quinta-feira, 15 de junho de 2017

DESTA VEZ O PALHAÇO QUASE CONSEGUIU BOTAR FOGO NO CIRCO. E TENTARÁ DE NOVO!

Michel Temer manteve a Presidência da República, tendo sobrevivido a uma das mais estapafúrdias e destrambelhadas tramoias da política brasileira em todos os tempos. 

Espera-se que, agora, a sociedade apresente a conta aos conspiradores trapalhões, por terem virado o País de pernas pro ar a troco de nada, prolongando por mais alguns meses a agonia em que se debatem os brasileiros desde 2015, quando se iniciou a fase mais aguda da recessão atual.


E que os esquerdistas sinceros ponham a mão na consciência e decidam se o que querem é apenas contribuir para que o povo brasileiro seja mantido na ilusão de que o capitalismo e a democracia burguesa funcionam, bastando se colocarem corruptos na cadeia e impedi-los de disputar eleições para a classe operária chegar ao paraíso. 

Quem conhece um pouco de História sabe muito bem que esta solução simplista continuará tendo o mesmíssimo resultado das tantas e tantas tentativas semelhantes já efetuadas, com a cruzada moralista um dia findando e a corrupção voltando revigorada. Da esquerda se espera que tenha a coragem política e moral de abrir os olhos dos eternos iludidos.

Agora, p. ex., o Governo Temer está sendo rejeitadíssimo porque se disseminou a falácia de que ele seria o grande responsável pela imposição das reformas trabalhista e previdenciária aos brasileiros, como se não fosse exatamente isto que pretendeu Dilma Rousseff ao entregar a condução da política econômica, no seu segundo mandato, ao neoliberal Joaquim Levy. O pecado de Temer, portanto, é outro: estar conseguindo atender às exigências dos poderosos, enquanto Dilma fracassou nesta tarefa, embora tentasse com afinco.
As reformas do ex-ministro do Lula e atual do Temer...

É o que o veterano jornalista Clóvis Rossi esclareceu num artigo irrespondível:
"A agenda que Temer tenta levar adiante é a agenda obrigatória para quem o substituir, em eleição direta ou indireta, agora ou em 2018.
O teto de gastos e as reformas trabalhista e previdenciária foram impostas por uma coligação informal entre os agentes de mercado e os partidos políticos à direita do centro.
Desafiá-la levaria ao mesmo problema enfrentado por Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2002. 
Ele teve que render-se à pressão dos mercados – que forçaram a alta do dólar e pressionaram a inflação – sob pena de ter seu governo desestabilizado já na partida".
Seria muito simples se bastasse retirarmos o bode Temer da sala para resolvermos o impasse entre o que os poderosos querem e o que o povo quer. Mas, na vida real, isto levaria apenas à posse de outro bode, que incumbiria seu ministro da Fazenda de levar adiante a obra de Joaquim Levy e Henrique Meirelles, até que aquilo que os poderosos querem fosse socado goela dos brasileiros adentro.
...são as mesmíssimas tentadas pelo ex-ministro da Dilma.
O verdadeiro inimigo é o poder econômico. E a esquerda trai sua missão e sua razão de ser ao fingir acreditar que as necessidades dos explorados possam vir a ser atendidas sob o capitalismo, qualquer que seja o presidente da República. 
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MUITO BARULHO
POR NADA
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O processo na Justiça Eleitoral não passava de um Plano B, uma garantia adicional de que Dilma Rousseff seria privada do seu mandato presidencial, mesmo que ocorresse algum acidente de percurso com o impeachment. 

Como o Plano A resolveu a questão, o B perdeu sua razão de ser, reduzido a um estorvo; mas, noblesse oblige,  era necessário manter em pé as ilusões jurídicas da democracia burguesa. Assim, não havendo mais como evitar a realização do julgamento, ele deveria terminar com a absolvição da chapa Dilma-Temer.

Ao iniciar-se a terceira semana de maio, já se sabia até qual seria o placar da absolvição: 5x2. De repente, no dia 17, o jornal O Globo desencadeou uma verdadeira blitzkrieg contra Temer, publicando peças da delação premiada do Grupo J&F que deveriam estar sob sigilo de Justiça. 

E o relator dos processos ligados à Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, fez o inusitado: como parte do material havia supostamente vazado, resolveu levantar o sigilo do todo. Agiu como um general que, informado de que o inimigo matara 20 dos seus comandados e 80 estavam feridos, ordenasse: bom, então vamos matar logo os outros 80 também...
O vencedor: Gilmar Mendes. Com muita canelada, chute na virilha e dedo no olho...
O pandemônio se instalou no noticiário, nos mercados e nos partidos políticos, enquanto movimentos sociais ligados ao petismo providenciaram um badernaço em Brasília, culminando no incêndio de Ministérios. A impressão de caos e descontrole era fundamental para forçar Temer a uma renúncia imediata. Tal ocorrendo, a guerra relâmpago teria sido coroada de êxito.

Mas, Temer resistiu. O grande capital, para o qual o importante mesmo é a continuidade do programa de reformas neoliberais, começou a trabalhar em seu favor, por falta de opção melhor (nenhum dos cogitados substitutos de Temer se mostrava especialmente apto para o papel). 

Enquanto isto, jornalões concorrentes passaram a mostrar o outro lado do furo d'O Globo:
— o fato de que a gravação ilegal da conversa de Joesley Batista com Temer fora precedida de uma aula a espiões amadores, ministrada por pessoal da Lava-Jato, embora ainda não estivesse decidido se seria ou não aceita a delação premiada de tais criminosos (isto dependeria do resultado da gravação);  
As regalias do Joesley colocaram em xeque as delações 
— o caráter inconclusivo das intervenções de Temer no diálogo, ficando evidente para qualquer pessoa isenta que a interpretação dada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot não era a única possível, mas sim a única que servia para incriminar o presidente; 
— as fortes suspeitas de que a gravação havia sido editada; 
— a sofreguidão de Janot, tão ansioso por tocar os procedimentos adiante que nem se preocupou em pedir aos peritos federais que verificassem se a gravação cumpria os requisitos legais para servir como prova; 
— a desatenção de Fachin, não só passando batido pelo fato de que a gravação deixara de ser periciada, como também por sua evidente ilegalidade (não houvera autorização judicial para que Joesley a fizesse) e pelos vários indícios de que Temer fora vítima de uma armadilha judicial; 
— as regalias e privilégios repulsivos que os irmãos bandidos obtiveram com a delação, os maiores até agora concedidos a qualquer réu da Lava-Jato.
. DEPOIS DE MIM, O DILÚVIO...
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Se a toga fosse maior, daria para ocultar também a cara
Os conspiradores não conseguiram tanger Temer à renúncia, nem fazer com que perdesse o mandato no julgamento do TSE. Ou seja, não conseguiram nada. Entraram como leões, saíram como cães.  

Mas Janot não se dá por vencido. Falta-lhe sensibilidade para perceber quão exausta está a sociedade brasileira depois de tantos sobressaltos e de período tão longo de rigores, querendo acima de tudo sair do sufoco, sem mais paciência com os prejuízos concretos que lhe acarretam essas sucessivas tempestades em copo d'água.  

Então, ele vai usar todos os expedientes possíveis e imagináveis para em setembro, ao final de sua passagem pela PGR, levar uma cabeça presidencial como troféu. E parece estar pouco se importando se, com isto, fizer um dilúvio abater-se sobre o País.

Sua patota andou cochichando nos ouvidos de jornalistas amigos que a cartada seguinte vai ser a apresentação de uma denúncia de corrupção contra o presidente. Não dará a mínima para o fato de que, via TSE, a substituição de Temer poderia ser razoavelmente rápida, ao passo que com um impeachment o desenlace ficará para bem depois, só no ano que vem. 

Como a abertura do processo exige a aprovação da Câmara Federal e do plenário do Supremo Tribunal Federal, bota uns dois meses nisso (no mínimo!). 
Novas tentativas de abrir as portas do inferno virão

Vamos supor que, vencidas estas duas barreiras, Temer seja afastado provisoriamente em agosto, com Rodrigo Maia herdando a cadeira e a caneta presidencial (Deus nos acuda!). Aí, mesmo que o processo não consuma os 180 dias de prazo-limite, só estaria concluído lá pelo final do ano.

Marcada uma eleição indireta para 30 dias depois (com o adiamento do recesso dos parlamentares), poderíamos ter um novo presidente em fevereiro, para governar no máximo 11 meses. Mas, governo efetivo mesmo, só até agosto, quando a campanha presidencial ferve e passa a ser a prioridade nº 1 dos políticos profissionais.

Tudo considerado, a tendência seria de que as incertezas se prolongassem, afugentando investimentos, até a posse do novo presidente, no dia 1º de janeiro de 2019. Ou seja, o que Janot quer é que tenhamos pela frente mais um ano e meio com a situação econômica tão ruim como está agora, ou pior ainda.

É inacreditável que uma autoridade supostamente responsável tudo faça para nos impor tal pesadelo! Não terá consideração nenhuma pelo povo sofrido, indefeso, massacrado, que anda matando cachorro a grito desde 2015?!  
Número de desempregados já ultrapassa a casa de 14 milhões. Até quando?!
E, quanto aos que se dizem esquerdistas mas se mostram fanaticamente empenhados em propiciar o caos, só me resta lembrar-lhes que quem pretende servir à causa do povo não pode fazer política movido pela bílis. Precisa ter idealismo, clareza de raciocínio e. mais do que tudo, identificação com os humildes e disposição solidária para atenuar suas desditas.

Três características extremamente escassas hoje em dia.. 
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O RESCALDO DA TRAPALHADA
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O desvio de finalidade cometido por autoridades ligadas à Lava-Jato, ao direcionarem sua atuação para um objetivo flagrantemente político (a derrubada de um presidente) ao invés de se manterem no terreno do combate à corrupção, servirá, em muito, como munição para os políticos encalacrados unidos desfecharem um contra-ataque, movidos pelo instinto de sobrevivência. 

Também começam a avolumar-se os questionamentos de arbitrariedades e excessos cometidos ou autorizados por policiais, promotores e procuradores. Como advertiram Christian Lynch e Rodrigo Vianna, o que eles parecem estar tentando é implodirem o sistema político para que, sobre seus escombros, brote algo diferente, que nem mesmo os demolidores têm clareza quanto ao que possa vir a ser.

Trouxe-me à lembrança a explicação que, em Deus e o Diabo na Terra do SolAntônio das Mortes dá para sua faina exterminadora de cangaceiros e fanáticos: ele antevê o dia em que o povo enfim se revoltará contra os poderosos e acredita que tal guerra deva ser travada "sem a cegueira de Deus e do diabo", daí estar limpando o caminho para o conflito apocalíptico...

A falta de clareza dos tenentes de 1930 fez com que sua ação abrisse caminho uma ditadura de 15 anos e, de certa forma, inspirasse outra ditadura pior ainda, a dos generais, que durou 21 anos.
O autoritário tenentismo fardado de 1930...

E também por conta da falta de clareza, os ativistas do meio jurídico agora poderão, como alerta Vianna, propiciar o surgimento de "uma liderança autoritária, que ofereça um sentido para a destruição promovida pelo tenentismo togado (...), mas agora com um sentido regressivo, de recolonização do Brasil".

Afora os temores que nos deve inspirar o fato de ser uma atuação política nascida no meio jurídico. O fantasma do advogado Maximilien de Robespierre nos ronda. Jamais podemos esquecer o terror jacobino, quando a revolução devorou os próprios filhos!

E seus abusos, característicos de estados policiais, inspiram comparações com  os jacobinos da Grande Revolução Francesa. É bem capaz de a História repetir-se, com o pântano finalmente criando coragem para reagir contra o terror que Curitiba lhe inspira.

Quanto às Organizações Globo conseguiram reeditar um dos seus piores momentos, o escândalo Proconsult, tanto em termos de armação canhestra, quanto de resultados desastrosos. A demonstração de fraqueza que deu deverá custar-lhe caro, em termos de saúde financeira e de influência. 
...e o também autoritário tenentismo togado de 2017.
Fachin até agora não desmentiu que tenha mantido uma ligação perigosa com Joesley Batista e dele recebido favores. Então, ao abençoar a delação super-premiada de Joesley, não se declarando impossibilitado de atuar neste caso por envolvimento com a parte, arriscou-se a perder não só a relatoria, como a própria condição de ministro. Por mais que se tente abafar o caso com diatribes corporativistas ao invés de elucidá-lo, os prejudicados por Joesley Batista não deixarão isto acontecer. Fachin tem de torcer muito para que Charles De Gaulle estivesse certo ao dizer que o Brasil não era um país sério.

Finalmente, parte da esquerda, ainda presa à narrativa do golpe, embarcou ingenuamente no derruba Temer!, sem sequer perguntar-se o que estava fazendo quando atendeu ao chamado da Globo. Respondo eu: colocando azeitona na empada alheia, ao aceitar servir como força auxiliar numa disputa de poder entre facções burguesas.

A lição de casa continua por ser feita: 
— uma profunda autocrítica do papel que tem desempenhado nos últimos anos, culminando na derrota acachapante em que se constituiu o impedimento da Dilma; e  
— a retomada da tarefa primordial de organizar o povo para o combate cotidiano ao capitalismo, como etapa necessária no sentido de acumular força para voos maiores.
A esquerda precisa desistir das mordomias palacianas e reencontrar o caminho das ruas
Para recuperar o protagonismo, precisa ampliar e enrijecer suas fileiras – e muito! A participação destacada nas lutas sociais é bem mais importante para a esquerda neste momento do que vencer quaisquer eleições, inclusive a de presidente da República.

Quanto à derrubada de presidentes, só faz sentido quando se tem um programa alternativo verdadeiramente de esquerda para colocar em prática e as massas organizadas para darem sustentação ao governo popular. 

Como os dois requisitos inexistem neste instante, do ponto de vista de uma esquerda consequente, tentar fazê-lo mesmo assim seria, no mínimo, uma leviandade; afora o risco de fortalecer o inimigo, dando-lhe ensejo para trocar um presidente fraco por um bem mais competente, como decerto seria, p. ex., o FHC.

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