Para quem usa os olhos, os ouvidos e o espírito crítico para captar e interpretar a realidade, ao invés de antolhos ideológicos e fanatismo, são extremamente descabidas e oportunistas as comparações que a presidente Dilma Rousseff faz de sua agonia com as João Goulart e também Getúlio Vargas). Ontem (30/03) mesmo (vide aqui) o observei:
"Quando um governo que está caindo de podre faz batota com a História para tentar igualar um golpe de estado clássico a uma destituição de presidente pelas vias constitucionais –o paralelo pertinente com o quadro atual é, isto sim, o defenestramento de Fernando Collor em 1992–, justifica-se plenamente a recapitulação do que realmente foi a usurpação do poder levada a cabo no dia da mentira de 1964...", etc.
Então, nada existe a estranhar que o competente jornalista Rogério Gentile tenha batido hoje (31/03) na mesmíssima tecla. Pois se trata, como diria Nelson Rodrigues, do óbvio ululante. Leiam e avaliem.
DILMA É PAR DE COLLOR
Por Rogério Gentile |
Sob o risco de deixar Brasília pela porta dos fundos da história, Dilma se comparou a Jango ao dizer que é vítima de um golpe e pedir a reedição de uma nova campanha da legalidade. Mesmo sem desmerecer o sagrado direito de espernear da presidente, não há como não discordar da analogia. Collor é o seu verdadeiro par.
Assim como o predecessor, Dilma comanda uma gestão desmoralizada pela corrupção. O eleito em 1989 teve no irmão (Pedro Collor) o algoz que o delatou. A atual presidente foi alvejada pelo líder do seu governo. Se tudo o que Delcídio afirmou é verdade, a petista sabia que havia um esquema de superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena.
Dilma, da mesma forma que Collor, também perdeu o controle da base parlamentar na esteira da derrocada de sua popularidade. Cerca de um mês antes de sair do cargo, 68% dos brasileiros avaliavam Collor como "ruim ou péssimo" e 75% pediam impeachment. Dilma é "ruim ou péssima" para 69% e 68% defendem o impedimento. Vale notar que, naquela época, assim como agora, parcela importante da sociedade se dizia contra a medida: 18% declaravam não concordar e advogados conceituados diziam que não havia crime de responsabilidade. Hoje, 27% rejeitam o impeachment.
O então presidente, assim como Dilma, afirmava que o processo era um golpe que "feria regras básicas da democracia". Collor usava a expressão "sindicato do golpe" e comparava os adversários a "porcos". Dilma não chegou a tanto, ao menos em público, mas chama o movimento atual de "conjuração que ameaça a estabilidade democrática".
No caso Collor, a própria "cadeia da legalidade" foi invocada. Aliado do governo, Brizola disse que estavam tentando "garrotear" as instituições. Lula, na oposição, respondeu: "Quero é colocar a ilegalidade na cadeia". Os atores mudaram, alguns trocaram de papel. Mas a história é essencialmente a mesma.
2 comentários:
par de Collor????? Collor e sua turma eram aprendizes de trombadinha perto desses aí..que tem uma estrutura partidária/delinquente que abrange todo o país em todas as esferas do poder publico..por isso não estou tão seguro que vão cair tão fácil assim.
Collor e seus poucos eram batedores de carteira dos arredores da rodoviária perto dessa turma do Al Capone...
Valmir,
naquele tempo eu trabalhava na Coordenadoria de Imprensa do Palácio dos Bandeirantes. O jornalista mais velho da nossa equipe, Antonio Azem, comentou que o Collor só estava caindo por ter utilizado um tesoureiro que servia para Alagoas mas não os grandes centros de poder:
"Nem doido o Mané Português [que administrava o caixa 2 do governador paulista, Orestes Quércia] passaria recibo de pagamento por baixo do pano, fazendo-o com cheque. Sempre foi tudo em dinheiro vivo. O P. C. Farias era juvenil..."
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