Por Celso Lungaretti |
Com o que pude depreender da cobertura jornalística dos últimos dias, sem nenhuma informação de bastidores, montei este precário relato dos trâmites da rendição do Lula, o qual, claro, não me satisfez por completo. Contudo, faltava-me matéria-prima para um aprofundamento.
Já o blogueiro Josias de Souza, que foi agraciado com o Prêmio Esso de Jornalismo em 2011, tem acesso a todos os informantes necessários para ficar conhecendo tintim por tintim o que rola num episódio desses; pôde, portanto, descrever passo a passo o que ocorreu. Eis os trechos principais do seu post Se Lula não se rendesse, PF invadiria o sindicato:
Por Josias de Souza |
Em contato com dirigentes da PF, o juiz da Lava Jato revelou-se irritado com a pajelança política promovida por Lula em São Bernardo do Campo.
O acordo que evitou a detenção de Lula na marra foi costurado no eixo São Bernardo-Brasília-Curitiba. Ex-ministro da Justiça no governo de Dilma Rousseff, o petista José Eduardo Cardozo teve papel central na negociação...
O acordo para que Lula se rendesse foi esboçado na sexta-feira, depois que a Polícia Federal recebeu a informação de que o condenado não se apresentaria voluntariamente em Curitiba até as 17 horas, como Moro determinara.
Agentes federais estavam acantonados secretamente nas proximidades do sindicato desde a noite de quinta-feira. Mas a PF decidira que só invadiria o bunker de Lula se não houvesse outra alternativa. Ainda assim, com ordem expressa de Moro.
Vigília no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC |
O aconselhamento de Cardozo foi considerado vital. Havia ao redor de Lula quem sugerisse levar a resistência às últimas consequências —gente como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann e o presidenciável do PSOL, Guilherme Boulos.
Coube a Cardozo esclarecer as consequências de uma bravata. Moro poderia, por exemplo, decretar uma prisão preventiva, o que dificultaria o esforço da defesa para abreviar a permanência de Lula em cana. O juiz não hesitaria em endurecer o jogo. Outras vozes sensatas ecoaram as advertências do ex-ministro de Dilma. E Lula autorizou o fechamento do acordo.
O acerto não incluía a conversão da missa num comício. Tampouco previa que Lula discursasse. (...) O entendimento só não entornou porque o orador teve o cuidado de incluir no discurso uma referência à sua decisão de cumprir o mandado judicial.
Terminado o comício, prepostos de Lula pediram a inclusão de um adendo no acordo. O pajé do PT queria almoçar com a família antes de se entregar. O repasto com os familiares foi autorizado, desde que a rendição ocorresse até as 16h.
Com atraso, Lula saiu do prédio do sindicato pouco antes das 17h. Entrou num carro que estava estacionado no pátio. Seguiria para um terreno vizinho, onde veículos da Polícia Federal o aguardavam.
Cordão humano protegeu saída de Lula do sindicato |
Mas um grupo de militantes postou-se defronte do portão, obstruindo a passagem do automóvel, que deu marcha à ré. Lula desceu. E enfurnou-se novamente no sindicato.
Seguiram-se momentos de tensão. A cúpula da PF e Moro enxergaram na resistência um quê de encenação. Lula recebeu um ultimato. Tinha meia hora para se entregar. Os agentes federais destacados para conduzi-lo preso seriam desmobilizados às 19h.
Um ministro de Temer, que acompanhava as tratativas, exasperou-se: “Com 99% da operação concluída, surge essa recaída lusitana”, lamentou. Por um instante, o governo receou que a PF tivesse de acionar o seu Plano B.
Uma invasão do sindicato envolvia riscos. Agredidos por militantes, os policiais teriam de reagir. Havia grande preocupação com a integridade física de Lula.
Súbito, às 18h40, quando faltavam 20 minutos para expirar o ultimato dado pela PF, Lula saiu novamente do prédio. Cruzou a pé os cerca de 50 metros de militantes que o separavam do terreno onde se entregaria, finalmente, à equipe da Polícia Federal. Houve alívio em Brasília".
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