Dizia que nenhum torcedor corinthiano saía do estádio antes do apito final, pois era comum o gol de empate ou de desempate acontecer no apagar das luzes. Tratava-se de um time heroico, que fazia das tripas, coração para evitar um placar desfavorável.
Dizia que nenhum torcedor corinthiano saía do estádio antes do apito final, pois era comum o gol de empate ou de desempate acontecer no apagar das luzes. Tratava-se de um time heroico, que fazia das tripas, coração para evitar um placar desfavorável.
E não é que hoje, seis décadas depois, o Corinthians voltou a ser um time heroico?! Sem poder contratar jogadores caros porque está pagando as dívidas de sua arena; com um técnico (Fábio Carille) no qual ninguém acreditava mas, em 16 meses de trabalho, já se coloca entre os mais vencedores pelo timão em todos os tempos (um campeonato brasileiro e dois paulistas); e com um elenco extremamente unido e esforçado, vai atingindo seus objetivos mais na base do heroísmo do que do brilhantismo.
Foi brilhante, sim, em 2017, nas partidas finais do Paulistão e no 1º turno do Brasileirão, mas por conta das inovações táticas do Carille e por ainda contar com um homem-gol que fazia a diferença (Jô).
Em 2018, nem isto. A forma de o Corinthians jogar, dando a posse de bola ao adversário e apostando no contra-ataques, foi assimilada e anulada pelos adversários. Perdeu três titulares importantes (Jô, Arana e Pablo) e só conseguiu um substituto à altura para o terceiro (Henrique). Jô faz enorme falta.
Mas, acaba de ser bi do Paulistão graças à disciplina tática e ao espírito vencedor. Nos mata-mata decisivos, contra Bragantino, São Paulo e Palmeiras, perdeu sempre a primeira partida e reverteu a situação na segunda.
Estava sendo desclassificado até os 47 minutos do 2º tempo pelo São Paulo quando deu um branco na defesa tricolor e Rodriguinho, com seu 1,77 m de altura, subiu sozinho para mandar às redes uma cobrança de escanteio. Depois, na decisão por pênaltis, o gigantesco goleiro Cássio defendeu dois e garantiu a vaga.
Neste domingo, quase a mesma coisa, só que o gol do Rodriguinho aconteceu na outra ponta da partida, 1m30 de jogo. Passou o resto do tempo se defendendo com perfeição, sem oferecer chances nítidas de gol para o Palmeiras. E, nos pênaltis, Cássio repetiu a dose, pegando dois (o primeiro com menos dificuldade, o segundo espetacularmente, como da outra vez).
Isto apesar de todas as desvantagens: enfrentava o clube brasileiro que atualmente mais investe em reforços, jogando na arena adversária, tendo torcida única contra si e já começando a final em desvantagem (o 0x1 do jogo anterior). Em matéria de superação, um feito inesquecível, típico de um time heroico.
Sempre prezei mais a inspiração do que a transpiração; gosto mesmo é do futebol-arte, com lances geniais, como o da Seleção Brasileira de 1958, 1970 e 1982 e o da democracia corinthiana do doutor Sócrates.
Mas, têm lá seu encanto esses times heroicos que parecem ser a alegria que nos resta depois do êxodo dos nossos melhores talentos para a Europa.
A perda de qualidade acaba determinando um aumento da dramaticidade. E podemos, pelo menos, vibrar com os Davis que obtêm conquistas improváveis, detonando o favoritismo dos Golias.
A dúvida é: até quando o torcedor se dará por satisfeito com a emoção, sem ligar para outros detalhes. Como, p. ex., o de que, nas seis partidas finais do Paulistão, disputadas apenas pelos grandes, tivemos cinco 1x0 e um único e mísero 2x1, levando as três decisões para os pênaltis.
A dúvida é: até quando o torcedor se dará por satisfeito com a emoção, sem ligar para outros detalhes. Como, p. ex., o de que, nas seis partidas finais do Paulistão, disputadas apenas pelos grandes, tivemos cinco 1x0 e um único e mísero 2x1, levando as três decisões para os pênaltis.
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