quinta-feira, 6 de abril de 2017

HORRORIZADO COM A FEIRA DA MORTE, DALTON ROSADO DÁ UM VIVA À VIDA!

"A guerra nada mais é que continuação
da política por outros meios" 
(Carl von Clausewitz)
.
O noticiário da grande mídia retrata diariamente, consecutivamente, insistentemente, de modo repugnante e por vezes contraditório e hipócrita, a bestialidade da guerra convencional e urbana em curso no planeta.   

Depois da devastação causada pelas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, que mataram entre 129 mil e 246 mil seres humanos (cerca da metade de imediato e os demais como consequência das queimaduras, envenenamento radioativo e outras lesões que foram agravadas pelos efeitos da radiação), pondo fim à estupidez suicida da resistência japonesa esfacelada, viria algo novo.

Pensou-se que o poder destrutivo alcançado, bem como o horror causado pelo novo e devastador potencial bélico recém-descoberto, que se somava às traumáticas histórias de aniquilamento de vidas e barbárie ocorridos na 2ª guerra mundial, fariam com que a humanidade reavaliasse o seu instinto animalesco genocida – se não por sentimento de fraternidade, ao menos por medo. 

Ledo engano. A guerra quente logo voltaria, alimentada pela guerra fria e com ela se alternando, motivada pelo mesmo leitmotiv anterior, qual seja a disputa pela hegemonia do poder político-econômico entre os aliados vitoriosos na  guerra mundial. Tal retomada foi uma consequência da própria natureza do capitalismo. 

Assim, de 1950 a 1953 se travou a Guerra da Coréia, entre o Norte pró-comunistas e o Sul pró-capitalistas (uma falsa dicotomia na essência, pois a diferença era e ainda é meramente política), evidenciando que tudo continuava como dantes no Quartel de Abrantes. 

Hoje assistimos à presença dos mesmos interesses mesquinhos que estão na base de todas as guerras. Há um certo alheamento do significado desta questão por parte da maioria das pessoas, que não se apercebe do paradoxo que ela representa e da dose de hipocrisia que a envolve.

Uma emissora de TV exibiu nesta 3ª feira (4) uma matéria sobre a maior feira de artefatos bélicos da América Latina, que está se realizando no Riocentro (RJ): a Laad Defense & Segurity. Nela são mostradas as mais modernas armas da morte, que arrancaram elogios da apresentadora, como se sua finalidade fosse nobre e não infame.

A mostra sinistra atraiu, na sua maioria, industriais, comerciantes e muitos militares fardados, que observavam os itens, filmavam-nos e fotografavam. Trata-se de um comércio que movimenta bilhões de dólares mundo afora, o que bem demonstra o estágio inferior da civilização sob a égide do capital. Uma civilização belicista.

Pior ainda foi a reportagem, após destacar os méritos da alta tecnologia da morte, ter-se encerrado com os augúrios de que a feira gerasse grandes negócios, capazes de dar um ânimo à combalida economia nacional (já que o Brasil ocupa posição de destaque na produção industrial de armas). 

Ou seja, que importa a morte de muitas e muitas pessoas, se isto alavancar a retomada econômica? O prioritário é que se produza valor. Só faltou acrescentar "às favas os escrúpulos!", como disse certa vez o ministro do Trabalho Jarbas Passarinho, aparentemente preocupado com a falta de trabalho para os coveiros..
E QUANDO TAIS BRINQUEDINHOS SÃO UTILIZADOS, O QUE ACONTECE?
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Veio em seguida uma matéria sobre o extermínio de crianças na Síria, atingidas pelo gás Sarin, aquele que não tem cheiro e nem cor, ataca o sistema nervoso e mata queimando o corpo e sufocando a vítima. Por sua letalidade e crueldade, seu uso é tipificado como crime de guerra

A mesma repórter que antes torcia por um boom na produção e venda de equipamentos bélicos, mostrou-se indignada com a morte das crianças, como se uma coisa não tivesse ligação direta com a outra (a natureza político-econômica é a mesmíssima!). 

É incrível como tantas pessoas são contraditórias nas suas avaliações quando se prostram ao imperativo de se obter desenvolvimento econômico a qualquer custo, ainda que com práticas genocidas. [É o caso do retrocesso ecológico patrocinado pelo mais novo tirano salvador da pátria – Donald Trump , que quer a volta ao primado do carvão como combustível fóssil, em substituição à moderna exploração de energias limpas ora em fase de desenvolvimento tecnológico.]     

Acaso o bombardeio de Bagdá por parte dos EUA, visando atingir Saddam Hussein mas matando milhares de crianças, não se configurou como crime de guerra ou terrorismo de estado? 
EUA bombardeando Bagdá. Neste caso, houve menos lágrimas para as crianças mortas...
Acaso a morte de uma jovem atleta de 13 anos, no interior da escola de Acari, RJ, por uma bala de fuzil que não se sabe quem disparou (noutro dia foi mortalmente alvejada mais uma jovem de 13 anos, no mesmo bairro e não por mera coincidência) não se caracteriza como barbárie capitalista? 

Acaso a execuções recíprocas de militares e meliantes rendidos não significa um estágio de guerra urbana bárbara?   

Acaso o atentado no metrô da cidade russa de São Petersburgo, causador de 14 mortes, praticado em nome de um fundamentalismo religioso bárbaro, não é resultante de uma ordem política, social e econômica igualmente bárbara?

Acaso a morte de um ativista no interior do prédio do Legislativo na capital paraguaia não evidencia que o poder institucional está acentuadamente decomposto?

Acaso as mortes que se sucedem no mundo inteiro em guerras de torcidas de futebol não significa uma catarse social que remete aos mais primitivos instintos humanos?

Acaso todas as mortes provocadas por artefatos bélicos, conduzidas por mentes aferradas a conceitos de socialização equivocados, não se configuram como crimes de guerras convencionais ou urbanas?

Produzir armas e comercializá-las é um crime de guerra. A guerra é um crime, sempre. O capital é sempre um crime.

Mas o capitalismo, como filho da guerra, não pode prescindir dos lucros dessa atividade macabra que é, também e a um só tempo, seu móvel econômico e seu instrumento de coerção bélica, aliado aos outros tipos de coerção (Direito, instituições do Estado, força militar, etc.).

Tentando fugir do desejo irrealizável de entrar no vídeo e demonstrar a contradição e hipocrisia do noticiário, mudo de canal de TV para assistir ao futebol internacional e ouço o hino dos países em disputa por uma vaga na Copa do Mundo de 2018, com letra traduzida para o português. 

Eis que tanto de um lado como do outro só se fala no heroísmo da defesa da pátria e do sacrifício por ela até com a própria morte. Uma certidão do espírito belicista entre os povos, e não da sua fraternidade. 

É que todos esses países e seus modernos Estados foram criados pelo capitalismo. 

Basta! 
Viva a fraternidade entre os seres humanos!

Abaixo as armas, desde as nucleares até as destinadas às guerras convencionais ou urbanas!

Viva a vida! (Dalton Rosado)

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