sexta-feira, 26 de setembro de 2008

PERDEREI COM IVAN VALENTE E ME ORGULHO DISTO

Sei que meu apoio não vai eleger prefeito nenhum, mesmo porque despertará interesse mínimo por aí. Há muito tempo deixei de ter quaisquer ilusões de grandeza.

Mesmo assim, faço questão de declarar meu voto, porque tenho orgulho de perder com Ivan Valente. Mil vezes melhor do que ganhar com qualquer um dos três que disputam pra valer a Prefeitura de São Paulo.

Conheci o Ivan quando travava luta desesperada para salvar quatro companheiros em greve de fome, no ano de 1986. Eram aqueles jovens de Salvador que, generosos mas ingênuos, quiseram retomar as expropriações de bancos num contexto totalmente adverso e acabaram presos logo na primeira tentativa.

O PT os abandonou, porque prejudicavam suas chances eleitorais. A extrema-direita tramava seu assassinato dentro da prisão. A direita um pouco menos extremada queria jogar nas costas deles todos os assaltos a banco daquela década, atropelando seus direitos constitucionais das mais diversas maneiras. Acabaram indo para o tudo ou nada numa greve de fome que levariam mesmo até o fim, ao contrário dos garotinhos mijões.

Ivan foi, mesmo, valente: como deputado estadual, fez o que pôde, nos bastidores, para ajudar os companheiros, não se importando em contrariar os dirigentes petistas que queriam mais é que os quatro morressem mesmo na prisão. [Passada a tempestade, Ruy Falcão, que faz jus ao nome, referiu-se aos quatro e a mim como "cães danados". Não me ofendi. Antes isto do que ser lulu da madame Favre, quer dizer, Suplicy...]

Depois, em 2004, quando eu estava em penúria extrema e tinha a reparação de ex-preso político como minha única esperança de ainda dar a volta por cima, o Ivan novamente agiu como companheiro, no sentido real do termo. Lutou por meus direitos em Brasília.

Então, pouco me importa o quadro eleitoral. Se está com apenas 1% das intenções de voto, é porque não se dispõe a pagar o preço usual dos que fazem política no atual momento de putrefação capitalista: trair seus ideais e até sua ética pessoal.

Infelizmente, são os que chafurdam na lama os preferidos do eleitorado.

De resto, quero registrar algumas declarações mais marcantes de Ivan Valente, ao ser sabatinado ontem (25) pela Folha de S. Paulo:

- O PT transformou políticas públicas universalizantes, o que era uma marca da esquerda, em políticas públicas focadas, assistenciais, coisa que qualquer partido tradicional pode fazer. Você não vê mais a Marta [Suplicy, candidata do PT] falar em participação popular. É "eu faço", como toda a direita faz. Não tem o espírito coletivo, a marca da esquerda.

- Quando um partido que representou a esquerda passa a ter um descrédito - e o PT foi isso-, não se reafirma novamente um projeto de esquerda em poucos anos. Você precisa afirmar um programa, resgatar ideologicamente e batalhar contra a descrença que o PT deixou.

- Do ponto de vista estruturante das propostas para a sociedade, [as candidaturas do PT, do DEM e do PSDB] são muito iguais. Um ou outro pode ter uma preocupação mais social, manter relações mais intensivas com as periferias, mas nada que o clientelismo de direita não possa fazer. Faz e sempre fez. Maluf fez, Kassab faz, etc. Não há uma grande diferença.

- O governo Lula se beneficia de um momento internacional compensador. A pequena política assistencial rende uma popularidade enorme. Lula tem popularidade nos setores mais populares, diferente do que o PT já foi. Já foi uma grande hegemonia nos movimentos sociais organizados, mas o PT ajudou a desorganizar os setores organizados.

- Certamente [respondendo à pergunta sobre se faltou coragem ao PT]. Precisa fazer enfrentamentos, tem de acabar com a lógica que concentra renda, riqueza e terra.
Não é à toa que ele governa com uma base ultraconservadora.

- O PT criou uma rejeição. Muita gente séria que se desiludiu com o PT. O problema é implantar de novo um projeto de esquerda, porque demora um tempo. Por isso não temos pressa em chegar ao poder a todo custo. (...) Isso matou o PT: chegar ao poder a todo custo.

Em tempo: não sou filiado ao PSOL, mesmo porque deixei de acreditar na conquista de governos como degrau para a revolução. Mas, alguns companheiros que ainda respeito e admiro estão lá, estoicamente, tentando levar novamente a pedra até o topo da montanha e, assim, reconstruir a opção que o PT traiu.

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