"Nunca vi o espetáculo de Leo Lins, mas não importa o que seja. Ninguém pode ser preso por fazer rir. Os canais brasileiros têm medo de ser processados, pagar multas e, agora, até de ter seus contratados presos.
A censura militar talvez tenha sido mais branda do que aquilo que acontece hoje, porque existia o foco no jornalismo, mas Chico Anysio, Jô Soares e Renato Aragão brilharam nessa época.
Antes disso, no Estado Novo de Getúlio Vargas, havia programas no rádio, como o Lauro Borges & Castro Barbosa. Lauro ia trabalhar com uma malinha, porque já sabia que seria preso, mas ele dormia uma noite na cadeia e era solto no dia seguinte, porque não havia fundamento para manter a prisão —como não há hoje. Mas regredimos."
O depoimento acima é de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que foi diretor da Globo de 1967 a 1997. Ele ainda se lembra dos tempos em que perdia horas de trabalho para negociar com os censores e não vê muita diferença com o cenário atual. Pelo contrário, acredita que a condenação do comediante Leo Lins imporá ainda mais receio.
Muitos outros profissionais destacados da área de artes, espetáculos e comunicação foram ouvidos por Pedro Martins, diretor-adjunto da Folha Ilustrada, que elaborou uma extensa reportagem sobre a terra arrasada a que foi reduzido o gênero do humor sob os ataques simultâneos da extrema-direita caçadora de bruxas e do politicamente correto cancelador e punitivista.
Detalhe: esse verdadeiro terrorismo de fanáticos intimida tanto que o Boni foi o único que autorizou a citação do seu nome, os outros só falaram em off.
A reportagem intitula-se Entenda o apagão do humor na TV, com medo de irritar o público à esquerda e à direita e é leitura obrigatória para quem ainda mantém o salutar hábito do pensamento crítico nesta tenebrosa era da polarização ideológica.
O pior, para mim, é que os ultradireitistas sempre foram mesmo tacanhos, apenas se tornaram mais influentes agora. Já a esquerda era ou tentava ser exatamente o contrário e eu não me conformo em vê-la assim descaracterizada, tão beligerante no secundário quanto omissa no fundamental, travando as batalhas erradas e espantando os civilizados que antes atraía. (por Celso Lungaretti)
"Eu quis cantar minha canção iluminada de sol/ Soltei os panos
sobre os mastros no ar/ Soltei os tigres e os leões nos quintais/
Mas as pessoas na sala de jantar/ São ocupadas em nascer e morrer"
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