quinta-feira, 26 de maio de 2016

APOLLO NATALI: "A VEZ DO TADEUZINHO"

A história do Tadeuzinho merece ser contada.

Ele é correspondente do jornal O Estado de S.Paulo na cidade paulista de São Luis do Paraitinga. Mas não faz só isso. O dia dele parece ter 48 horas. 

Começa correndo cinco quilômetros. Na sequência, caminha uma légua. Em seguida pedala outro tanto na sua bicicleta enferrujada. Trabalha o dia inteiro numa escola com tempo para fabricar caixões de defunto, exercer a função de agente pastoral dos enfermos, recomendar os mortos velados na igreja, ajudar nas missas e fazer suas reportagens pelas cidades da região.

São Luiz do Paraitinga é um município do estado de São Paulo, no Brasil. É um importante destino turístico da região do Vale do Paraíba, em particular devido ao seu Centro Histórico, tombado como Patrimônio Cultural Nacional, e suas tradições caipiras, incluindo a Folia do Divino e o Carnaval de Marchinhas.

Tadeuzinho se encaixa em todas essas vivências e contei a história desse brasileiro serelepe em 1981, numa reportagem para o hebdomadário O Estadinho, então o órgão de comunicação dos 7 mil funcionários do jornal O Estado de S.Paulo.

A vida precisa ser vivida e falta tempo para a maioria se informar sobre tudo. No entanto, qualquer cidadão aprisiona em sua garganta a pergunta que não cala: se esse bom menino, com seus limites físicos naturais e intrincados problemas existenciais (comuns a todos os seres humanos), se esse menino consegue levar adiante incansavelmente seu projeto de vida por inteiro, por que o Brasil não tem sequer uma bicicleta enferrujada para pedalar contra a corrupção? Recorde-se: a corrupção no Brasil é endêmica. É uma doença. Um vírus. Onde a vacina para combatê-lo?
Hoje ministro do STF, Barroso foi o advogado de Cesare Battisti.

Alguns amigos me lançam na cara, elogiosamente, e eu não mereço, a pecha de eu ser cronista. Dizem que me envolvo emocionalmente com os assuntos que compreendemos melhor a partir da frieza analítica. Que seja.

Com toda a emoção de um cronista, nenhuma frieza analítica, louvo a recente sugestão do ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso, de defender o fim do foro privilegiado.

O foro privilegiado, reservado aos julgamentos de políticos, leva à impunidade, porque é demorado, admitiu o ministro, revelando que hoje há 369 inquéritos e 102 ações penais dormindo –eu é que faço uso dessa palavra nas gavetas do Supremo.

No Brasil é mais fácil colocar na cadeia um menino portando 100 gramas de maconha do que um agente público que cometeu fraude de milhões, denuncia Barroso,  prática essa a merecer o título pomposo de canalhice da justiça brasileira.

Enfim, já podemos soltar o grito nada analítico e todo emocionante de uma crônica: achamos! Achamos a solução Luis Sérgio Barroso achou a solução para, finalmente, arquitetar um combate eficaz contra a impunidade dos políticos no Brasil.

Barroso é o feliz descobridor da vacina.
Bandeira erguida de um cronista: fora o privilégio da impunidade para os políticos corruptos, que, com sua ação de produzir a putrefação da vida humana, tornam um jogo de sinuca a sobrevivência de um país e de todo um povo!

É a vez do Tadeuzinho, ops, do ministro Luis Roberto Barroso, de pedalar na bicicleta enferrujada da Justiça e ver suas justíssimas e almejadas pretensões obterem a aprovação dos mais altamente togados deste país. Depressinha, por misericórdia! suplica o Brasil.

Que perca definitivamente a validez desta atual definição brasileira de Justiça: um bem caro, ao qual apenas têm acesso os que possuem, e bem-aventurados os que possuem, porque jamais verão o Sol nascer quadrado.

O mundo inteiro gosta do Brasil e está de ouvido atento para compreender o que acontece neste país continental, de abençoadas raças misturadas, 220 milhões de habitantes, tido como um povo gentil e endemicamente corrupto.

Por favor, continuem amando o Brasil, vocês do mundo inteiro: a derrubada da presidenta Dilma é apenas mais um acidente de percurso entre os milhões já perpetrados na caminhada milenar da democracia, desde que esse regime de o povo se governar a si mesmo surgiu, não na Grécia, mas sim, pasmem, há 10 mil anos, na região onde hoje se situam Irã, Iraque e Síria!

Era democracia de assembléia. O Velho Testamento dos hebreus, hoje apropriado pelos cristãos, está repleto de citações de anciãos reunidos em assembléias para governar na antiquíssima Mesopotâmia.

De volta à crônica, de volta à emoção:

–de imediato, enquanto não se sepulta o direito malandraço de foro especial, e para se começar a pedalar já contra a corrupção daqueles políticos que só não roubam mais porque lhes falta talento e arte para tal, o ministro Luis Roberto Barroso defende a criação de uma vara especial com sede em Brasília para centralizar julgamentos dos corruptos privilegiados com foro. Ela teria à frente um juiz escolhido pelo Supremo Tribunal Federal, com mandato de dois anos e auxiliares para ajudá-lo.

Viva!

O Brasil tem solução!

No caixão mortuário, já, a corrupção e os políticos corruptos!

Para um cronista, é pedir muito?
Fica a obra e esquece-se o autor, ensina a fala de Machado de Assis. Fica a vara especial para julgar fulminantemente políticos corruptos e esquece-se, com o passar do tempo, os autores da corrupção, devidamente punidos. Eles merecem.

Choram mais os cronistas: o Brasil está mais do que a merecer uma justiça digna desse nome, um povo politizado, um Estado que não tenha a cara de um carrasco do povo.

Choram ainda os cronistas: o que está por trás do que os políticos dizem e fazem? Que ímpetos empurram essas almas igualmente criaturas de Deus a fazer cara de santo antes das eleições e exibir cara de pau, depois? Que força os move, que comportamento é esse, que gênese da corrupção é essa, a desesperançar a natureza humana de inclinação para o trabalho honesto e respeito às pessoas? Que Brasil pretendem esses auto-intitulados deuses, que controlam nações e destinos individuais por meio da profissionalização da corrupção? Cabe aqui uma paupérrima rima, mas perfeitamente válida: fora o foro privilegiado!

De quem a culpa pela corrupção milenar dos mais altos representantes do povo nos governos tidos como democráticos?

De Adão e Eva, por terem comido uma miserável de uma maçã? (por Apollo Natali)

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