quinta-feira, 12 de março de 2015

A INDÚSTRIA CULTURAL ESTÁ A SERVIÇO DE EXTRATERRESTRES?

Por serem pouquíssimos os críticos cinematográficos capazes de enxergar algo além do óbvio, Eles vivem (1988), que reativa nossa seção de filmes para ver no blogue, ficou conhecido apenas por fãs da ficção-científica e apreciado somente como um bom thriller com enredo pitoresco. Deram-no como mais um Halloween da vida (o filme que consagrara John Carpenter), subestimando o potencial deste diretor para voos maiores.

Eles vivem é muito mais. Trata-se, digamos, de um Vampiros de almas (d. Don Siegel) numa ótica de esquerda.

O clássico de 1956 mostrou extraterrestres se infiltrando entre nós por meio do expediente de se tornarem réplicas perfeitas de pessoas reais; dão sumiço nelas e tomam seu lugar na sociedade. 

O filme seria melhor ainda se não alimentasse a paranoia anticomunista: em plena guerra fria, a indústria cultural empenhava-se em convencer os estadunidenses de que quaisquer vizinhos e colegas de trabalho poderiam ser agentes vermelhos em pele de cordeiro.

Em Eles vivem, os extraterrestres estão entre nós com toda sua feiúra, mas um monumental aparato de hipnose coletiva faz com que sejam vistos como cidadãos normais (líderes da sociedade, formadores de opinião) e a manipulação das consciências passe despercebida. 

Eles estimulam desbragadamente o consumismo e o conformismo, tanto que os outdoors têm como mensagem subliminar "Obedeça!", "Submeta-se!", "Não pense!", "Compre!", "Veja TV!", "Trabalhe 8 horas!" "Durma 8 horas!", "Tenha 8 horas de lazer!", etc.

Percebe-se nitidamente que o inimigo, na verdade, é a indústria cultural e as ilusões que ela martela e impinge, mesmerizando o homem comum. Isto em meio a uma crise econômica que chega até a lembrar a grande depressão dos anos 30 (outra ótima sacada!).

É pena que os mesmerizados, exatamente por o serem, não tenham percebido o que Carpenter estava querendo dizer.

E é também lamentável que este filme inteligente, com clima tenso e ótima trilha musical blueseira (criada pelo próprio Carpenter, um caso raro de cineasta compositor), não reúna atores à altura de suas ambições, a ponto de o papel principal caber a um canastrão das marmeladas de luta-livre, o canadense Roddy Piper. Por conta disto, há uma sequência de quebra-pau perfeitamente dispensável, servindo apenas para contentar os fãs do wrestler.

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