Mostrando postagens com marcador Festival Locarno. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Festival Locarno. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

FESTIVAL DE LOCARNO PREMIA FILMES, DIRETORES E ATORES

O Leopardo de Ouro, prêmio máximo do Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, foi concedido à realizadora lituana Saulé Bliuvaitéi por seu filme Akiplésa (Tóxico), que retrata uma juventude abandonada e foi assim definido pelo júri: "uma visão impressionante do corpo feminino adolescente como um campo de batalha".

O Prêmio Especial do Júri foi para o filme austríaco Mond (Lua), dirigido pela realizadora austro-iraquiana Kurdwin Ayub. O filme é uma estranha história de três jovens filhas de uma riquíssima família em Aman, capital da Jordânia, que desejam fugir do que consideram seu cativeiro.

O Prêmio de Melhor Direção foi para o realizador lituano Laurynas Bareiša por seu filme Seses (Afogamento no seco), no qual as famílias de duas irmãs escapam de uma tragédia, o quase afogamento da filha menor, seguido de um acidente mortal de automóvel.

Laurynas Bareiša
Prêmio de Melhor Interpretação masculino foi para os atores do filme lituânio-letoniano Seses, Gelminė Glemžaitė, Agnė Kaktaitė, Giedrius Kiela e Paulius Markevičius. E ainda Prêmio de Melhor Interpretação feminino para a atriz sul-coreana Kim Minhee,  pelo filme Suyoocheon (Pela corrente) do realizador sul-coreano Hong Sangsoo.

Receberam menções especiais os filmes:

Qing Chun (Juventude - Duros Tempos) do realizador chinês Wang Bing, coprodução entre a França, Luxemburgo e Países Baixos; Salve Maria, da realizadora espanhola Mar Coll, um thriller sobre a depressão pós-parto, mostrando a rejeição do bebê por uma jovem mãe. Na narrativa da personagem Maria, jovem mãe com um começo de sucesso como escritora e com uma depressão pós parto, na qual detesta amamentar e ignora o filho, fica sempre presente o risco de chegar ao extremo de matá-lo. Maria parece obcecada com o relato da matricida francesa, noticiado com destaque pela imprensa, a ponto de procurar encontrá-la pessoalmente a fim de saber quais sentimentos a tinham impulsionado ao crime.

O filme deve ser entendido como uma provocação ao tema da maternidade instintiva, considerada tabu, pelo qual todas as mulheres são feitas para serem mães, dentro das novas interpretações do ser mulher pelo feminismo pelo qual a maternidade é cultural, em ruptura com a sacralização da maternidade por todas religiões. O livro de Katixa Aguirre trata dessa questão na visão de Doris Lessing e Sylvia Plath.

Um destaque especial para a realizadora caboverdense Denise Fernandes, Prêmio de Melhor Diretora Emergente por seu filme Hanami, uma coprodução suíço-portugesa-caboverdense. (por Rui Martins)

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

COMEÇA DIA 7 O FESTIVAL DE LOCARNO DE 2024

 

O Festival Internacional de Cinema de Locarno, na região suíça de língua italiana, o Ticino, é considerado o quarto pela ordem de importância, depois de Veneza, Cannes e Berlim. Tem, porém, uma particularidade: sendo um festival no começo do outono europeu, ainda com noites quentes, inclui, além das projeções nas salas escuras, bons filmes exibidos ao ar livre, na maior praça da cidade, a Piazza Grande, num telão de 400 metros quadrados.

Tudo está previsto para o prazer dos oito mil espectadores sentados na Piazza Grande, porém não existe uma garantia a 100% de noites sem chuva. Alguns ainda se lembram das três noites consecutivas de chuvas na Piazza Grande, durante o festival de 2001. Este ano, o primeiro filme a ser exibido na praça pode chamar chuva por seu título!

O filme inaugural do Festival de Locarno, O Dilúvio, tem uma história bem francesa, mas é dirigido pelo cineasta napolitano Gianluca Jodice, tendo como atores principais Mélanie Laurent e Guillaume Canet.

É uma reconstrução dos últimos dias do casal real Louis XVI e Maria Antonieta, presos e retirados de Versalhes com seus filhos durante a Revolução Francesa, em 1789, e levados à Torre do Templo, um sinistro castelo parisiense, onde aguardam julgamento. O fim do filme não é segredo: é a pena de morte na guilhotina.

O filme é ainda inédito e só será lançado nos cinemas e streaming no dia 25 de dezembro. Gianluca Jodice ficou conhecido por seu filme O Mau Poeta sobre a relação entre Gabriele D'Annunzio com Benito Mussolini, vista pelos olhos de Giovanni Comini, funcionário do Partido Fascista.

Será também exibido na Piazza Grande o filme iraniano As Sementes da Figueira Sagrada, de Mohammad Rasoulof, com prêmio especial no Festival de Cannes. O cineasta iraniano fugiu do Irã, onde tinha sido condenado pela ditadura teocrática a cinco anos de prisão e a receber 50 chicotadas por seus filmes.

Haverá 17 filmes inéditos selecionados para a Competição Internacional, dos quais 7 são dirigidos por realizadoras. Essa quase paridade de gênero é considerada uma inovação entre os festivais internacionais.

Na falta de filme brasileiro na competição, chama a atenção o filme português em coprodução com a Suíça, Fogo do Vento, primeiro filme de Marta Mateus. Uma síntese do enredo foi distribuída pela produção e o centro da trama é a respeito de Soraia, que trabalha na vindima e é protagonista de um ritual quase perdido. Ela enfrenta um grande touro preto que escapou. No alto das árvores, num plano entre mundos, a comunidade partilha o pão com os antepassados convocados para a celebração da vida e do vinho. Entramos na grande noite onírica, onde a natureza também fala. Arde, é o fogo do vento que traz a onda de calor. (por Rui Martins)

terça-feira, 15 de agosto de 2023

FILME CRÍTICO AO REGIME TEOCRÁTICO DO IRÃ VENCE FESTIVAL DE LOCARNO


 
O Festival Internacional de Cinema de Locarno anunciou o ganhador do prêmio Leopardo de Ouro com a frase: "filme Zona Crítica, de Ali Ahmadzadeh, um hino à resistência iraniana e à liberdade". Uma mensagem enviada a todas as iranianas e a todos os iranianos que combatem a ditadura teocrática xiita. Mas sentida também, de maneira forte e percutante, por todos que viveram em seus países, o peso e a violência da censura. E o Festival de Locarno confirmou mais uma vez sua vocação de defensor da liberdade e dos direitos humanos.

 No ano passado, o Leopardo de Ouro entregue ao filme libertário de Júlia Murat, Regra 34, era uma mensagem aos reacionários religiosos bolsonaristas, empenhados em acabar com o cinema como expressão de ideias e comportamentos por cineastas livres e independentes. Um filme político, como havia definido o diretor do Festival, assim como é o filme iraniano.

Este ano, o Leopardo de Ouro com suas unhas e dentes desafia a ditadura teocrática xiita iraniana e passa mesmo um sabão na diplomacia alemã por ter negado, há alguns meses, visto de entrada na Alemanha ao realizador do filme, o iraniano Ali Ahmadzadeh. Depois da divulgação da seleção do filme iraniano Zona Crítica para a competição internacional do Festival em meados de julho, Ali Ahmadzadeh passou a ser pressionado pelas autoridades policiais e pelo governo iraniano a fim de retirar seu filme da competição. E foi impedido de sair do Irã para apresentar seu filme em Locarno não podendo, portanto, receber pessoalmente o prêmio, que será entregue ao produtor do filme, Sina Ataeian Dena, seu representante junto à imprensa em Locarno.

O prêmio ao filme iraniano é concedido onze meses depois do assassinato pela polícia iraniana da jovem Masha Amini. Zona Crítica conta os trajetos de um dealerorientado pelo som do seu sempre presente GPS nos arredores de Teerã, dirigindo nas noites escuras seu automóvel pelos túneis das vias expressas das autoestradas periféricas. Embaixo do aeroporto encontra-se com uma jovem vinda de um avião que, com pouco combustível, quase se espatifou porque os russos não queriam autorizar nem pouso e nem fornecer combustível. "Veja onde está o prestígio do nosso país", diz ela, que recebe um pacote de ópio para levar a Amsterdã.

Depois de ter distribuído biscoitos de maconha para velhinhos, atende o pedido de uma mãe desesperada com seu jovem filho numa crise por consumo de drogas. Consome cocaína com uma jovem passageira sem o véu exigido pela teocracia,  assustam-se com o aparecimento de um carro que os persegue, provavelmente da polícia. Livram-se da perseguição, mas a jovem, ainda sob o choque, passa a gritar - "fodam-se, fodam-se", dando a impressão de não mais suportar o regime e as restrições a quem tem de se submeter como mulher.

Abaixo, os principais vencedores do 76. Festival Internacional de Cinema de Locarno:

Leopardo de Ouro: Zona Crítica, d’Ali Ahmadzadeh (Irã e Alemanha)

Prêmio Especial do Júri: Não espere Muito do Fim do Mundo, do realizador romeno Radu Jude.

Prêmio de Melhor Direção: Estepe, da ucraniana Maryna Vroda.

Prêmios de melhor interpretação: Dimitra Vlagopoulou, no filme grego Animal, de Sofia Exarchou; e Renée Soutendijk, no filme holandês Doces Sonhos, de Ena Sendijarević. (por Rui Martins) 


Related Posts with Thumbnails