segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O BRASIL AINDA NÃO CHEGOU À ANOMIA INSTITUCIONAL, MAS É FLAGRANTE A DECADÊNCIA SOCIAL.

"Eu vejo o futuro repetir o passado; eu vejo
um museu de grandes novidades; o
tempo não pára" (Cazuza)
Tudo institucionalmente está de pé, mas, pari passu, agrava-se a decadência social. Temos regras estabelecidas e uma ordem constitucional jungida e legitimada politicamente, além de instituições do Estado em pleno funcionamento, mas a sociedade experimenta um processo de degradação que, em muitos casos, resvala para a barbárie.

O indivíduo social brasileiro vive uma situação de insegurança provocada principalmente pela depressão econômica e pelo desemprego estrutural (como sabemos, são mais de 13 milhões de desempregados). 

Mas há fatores decorrentes da debacle econômica ou fundados em comportamentos culturais elitistas que acentuam essa insegurança, quais sejam:

 agressão física generalizada (você que me lê certamente já foi assaltado ou tomou conhecimento de assalto sofrido por alguém que lhe é próximo) provocada pelo aumento vertiginoso dos roubos e mortes com estreita conexão com a miséria social e o comércio e consumo toxicológico. 

O Estado moderno enfrenta e padece uma incapacidade de prender e punir a imensidão de criminosos produzidos uma sociedade que induz à delinquência grande parte dos seus indivíduos sociais, até por ser regida na base por um crime dissimulado e aceito socialmente (a extração da mais-valia pelo capital);

— abandono social provocado pela deterioração dos serviços públicos essenciais (saúde, educação, segurança pública,) e outros (pavimentação de ruas e rodovias, abastecimento de água e energia elétrica, coleta de lixo, etc.), bem como pela burocratização estatal que trata o cidadão como se ele fosse um bandido até que prove o contrário;

— existência de três poderes institucionais do Estado assim caracterizados (negativamente): 
a) o Judiciário é caro, moroso e soberbo (muitos membros da magistratura tratam os cidadãos como pedintes desqualificados a quem supõem não dever respeito e boa prestação de serviços, desconhecendo que os juízes são servidores públicos e que os seus altos salários comparativos são pagos pelos primeiros, mediante uma carga tributária escorchante para os baixos salários médios da população). É que muitos permanecem presos a uma cultura elitista predominante que confunde princípio da autoridade com autoritarismo;
b) a influência do poder econômico sobre o Legislativo é tamanha que os parlamentares a ele devem a representação de fato, e não ao povo que os elegeu e a quem deveriam (uma impossível) representação jurídico-institucional;
c) os representantes políticos do Executivo se caracterizam pela permanente preocupação com os custos da próxima eleição e pelos esforços para agradarem aos segmentos econômicos que os elegem, administrando, ao mesmo tempo, a falência estatal que os obriga a priorizarem a existência funcional das instituições cada vez mais dispendiosas, em detrimento das demandas sociais;         
— comportamento ecológico predador justificado pela necessidade de se obter lucro e gerar empregos a qualquer custo;

— ausência de um projeto social que pense fora da caixa e possa ser conduzido e acreditado por grande contingente populacional consciente do que tem de fazer e capaz de nos livrar da sensação de estarmos à deriva.

A permanecer este conjunto de fatores socialmente negativos, corremos o risco de aceitarmos a cantilena dos eternos salvadores da pátria com seus discursos retrógrados e moralistas, como aconteceu na Alemanha nazista dos anos de depressão econômica da década de 1930, com o desfecho por todos conhecido.

É sempre mais fácil se querer consertar o que não está dando certo sob os argumentos de má administração e corrupção pública estatal do que se admitir a falência sistêmica provocada pela disfunção entre a forma da produção social e do seu Estado (que funciona como correia de transmissão da opressão social nela contida) e o conteúdo dessa mesma produção social.             

Os ecos das jornadas públicas de insatisfações populares havidas em junho de 2013 se perderam no vazio dos acontecimentos político-jurídico-institucionais dos anos seguintes, quando, a partir de iniciativas elitistas, se deu uma troca de mãos cosmética do controle do poder político, para que nada fosse mudado estruturalmente. 
Jornadas de 2013 poderiam ter dado novo alento à esquerda
Os expulsos do poder nada mais eram do que amigos traídos pelos novos detentores do poder político, e tudo sob o beneplácito dos verdadeiros donos do poder – o econômico –, pois afinal é sempre o povo quem paga o pato.

Ao invés das vozes de indignações populares capazes de fazerem tremer as bases de sustentação da sociedade mercantil em fase de decomposição econômica e orgânica, o que estamos a presenciar é: a guerra do crime organizado no tráfico de entorpecentes e armas, com a interveniência do poder militar do Estado, numa cena que nada fica a dever aos conflitos de países em guerra; e o alheamento popular às questões que estão na base da barbárie em curso.  

Aliás, no Brasil, morrem mais pessoas atingidas pela violência urbana do que em muitas guerras convencionais, atestando de forma eloquente nossa falência social.

Não precisamos mais de bons políticos que ratifiquem o nosso modo de produção social segregacionista falido, mas de indivíduos sociais mobilizados e conscientes de que a riqueza material da qual o Brasil é detentor pode perfeitamente substituir a nossa pobreza social (decorrente da produção de riqueza abstrata), para que comecemos finalmente a trilhar o caminho da emancipação humana. 

O Fora, Temer! que implicita o Elejamos outro!, deve ser substituído pelo Fora tudo, fora todos!

— as propostas de diretas-já devem ser substituídas pelo apelo à abstenção expresso no Não vote!

— o apelo por mais empregos deve ser substituído pela palavra-de-ordem Desempregados de todo o mundo, uni-vos!, no sentido de que passemos a produzir para satisfazer necessidades humanas de consumo para todos e com o esforço produtivo de todos, ao invés da produção e valor (dinheiro e mercadorias) que perpetua a dominação capitalista.
Devemos fazer o impossível, porque o possível está velho. (por Dalton Rosado)

Um comentário:

SF disse...

>

Aí o coroné cheio da manguaça disse: é hoje que esta vaca vai voar!
E começou a atirar para cima tentando assustar a bichinha...
O guacheba falou: mas, coroné, vaca não voa!
- Voa sim! Porque tô mandano!
O professor sentenciou: não voa por causa da Lei da gravidade.
O coroné rematou: então, eu vou revogar esta Lei! (E deu um tiro mortal no animal)
- Tá vendo? a alma dela voando ao céu?

Os antigos atribuiam a separatividade, e o decorrente egoísmo, a causa de todos os males humanos.
Mitos e mitos foram criados tentando mostrar que se deve superar essa faceta tenebrosa do homem.

E este equívoco prevalece até hoje.
O de que se pode derrogar as Leis da Natureza.

Ocorre, que eles não tinham microscópios que mostrassem que todo ser vivo é separado do meio e dos demais por membranas, tegumentos, cápsulas e epidermes.
O organismo vivo é insulado.
Por isto, só matando, para fazê-lo retornar a indiferenciação.

Enquanto vivo, o vivo é isolado, ego centrado, diferenciado, limitado e egoísta.

As sociedades criadas por tais tipos de seres são decorrentes da sua natureza e não o contrário.
O imperativo egoísta, preside e determina toda a relação do vivo com o ambiente e com os demais.

Lei.

Norma que independe da volição de qualquer ser para ser cumprida.

Portanto, é falácia asseverar que é o capitalismo quem cria o egoísmo.

Quanto ao morticínio observado e o balanço na civilização, nada mais lógico.

Estes expurgos ocorreram periodicamente entre os homens.

E nós somos os descendentes dos que escaparam.

Hoje percebemos a nova onda de barbárie que se apossa da humanidade.

Sobreviveremos, como o fizeram nossos antepassados?

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