Por Rolando Astarita |
"Uma questão fundamental, que a esquerda muitas vezes parece passar por cima [ao analisar a crise venezuelana], é que não se pode construir socialismo algum contra a vontade da maioria da população. O velho ditado de que as baionetas servem para tudo, menos para sentar-se em cima, se aplica ao socialismo do século 21.
Com o agravante de que o programa chavista nem sequer tem traços de algo que possa ao menos aproximar-se do socialismo, entendido este como controle e administração por parte dos trabalhadores dos meios de produção e mudança.
O que houve foi um capitalismo de Estado, dirigido por burocratas e militares, em cujo amparo se enriqueceu uma nova burguesia, e que fracassou por completo em tudo que tenha a ver com o desenvolvimento das forças produtivas. O resultado hoje é que muitos venezuelanos hoje identificam o socialismo com a fome e privações que estão a padecer. As manifestações [contra o governo], portanto, são a resposta lógica de um amplo setor da juventude e da população, mais trabalhadores assalariados e estudantes.
Não se pode dizer que estejamos diante de uma ditadura ao estilo Pinochet ou Videla. Mas, sim, diante de um regime com traços cada vez mais bonapartistas: a anulação, de fato, da Assembleia Nacional; os tribunais militares que julgam manifestantes; o sinal verde que se deu aos coletivos para reprimir.
Não se pode dizer que estejamos diante de uma ditadura ao estilo Pinochet ou Videla. Mas, sim, diante de um regime com traços cada vez mais bonapartistas: a anulação, de fato, da Assembleia Nacional; os tribunais militares que julgam manifestantes; o sinal verde que se deu aos coletivos para reprimir.
E, claro, registra-se ademais um fortalecimento do poder militar e sua ingerência no Estado. De 32 ministros, 11 são militares e 11 estados têm governadores militares. Tudo converge para o mesmo lado: um regime bonapartista, muito repressivo.
Além disso, a dinâmica na qual está embarcado o regime aponta para mais uma forma de ditadura aberta. Aproveito para destacar que este curso é apoiado por intelectuais de esquerda que pedem a Maduro que parta para a repressão aberta. Na prática, seria colocar o exército na rua. De fato, é o velho critério stalinista: essa gente pensa que o socialismo se constrói sobre montanhas de cadáveres, com campos de concentração, prisões e polícia secreta. Sem importar o que possa sentir ou pensar a maioria da população."
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(trechos de entrevista recente de Rolando Astarita, economista venezuelano
de orientação marxista que se contrapõe tanto ao regime de
Maduro quanto à oposição direitista)
(trechos de entrevista recente de Rolando Astarita, economista venezuelano
de orientação marxista que se contrapõe tanto ao regime de
Maduro quanto à oposição direitista)
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