quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

SUPLICY: UM GULLIVER EM MEIO AOS LILIPUTIANOS POLÍTICOS E MORAIS.

O companheiro Eduardo Suplicy fez um balanço dos seus três mandatos sucessivos como senador por São Paulo (totalizando 24 anos), que pode ser acessado aqui

Infelizmente, magnificou as miudezas da política oficial, que servem como trunfos na caça aos votos mas não cheiram nem fedem numa perspectiva histórica, enquanto condensou o que havia de realmente significativo na sua trajetória num sucinto e insuficiente parágrafo. Este:
"Em todo o meu mandato, procurei sempre estar presente nos mais diferentes lugares para atender a chamados quando direitos humanos foram feridos. Foram milhares de cartas de cidadãos com relatos dos mais diversos problemas, que enviei às autoridades para que pudessem resolvê-los".
Numa avaliação criteriosa,  os verdadeiros diferenciais de sua atuação como senador foram dois:
  • ter sido folclórico no bom sentido (com suas cantorias desafinadas e seus happenings hilários), num meio em que quase todos se fingem de sérios e se levam a sério, mas não passam de canastrões sinistros;
  • haver exercido durante todo esse tempo o papel de principal defensor dos direitos humanos no Senado, participando de cruzadas importantíssimas como a travada contra a extradição de Cesare Battisti, em favor da apuração rigorosa dos crimes cometidos pela PM durante a bestial invasão do Pinheirinho, contra as perseguições fascistoides aos manifestantes de rua a partir de junho de 2013, etc. 
Tendo pisado feio na bola ao permanecer num partido cada vez mais distanciado das bandeiras que o haviam empolgado no passado e sendo, por natureza, um homem afável, não confrontou certas abominações com a contundência cabível. 

Ainda assim, com sua fala mansa, teve a coragem de divergir da tacanha linha justa em episódios como o dos pugilistas cubanos (despachados pelo governo brasileiro da forma mais sumária e arbitrária) e da blogueira Yoani Sánchez (a quem as autoridades daquele país tentavam impedir de viajar para cá, onde tinha um prêmio a receber).

Afora haver tido, em 2009, a vergonha na cara de exigir a renúncia por corrupção do então presidente do Senado José Sarney, a quem, deploravelmente, Lula acabaria atirando uma boia quando estava prestes a submergir.

No meio de tantos liliputianos políticos e morais, Suplicy foi um Gulliver. Fará falta.

No entanto, deveria dar mais valor a si próprio. Por que festejar, logo no primeiro parágrafo de sua mensagem de despedida, o fato de que a presidenta Dilma Rousseff se dispôs a recebê-lo nos próximos dias? A audiência que Dilma lhe ficou devendo é bem outra, uma para convidá-lo a ser uma exceção à mediocridade do seu ministério. 

Isto para não lembrar a gritante omissão dos principais dirigentes do PT, Dilma inclusive, quando ele tentava mais uma reeleição.

Trocando em miúdos, a estrofe mais apropriada para o Suplicy cantar, sobre suas relações com os grãos petistas, seria esta do Chico Buarque: "Eu bato o portão sem fazer alarde/ Eu levo a carteira de identidade/ Uma saideira, muita saudade/ E a leve impressão de que já vou tarde".

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