sábado, 10 de junho de 2017

O IMPASSE BRASILEIRO: O POVO NÃO ENGOLE A AGENDA DO CAPITAL, MAS OS PODEROSOS DELA NÃO ABREM MÃO.

Toque do editor
Tenho dificuldade cada vez maior para encontrar, tanto na grande imprensa quanto nas redes sociais, textos que me tragam informações relevantes, análises perspicazes e me levem a admirar o caráter do autor. Estes três requisitos dificilmente andam juntos.

Então, é alentador ainda existir um Clóvis Rossi que, aos 74 anos, mantém uma coerência exemplar e uma profundidade de raciocínio invejável.

É o caso de sua avaliação do julgamento da chapa Dilma-Temer na Justiça Eleitoral. Mesmo compartilhando a repulsa que os ministros do TSE inspiraram em quase todos que acompanharam sua atuação, ele não se contentou com o simplismo maniqueísta amplamente dominante, indo ao fulcro do problema.

Os antológicos parágrafos finais do seu artigo O Brasil fica incompatível com o brasileiro estão abaixo. Confiram, pois vale muito a pena!. 
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Rossi: desencontro irremediável.
"Há um desencontro aparentemente irremediável entre a maior parte do público e as instituições. E não apenas em relação à permanência de Michel Temer na Presidência.

Acho até que ela é irrelevante para o que velhos marxistas chamariam de classes dominantes. Tanto é assim que Henrique Meirelles, o representante dos negócios e das elites no governo, já disse que fica na Fazenda, com Temer ou sem Temer.

Fica por uma razão muito simples: a agenda que Temer tenta levar adiante é a agenda obrigatória para quem o substituir, em eleição direta ou indireta, agora ou em 2018.

O teto de gastos e as reformas trabalhista e previdenciária foram impostas por uma coligação informal entre os agentes de mercado e os partidos políticos à direita do centro.
Agenda  de Temer é "a agenda obrigatória para quem o substituir"

Desafiá-la levaria ao mesmo problema enfrentado por Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2002. 

Ele teve que render-se à pressão dos mercados – que forçaram a alta do dólar e pressionaram a inflação – sob pena de ter seu governo desestabilizado já na partida.

Não por acaso, Lula escolheu para conduzir a economia, como presidente do Banco Central, o mesmo Henrique Meirelles que manda nela de novo agora.

Não vou discutir se a agenda é correta ou não. Que reformas são necessárias, não há a menor dúvida. Mas o formato agora adotado é rejeitado pela maioria da população, conforme mostram todas as pesquisas.

Pode funcionar decentemente um país em que há uma agenda imexível e uma sociedade majoritariamente contrária a ela?"

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