Luciana perderá das grandes máquinas políticas, mas vai sair da campanha muito maior do que entrou. |
Já assisti a demasiados debates eleitorais para ainda levá-los a sério. E, quando os partidos passaram a escolher candidatos-produtos --ou seja, os que melhor se prestam a serem consumidos pelo eleitorado, ao invés dos mais consistentes, mais originais, mais extravagantes, mais brilhantes e/ou mais carismáticos, como outrora--, o caldo entornou de vez. São maratonas de decoreba, mediocridade e baixarias, com raros momentos aproveitáveis.
O da Globo, tido como o mais influente por ser o último e por ter a maior audiência televisiva, conseguiu piorar o que já era péssimo ao excluir as perguntas de jornalistas, que às vezes conseguiam ser desconcertantes e geralmente estavam muito mais próximas da vida inteligente do que as tediosas algaravias dos bonecos de marqueteiros. Provavelmente, tal retrocesso foi exigido pelo staff de alguma candidata insegura (Marina Silva) ou sem jogo de cintura para lidar com imprevistos (Dilma Rousseff).
Performance travada de Marina lembra a do Lula de 1982 |
Este último aspecto se evidenciou no confronto mais revelador do debate, quando a Luciana Genro, duas vezes seguidas, indagou da presidenta se ela aumentaria a tributação das grandes fortunas e dos lucros dos bancos, para ter mais o que investir nos programas sociais.
Dilma, cuja campanha tão falaciosamente imputou a Marina uma suposta intenção de favorecer banqueiros, não ousou se comprometer com duas bandeiras que são o chamado óbvio ululante. Ninguém que tenha o mínimo de caráter e vergonha na cara pode deixar de ser contra estas duas categorias de parasitas, os ociosos que vivem eternamente deitados no berço esplêndido que seus antepassados legaram e os vampiros que se banqueteiam com o sangue do povo brasileiro, obtendo lucros astronômicas graças à conivência dos governos (inclusive os ditos de esquerda) com a mais despudorada agiotagem.
Os negaceios de Dilma e sua mania de enfiar a cabeça como avestruz face aos temas desagradáveis já não surpreendem ninguém. Da mesma forma, ela evita se comprometer com as principais medidas propostas pelas centrais sindicais: redução da jornada de trabalho, fim do fator previdenciário e regulamentação da terceirização.
É um erro crasso subestimar o risco de vitória do Aécio |
E, por temer a reação do oficialato das Forças Armadas, não encampa a bandeira da revisão da Lei de Anistia, única que abriria uma pequena possibilidade de os torturadores ainda virem a ser punidos.
Isto para não falar de sua extrema tibieza diante da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que não cumpriu e não disse por que não cumpriu.
Mas, fingir que tais questões não lhe dizem respeito é uma coisa; desconversar duas vezes quando a adversária lhe formula uma questão muito clara num debate eleitoral, acompanhado por milhões e milhões de brasileiros, é outra. Até os telespectadores menos perspicazes devem ter percebido a manobra. Não consigo imaginar um Lula, um Brizola ou um FHC procedendo de forma tão patética.
Isto para não falar de sua extrema tibieza diante da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que não cumpriu e não disse por que não cumpriu.
Mas, fingir que tais questões não lhe dizem respeito é uma coisa; desconversar duas vezes quando a adversária lhe formula uma questão muito clara num debate eleitoral, acompanhado por milhões e milhões de brasileiros, é outra. Até os telespectadores menos perspicazes devem ter percebido a manobra. Não consigo imaginar um Lula, um Brizola ou um FHC procedendo de forma tão patética.
- Luciana Genro foi o destaque da noite, levando às cordas os três candidatos principais (aliás, se fosse num ringue de boxe, a fuga de Dilma ao combate teria determinado sua derrota por nocaute técnico);
- Aécio Neves conseguiu enganar bem, com sua pose próxima à que se espera de um presidente de verdade;
- Dilma, com sua repetição ad nauseam da retórica oficial e respectivas empulhações, me lembrou A Voz do Brasil e as chatices intragáveis do Jean Manzon e do Primo Carbonari que nos eram impostas nas sessões cinematográficas de outrora;
- Marina continua tão peixe fora d'água quanto o Lula de 1982, na eleição para governador de São Paulo (depois melhorou consideravelmente sua performance, mas teve uma recaída no debate com Fernando Collor em 1989).
Só que a atitude da esquerda era bem diferente então: exigia que fossem relevados os tropeções do sindicalista, indignando-se com o que dizia serem preconceitos da casa grande contra a senzala.
Agora, relativamente a Marina, portou-se como uma turba de linchadores, movendo contra a seringueira uma campanha desmedida de ódio e mentiras.
A chegada ao Palácio do Planalto parece ter imbuído muitos esquerdistas do espírito de casa grande...