A página eletrônica vemprarua, criada a partir das jornadas de protesto de 2013 contra a majoração do transporte coletivo em Sampa, apresenta-se como um "projeto apartidário" que "surgiu da ideia em reunir em um site informações sobre as diversas manifestações [de protesto] agendadas no Brasil"..
Não sei dizer se é só isto ou mais do que isto, pois vai além da função informativa, posicionando-se, em editorial, ao lado dos "movimentos que querem libertar o povo brasileiro deste modelo falido de governo". De qualquer forma, parece cumprir honestamente o papel de agenda, daí eu ter nele pinçado um quadro interessante do que poderá ocorrer neste domingo, 15.
Segundo a relação do vemprarua, as manifestações estão:
- confirmadas em 35 cidades brasileiras, sendo a metade capitais (Aracaju, Belém, Belô, Brasília, Curitiba, Floripa, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Natal, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Luiz, São Paulo, Teresina e Vitória);
- confirmadas em 9 cidades estrangeiras, quais sejam Bruxelas, Lisboa, Londres, Miami, Nova York, Orlando (claro!), Santa Cruz de la Sierra (claro!), São Francisco e Sidney;
- previstas, mas não confirmadas, em 198 cidades brasileiras, incluindo Campinas (onde a partida de futebol marcada para as 16 horas foi mantida para não deixar a TV Globo sem sua atração dominical, e que se dane o povo se ocorrerem distúrbios!), Curitiba, Rio de Janeiro e, até, as três cidades do ABC paulista, berço do PT.
Os protestos do contra tendem a ser mais impactantes... |
Eu insisto: passou da hora de os dirigentes petistas admitirem que grassa muito descontentamento entre os brasileiros e que alguma forma de compartilhamento do poder deve ser tentada, caso o partido não queira perdê-lo por inteiro.
Até porque, durante a recessão que tende a se agravar cada vez mais ao longo (pelo menos) deste ano, o PT não estaria dividindo louros, mas sim responsabilidades. Custa tanto assim convidarem outras forças para servirem de vidraça junto com eles?
Das opções que se ainda se oferecem ao PT, a pior de todas é deixar tudo como está pra ver como é que fica; a agonia lenta, mesmo que não desemboque num golpe de estado, imporá sacrifícios inimagináveis e insuportáveis aos brasileiros.
Convidar notáveis com credibilidade e independência política para a formação de um gabinete de crise, expelindo no ato os muitos inúteis que apenas representam seus partidos no Ministério, é algo a ser tentado, até porque a governabilidade que o PT pretendia adquirir mediante o loteamento de cargos é uma mercadoria que não lhe está sendo entregue.
O governo de união nacional pelo menos aliviaria as pressões que ora convergem todas sobre o governo. Não acredito que seja uma solução duradoura, mas ganhar tempo é preciso. E os FHCs da vida, digam o que estejam dizendo por enquanto, não poderão se furtar a um chamamento para ajudarem a salvar o País num quadro dramático como o atual. Acabarão tendo de participar, ainda que a contragosto.
Se estas duas opções não vingarem, restará a renúncia de Dilma e Michel Temer, forçando a convocação de novas eleições presidenciais. Não chega a ser nenhuma catástrofe, até porque o Lula começaria a corrida eleitoral como favorito.
A partir daí, sobrarão apenas a hipótese ruim (impeachment, que, se não surgirem motivos legais suficientes para justificá-lo, equivaleria a um golpe branco) e a hipótese péssima (golpe de estado, tanques nas ruas).
Se não for desmontada a armadilha da tempestade perfeita --gravíssimas crises econômica, política e moral interagindo e se realimentando mutuamente--, não duvidem, dificilmente Dilma conseguirá atravessar em agonia lenta os 49 meses e meio de mandato que lhe restam. É tempo demais.
Então, o governo tem de começar a agir. As opções ruim e péssima pendem, como lâminas de guilhotina, sobre a cabeça dos brasileiros.
3 comentários:
Celso meu herói..como bom marxista vc é um otimista incorrigível, quase um positivista como o é de fato quase tudo que passa por esquerda no Brasil..ao ponto de achar que essa merda tem jeito, que basta fazer as coisas certinho, que tudo dá certo no fim..não dá, sinto informar.
Certa vez perguntaram a Trotsky, já em desgraça, o que ele faria se a nomenklatura soviética se tornasse, em definitivo, uma nova classe dominante.
O velho guerreiro respondeu: "Passaria imediatamente a organizar os trabalhadores contra ela".
Eu também percebo que meus alertas caem no vazio e, no fundo, não me consola pensar que um dia a História reconhecerá que eu estava certo (de que valerá, quando eu estiver morto?).
Mas, só sei viver assim, lutando com todas as minhas forças contra os retrocessos. O meu verdadeiro consolo é saber que fiz sempre o possível para evitar os desastres anunciados.
Celso e se a presidente partisse pra a atitude mais radical de todas? uma atitude á la Allende no la moneda?a imprensa pelo menos levaria um choque num primeiro momento e o clima ficaria menos pesado pelo menos durante os proximos 2 meses.
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