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domingo, 22 de janeiro de 2017

O PRIMEIRO GRANDE FILME SOBRE A GUERRILHA URBANA: "A BATALHA DE ARGEL".

O filme para ver no blogue deste domingo é A batalha de Argel (1966), um clássico indiscutível do cinema político, que o diretor italiano Gillo Pontecorvo realizou na melhor fase de sua carreira, três anos antes do igualmente superlativo Queimada (vide aqui). 

Rememora o movimento guerrilheiro que, embora sufocado a ferro e fogo pelos franceses (correram mundo as denúncias das brutais torturas ministradas pelos paraquedistas), acabou sendo o ponto de partida da independência argelina. 

Para variar um pouco a apresentação que faço dos filmes aqui disponibilizados, reproduzirei o que sobre ele escreveram dois ilustres companheiros.

O Mário Magalhães, biógrafo do Marighella, aprofundou o aspecto da guerrilha urbana:

"Tanto os repressores franceses, tropa de choque dos colonizadores, quanto os argelinos militantes da luta armada, combatentes anticolonialismo, influenciaram brasileiros, sobretudo na segunda metade dos anos 1960 e na primeira dos 1970.

Os guerrilheiros de lá, pró-independência, foram uma das inspirações dos guerrilheiros daqui. E os torturadores daqui, herdeiros do know-how dos castigos da escravidão, aprenderam as lições dos de lá, embora no final da história, em 1962, que o filme não alcança, o triunfo no Norte da África tenha sido dos argelinos, e não dos franceses.

A título de curiosidade, eis uma das muitas menções ao filme na biografia Marighella
'Os militares assistiam em sessões privadas nos quartéis a um filme de 1966 que a censura retirara dos cinemas, carimbando-o como subversivo. A batalha de Argel inspirava a luta armada, mas ensinava a sufocá-la — a obra se passa em 1957, a cinco anos da independência da Argélia. 
Um coronel francês compara os insurgentes às tênias, que se reproduzem pela cabeça: precisam cortar a organização revolucionária por cima. É o que fazem matando o guerrilheiro Ali La Pointe, líder da Frente de Libertação Nacional, cujo paradeiro descobriram torturando um companheiro seu. 
No Brasil, a lição argelina equivalia a abater Marighella. É o que a turma do Dops começaria a fazer na alameda Campinas'"
E o responsável pelo melhor blogue de cinema de Portugal, Francisco Rocha, dissecou os aspectos artísticos:

"Um filme comissionado pelo governo argelino, que mostra a revolução argelina dos dois lados. A Legião Francesa tinha deixado o Vietnã derrotada, e tinha algo a provar. Os argelinos procuram a independência, e dá-se o choque. Os franceses usam a tortura, e os argelinos respondem com o uso de bombas tradicionais. O filme traz um olhar desagradável sobre a guerra, e todos nela envolvidos.

Marco de Gillo Pontecorvo sobre o anticolonialismo, é provavelmente o mais famoso filme sem verdadeiros imitadores (Z e outros thrillers políticos são bem diferentes), em grande parte porque os países coloniais costumavam ser os países financiadores desses filmes. Aqui os financiadores eram o país que lutava pela independência, o que traz um ponto de vista totalmente diferente para o cinema político. 

Os argelinos são mesmo o centro das atenções do filme, mas mesmo isto não é o que nos faz simpatizar com eles. Pontecorvo faz-nos entender a podridão da guerra, que nenhum dos lados é inocente, pois os argelinos fazem explodir bombas em cafés que matam civis e os franceses, com a sua tecnologia massiva, também matam civis.

Antes das grandes revoluções serem televisionadas, o cinema político permitia que as grandes populações contemplassem a uma certa distância as maquinações e as consequências das agitações violentas. Em A Batalha de Argel, os avanços técnicos permitiram à narrativa fundir-se com a estética documental e formular um novo tipo de realismo. 

Pontecorvo mergulha nesta estética, no que pode ser o maior filme sobre a insurreição, perfilando a luta da Argélia pela independência em tal detalhe e agitação que muitas cenas parecem tiradas diretamente de um telejornal da atualidade. 

Pontecorvo desliga-se dos aspectos mais emocionais e adota a tática da câmara no ombro, não apenas para estabelecer o efeito documentário, mas também para fazer sobressair o impacto de cada tiroteio ou explosão como uma experiência profundamente pessoal. 

Ação e reação são inevitáveis, assim como a banda sonora memorável de Ennio Morricone, utilizando o mesmo tema para cada um dos lados, é perturbadora.  Três nomeações ao Oscar e três prêmios no festival de Veneza, incluindo o Leão de Ouro".
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sexta-feira, 25 de julho de 2014

VEJA NO BLOGUE UMA DAS CULMINÂNCIAS DO CINEMA POLÍTICO MUNDIAL

Como o blogue do Mário Magalhães acaba de noticiar o lançamento em DVD de A batalha de Argel (d. Gillo Pontecorvo, 1966), resolvi dar uma verificada no Youtube, para ver se já o tinham disponibilizado com legendas. Bingo!

O filme rememora o movimento guerrilheiro que, embora sufocado a ferro e fogo pelos franceses (correram mundo as denúncias das brutais torturas ministradas pelos paraquedistas), acabou sendo o ponto de partida da independência argelina. 

Eis algumas considerações do mestre Pontecorvo (responsável por outras obras-primas, como Queimada! e Operação Ogro) sobre o filme para ver no blogue desta 6ª feira:
"Em A batalha de Argel trabalhei com o que chamo de  ditadura da verdade. Tudo que não parecia verdadeiro era imediatamente descartado. Os atores são gente do povo, argelinos interpretando os próprios papéis, com exceção do coronel francês, um ator profissional. Quando terminei o filme, sugeriram que eu deveria colocar um aviso dizendo que não havia utilizado uma única cena tirada de cinejornais. Foi o maior elogio que recebi. Filmamos muitas vezes imitando os cinejornais, com textura granulada. Sugeri ao meu fotógrafo o uso de um negativo que simulasse esse efeito. Queria cenas de cinejornal, granuladas, mas não medíocres como elas costumam ser".
Para os interessados em mais informações, recomendo a boa apresentação que o companheiro Magalhães fez do DVD (acesse aqui): 

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