sexta-feira, 21 de abril de 2017

CLÓVIS ROSSI: "O QUE LEVOU UM JOVEM TROTSKISTA A ADERIR AO NEOLIBERALISMO E DEPOIS À LAMA QUE ESTÁ VINDO À TONA?"

Por Clóvis Rossi
PALOCCI, O ELO QUE
FALTAVA, E SEU
 ESTRANHO PERCURSO
.
A oferta de Antônio Palocci ao juiz Sergio Moro, de apresentar "nomes, endereços e operações realizadas" que, segundo o próprio Palocci, interessam à Lava Jato, é a oportunidade para encaixar o elo que falta na imensa corrente de corrupção montada no país..

É sabido que esquemas mafiosos, como o que as construtoras armaram com seus asseclas do mundo político, geralmente só são desmontados a partir do momento em que solta a voz alguém de dentro.

Foi o que aconteceu com os executivos da Odebrecht e de outras construtoras e com ex-diretores da Petrobras. Faltava o elo final: a delação de alguém, como Palocci, que esteve no governo e era figura chave no partido que deteve o poder de 2003 a 2016.

De certa forma, a oferta do ex-ministro ao juiz Moro já é uma confissão de culpa. Se ele sabe de "nomes, endereços e operações realizadas" de interesse da investigação, é porque participou dos trambiques.

Aliás, a fala de Palocci contradiz frontalmente a carga que fazem os petistas e alguns aliados contra a Lava Jato, acusada de abuso de autoridade. Palocci disse, ao fim do depoimento, que contaria o que sabe porque a Lava Jato faz bem ao país. Se é assim, não há abuso mas uma investigação que dá resultados.

O que me intriga no caso Palocci é os motivos que o levaram a envolver-se nos atos que agora se dispõe a dar a público.

O que levou um jovem trotskista a, primeiro, aderir ao neoliberalismo e, depois, à lama que está vindo à tona?

Tivemos um relacionamento bastante cordial durante seu período como coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 (depois da morte ainda cercada de sombras de Celso Daniel), e depois como ministro da Fazenda.

Foi ele, aliás, quem me procurou primeiro, quando o normal é que repórteres tomem a iniciativa de fazer contato com fontes de informação.

Nossas muitas conversas nesses dois períodos foram igualmente fora do padrão (do meu padrão pelo menos): eram verdadeiras discussões sobre política econômica, quando, em geral, eu me limito a fazer perguntas, ouvir respostas, eventualmente reperguntar, mas não debater com o interlocutor.

Com Palocci, uma vez, numa das indefectíveis sessões de pergunta e resposta (pingue-pongue, no jargão jornalístico) para o balanço do ano (2004 ou 2005, já não me lembro), tivemos um bate-boca sobre o calote dado pela Argentina na sua dívida.
Palocci (1º à esq.) quando ainda era da Libelu. Quem te viu, quem te vê...
Pareceu-me, sempre, um médico (sua profissão original) do interior (Ribeirão Preto) transformado em homem público e imbuído da missão de trazer a política de seu partido de toda a vida (o PT) da esquerda para o liberalismo.

Se ele ainda continuasse revolucionário, como todo trotskista deve ser, eu até entenderia: inviabilizada a revolução no Brasil, fica a tentação de enriquecer, quaisquer que sejam os meios empregados.

Mas, tendo se convertido à moderação, a ambição de enriquecer poderia ter se moderado igualmente, até porque, como político e consultor, acabaria enriquecendo de qualquer forma, talvez mais lentamente.

Tudo somado, eu gostaria de conversar com ele em Curitiba, não só para saber nomes e operações que ele se dispõe a delatar mas para viajar à cabeça de um homem público transviado.

5 comentários:

Marcos Carvalho Campos disse...

muita acusação , muita convicção e pouca prova , de novo. Quer dizer que se um sujeito sabe de alguma falcatrua de alguém , obrigatoriamente , este sujeito participou da falcatrua ? Isto é que é forçar a culpa de alguém ... Menos Rossi menos .

Leandro Ramos Benfatti disse...

O que faz uma pessoa abandonar sua ideologia socialista e trotskista e sua coerência tal como o Palocci é o dinheiro. $$$$$$$$

celsolungaretti disse...

Marcos, ao fazer o oferecimento que fez, da forma repulsiva como fez, o Palocci já assumiu completamente a culpa.

Desde que essa ciranda infernal começou, eu não havia visto nenhum réu arrastar-se com tanta falta de dignidade aos pés do Moro. Trotsky morreria de vergonha de tal "discípulo"...

celsolungaretti disse...

Leandro, o Clóvis Rossi esqueceu de dizer que o Palocci começou a descer a ladeira quando aceitou ser ministro de um governo que já nasceu comprometido a respeitar os interesses maiores da burguesia, conforme o pacto firmado pelo Zé Dirceu com alguns dos capitalistas mais poderosos em 2002 e ratificado pelo Lula na "Carta aos brasileiros".

Ou seja, primeiramente ele desistiu da revolução e aceitou ser mero gerente da economia sob o capitalismo. Depois desistiu da moral revolucionária e se tornou um corrupto. Agora, se oferece como delator, prometendo mundos e fundos ao Moro para que este o aceite na nova função.

E pensar que teve petista que o defendeu quando ele violou o sigilo bancário do Francenildo, usando todo o poder de um ministro de Estado para achatar um coitadeza!

SF disse...

A imagem que me vem é a do feirante na hora da xepa. O cara era tão inteligente, mas não soube mascatear. Essa difícil arte do "timing". Os executivos da estatal, muito mais atilados, rapidamente fizeram a analise correta do mercado e venderam fácil a informação.

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