sexta-feira, 13 de setembro de 2024

MARÇAL É O LÚMPEN NEOLIBERAL

 Pablo Marçal é o típico picareta: condenado criminalmente, charlatão, coaching, influenciador, ficou milionário aplicando golpes em milhares de pessoas que acreditavam em suas promessas vazias de ficarem ricas com seus ensinamentos. Antes das eleições deste ano, era mais conhecido por ter levado cerca de cem pessoas para o Pico dos Marins, ocasião em que tais pessoas ficaram presas no monte e tiveram de ser resgatadas pelo corpo de bombeiros em uma operação arriscadíssima. O frio extremo, o cansaço e a falta de comida quase levaram a uma tragédia diante da qual Marçal respondeu puxando uma oração para "deus parar o vento"

Outro grande momento de sua trajetória foi quando um homem morreu ao participar de uma maratona surpresa promovida por Marçal. A corrida teve sua extensão ampliada, de uma hora para outra, para 42 km. Mesmo sem preparo algum, o homem, instado pelos ensinamentos do agora candidato a prefeito, foi em frente e acabou morrendo por esforço excessivo. 

Basicamente, são essas as credenciais de Marçal, irresponsabilidade e enganação. Para ele, qualquer um pode alcançar o que quiser, não precisando de preparo ou considerações sobre as condições concretas. Basta querer e você conseguirá qualquer coisa, muito possivelmente um caixão. Pablo assim leva a prática do coaching às últimas consequências: no fim, pouco importam as condições para se realizar algum objetivo, importa apenas o puro desejo. É a egolatria alucinada. 

O fenômeno coaching está enraizado no capitalismo monopolista, em uma época que há um descolamento titânico entre as promessas burguesas de ascensão social e as possibilidades concretas de realização dessas promessas. Os monopólios engolem todos os pequenos capitalistas e submetem os trabalhadores à ultra competição, atomizando-os para baixar o valor de sua mão de obra. O trabalhador é induzido a trabalhar cada vez mais, enquanto ganha cada vez menos. O resultado é o aumento exponencial da carga de trabalho e a queda drástica da renda. Dessa contradição, surge o coaching, uma espécie de padre neoliberal, prometendo o céu para os desalentados pelo neoliberalismo. 

Esses são geralmente trabalhadores com certo nível de escolaridade - não raro, com ensino superior - trabalhando em subempregos ou endividados. A pseudo intelectualidade do coaching, com seu discurso repleto de tiradas pseudo psicológicas, frases soltas de filósofos, moralismos e pseudo ciência seduzem esse grupo que compartilha da mesma superficialidade intelectual. O maior sonho deste grupo é alcançar o topo da pirâmide, ter uma vida de puro consumo com mínimo esforço e, por isso, geralmente, são também apostadores do mercado financeiro, acreditando encontrar ali alguma virada da fortuna. 

Incapazes de realizar seus sonhos de luxo, devido à configuração monopolista do mercado capitalista, isolados, pois para todo lado só enxergam competidores, se retraem em sua própria individualidade e passam a viver de fantasias e, o que é pior, a acreditar nelas. O resultado é a frustração, o desejo não efetivado que acaba por se tornar  psicose. De tanto serem esmagados pelo princípio da realidade, deixam livre curso ao princípio do prazer e acabam capturados por qualquer um capaz de alimentar tais fantasias. Aqui entra o coaching. 

Marçal vende sonhos e o sonho, conforme já ensinou Freud, é a fantasia desmedida, o ID sem qualquer restrição. E uma das grandes fantasias presentes no sonho é a egolatria, ou seja, a ilusão de ter o mundo inteiro girando ao seu redor para atender seus desejos, daí todo sonho ser em primeira pessoa. Com Pablo Marçal, milhões podem viver tal fantasia, mas acordados, pois ele os convence que as leis da materialidade, a realidade objetiva do mundo, ficam suspensas e passa a existir apenas o puro querer do eu. 

Isso faz de Marçal uma força poderosa, pois investida de uma pulsão psíquica potente. Mas também o torna frágil, pois seu movimento é descolado de qualquer objetividade, qualquer materialidade, e uma vez confrontado com o mundo real, só poderá se desfazer igual uma bolha de sabão. Assim, Marçal só poderá ser uma força virulenta, fanática, sem peias, igual é todo desejo desenfreado, mas por não possuir orientação, acabará fatalmente dissipado. Por isso, é fundamental que tal força esteja confluída para um alvo, a fim de usar tal ímpeto e não deixa-lo se dissipar. No caso, o alvo é a esquerda - entendida no sentido bolsonarista, ou seja, tudo que não é extrema-direita - vendida como sendo a responsável pelo fracasso de todos esses indivíduos que não conseguiram atingir seus objetivos. 

No entanto, Marçal é pura forma e nenhum conteúdo, por isso é pouco provável que consiga se sustentar sozinho no longo tempo. Não está organicamente ligado a nenhuma força política de relevo, seja as igrejas, as forças armadas, o agronegócio ou os bancos. É o representante solitário de milhões de lúmpens neoliberais, os quais tão pouco estão organizados em alguma coisa. Nesse aspecto, é ilusório acreditar que ele possa substituir Bolsonaro e sua trupe, porque esses possuem substancialidade, pois embora se finja outsider, o ex-presidente fujão jamais foi um estranho no ninho da politicagem. O mais correto aqui será pensar em uma fusão entre Marçal e o bolsonarismo, com esse deglutindo aquele para se renovar. 

Seja como for, Marçal já mostra o quanto a sociedade capitalista no Brasil está apodrecida, com seus coachs vendedores de vento e aplicadores de golpes. (por David Coelho)

2 comentários:

Neves disse...

https://earthobservatory.nasa.gov/images/153295/smoke-fills-south-american-skies

https://www.airnow.gov/trends/?city=S%C3%A3o%20Paulo&country=BRA

Anônimo disse...

E se ele ganhar!?
Algo mudará?
A burocracia acabará?
Mais uma polícia resolverá?

https://youtu.be/q_BI7t3CEdo?si=r7d4JJEjLdGghE7r

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