segunda-feira, 15 de julho de 2024

O IMPOSTO, UM GRANDE IMPOSTOR!

 


Desculpem o trocadilho fácil do título deste artigo, mas não consegui me livrar da tentação de fazê-lo. É que, desde logo, quis afirmar a falácia da cobrança de impostos como forma de proporcionar ao Estado os meios de proteção ao cidadão.  

Na relação social mercantil, própria ao sistema produtor de mercadorias, juntamente como a extração de mais-valia e a inflação de preços das mercadorias que causa a perda de poder aquisitivo dos salários, os impostos se configuram como outra grande forma de exploração social.   

O imposto é uma mensuração em valor econômico, portanto sob a forma da mercadoria dinheiro, cobrado aos consumidores de mercadorias; em parte dos lucros obtidos empresarialmente pela produção e venda de mercadorias que são repassados aos consumidores; ou nas operações financeiras, para a sustentação da máquina estatal, predominantemente opressora.  

Por mais que se queira dourar a pílula, como querem todos os governantes, os impostos são cobranças impostas ao povo sob a forma-valor representada pelo padrão monetário estatal, o dinheiro, e como categoria capitalista sui generis, imprescindível e imanente à opressão estatal do capital como forma jurídica circunscrita à regência social da forma-mercadoria, fonte de todos os males. 

O tributo, ou imposto, palavra que se origina do latim tributum, nasceu inicialmente sob a forma de contribuição material - alimentos, animais, peles, etc. - dos produtores das tribos para a sustentação administrativa comunitária solidária, sem a característica posterior de quantificação monetária impositiva, o que demonstra que pode existir participação comunitária na sustentação material da sua organização jurídico-constitucional horizontal e fora do sistema produtor de mercadorias e da forma-valor.  

À altura correspondia a uma doação espontânea, fruto de uma necessidade de suprimento material para aqueles que se incumbissem da organização comunitária, contribuição que, infelizmente, com o passar do tempo adquiriu uma conotação opressora.     

A sua consolidação como tributo oficial, estatal, veio com a escravização e a consequente necessidade de formação de forças militares garantidoras do regime escravista, principalmente sob a forma de salário em dinheiro, de onde se pode concluir a negatividade intrínseca a essa categoria social que mais tarde se configuraria como uma das mais importantes categorias capitalistas da chamada modernidade.  

Há hoje um descompasso entre duas contas mercantis fiscais estatais: 

a necessidade de suprimento financeiro dos seus custos operacionais estatais, que incluem gastos com a infraestrutura de produção capitalista (estradas, energia, portos, etc.); gastos com os juros da dívida pública crescente; subsídios de financiamento à produção com juros baixos pelos chamados Bancos de Desenvolvimentos; instituições do poder político (parlamento e justiça); máquina administrativa (salários do poder executivo); juros da dívida pública; e gastos miliares (tropa, equipamentos e manutenção) e; 

- a capacidade de arrecadação de impostos numa economia mundialmente depressiva, que está levando a máquina estatal a um endividamento insuportável graças aos juros pagos aos bancos, grandes e pequenos rentistas e aos grandes capitalistas industriais e comerciais que hoje vivem mais das aplicações financeiras do que da produção e venda de mercadorias. 

Neste cenário, a direita, sabedora do colapso iminente das contas públicas e da consequente falência do sistema de crédito bancário, defende o estado mínimo, sem preocupações sociais, e pronto a fazer, pela força das armas, o ajuste das contas públicas a qualquer preço, inclusive com o aumento dos impostos cobrados à população na compra e venda de mercadorias.  

Mas a esquerda institucional, com argumentos diferenciados, e com preocupações sociais eleitorais, converge com a direita no item relativo à cobrança dos impostos. 

 A esquerda mais combativa, a intelectualidade fora da institucionalidade e alguns tímidos setores da esquerda institucional defendem a taxação das grandes fortunas como se fosse a pedra fundamental para a solução da crise do capital. Incorrem no erro de querer consertar o capitalismo a partir de suas próprias categorias, sem superá-las.

É necessário entender que as grandes fortunas estão na propriedade das pessoas jurídicas e apenas uma menor parte delas na propriedade das pessoas físicas. As empresas precisam permanentemente de mais capital para fazer face à corrida concorrencial de mercado cujo capital é cada vez mais monopolista e concentrado nesses monopólios.  

Taxar os seus patrimônios financeiros e lucros das empresas, aliviaria a falência estatal e, consequentemente as finanças públicas, mas causaria uma depressão econômica ainda maior do que a atual por conta da redução da capacidade empresarial de investimento, ou seja, sob a lógica do capital na fase do seu limite interno e externo de expansão, não há soluções simples e viáveis.  

Os efeitos colaterais aparecem como num lençol curto na tentativa de cobrir um corpo agigantado e descoberto. 

Ademais, há uma predominância de parlamentares conservadores nas casas legislativas mundo afora, como resultante do jogo democrático burguês onde impera o poder econômico eleitoral, e a taxação das grandes fortunas empresariais seria matéria controversa por conta de que tal medida aumentaria o desemprego estrutural que já é crescente por conta mecanização eletrônica irrefreável na produção de mercadorias, pois o capitalismo cava a sua própria sepultura, conforme já expressava Marx.         

Essa unidade de comportamento de aumento tributário da direita e da esquerda, mesmo que sob intenções diferenciadas, decorre do fato de que ambas dirigem as suas diretrizes políticas sob uma mesma base mercantil.   

A direita age assim por razões obvias, ou seja, para tentar dar sequência ao seu objeto teleológico de crescimento do bolo para que dele possa jogar ao chão para o povo as migalhas que sobrarem dos seus banquetes, mas sem querer compreender que a festa acabou, tal qual o baile da Ilha Fiscal no crepúsculo da monarquia brasileira em transição para a república. 

A esquerda institucional, estatizante, quer colocar o capital a serviço da política, sem compreender que a política, na sociedade do capital, extrai recursos das relações mercantis e é a ela submissa, razão pela qual fala permanentemente na retomada do desenvolvimento econômico para equalizar as contas públicas e tentar aumentar e melhorar o nível de empregabilidade, ou seja, tentar aumentar a quantidade de gente na exploração pelo trabalho abstrato que defendem equivocadamente.  

Lula, há pouco tempo, fez um discurso contra a liberação de cobrança de impostos aos empresários sob a forma de subsídios, mas misturou coisas diferentes como se fossem idênticas para defender o aumento indiscriminado da arrecadação de impostos.  

Isentar imposto sobre mercadorias de consumo popular é medida que beneficia o povo que as compra; desonerar a folha de pagamento, algo feito pela presidente Dilma Rousseff em 2012, na contribuição previdenciária de responsabilidade empresarial em 20% e substituí-la por uma taxa de imposto menor sobre a renda bruta é agradar o capital sem benefício direto para as contas da previdência social - que ele quis equalizar tirando direitos dos aposentados, razão da dissidência que criou o Psol, ainda em 2003, agora aliado político no cínico jogo eleitoral. 

Javier Milei, por sua vez, afirma que o ajuste das contas públicas dar-se-á sobre o corte de gastos com demandas sociais, não com o setor capitalista privado que, claro, quer revitalizar diante do marasmo atual.  

Não tenhamos dúvidas: as categorias capitalistas valor, trabalho abstrato, dinheiro, mercadoria, mercado, Estado, política institucional, partidos políticos, e essa que tratamos neste artigo, o imposto, formatam o universo de uma relação social que entrou em disfunção orgânica por seus próprios fundamentos ao atingir o limite interno e externo das suas existências expansionistas.  

Precisamos ter a coragem de nos desprendermos delas e estabelecermos uma nova forma de relação social que nos humanize e que negue todas as categorias que são imanentes à destrutiva e, agora, autodestrutiva relação social capitalista. (por Dalton Rosado)

5 comentários:

Neves disse...

https://rebelion.org/los-fundamentos-miticos-del-capitalismo/

Anônimo disse...

https://www.telegraph.co.uk/content/dam/news/2024/07/15/TELEMMGLPICT000385597357_17210090166240_trans_NvBQzQNjv4BqqVzuuqpFlyLIwiB6NTmJwfSVWeZ_vEN7c6bHu2jJnT8.jpeg?imwidth=640

Anônimo disse...

***
Diversa da origem idílica de uma contribuição voluntária para a comunidade, o imposto teve origem sempre na coação e na ameaça, velada ou não.
Atente-se para os chimpanzés, nossos primos, que caçam de maneira cooperativa, mas quando se trata da repartição da caça... são competitivos e prevalece a lei do mais forte.
*
O esforço coletivo em qualquer empreita tende a aumentar a probabilidade de sucesso, mas, macacos inteligentes que são, na hora de dividir o resultado usam essa inteligência e força física para subtrair a parte dos outros colaboradores e ficar com a melhor parte.
*
Ouvia eu de um cara analfabeto "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é bobo ou não entende da arte".
E dizia com ares de quem afirmava a mais pura sabedoria.
Assim era o pessoal da comunidade original.
*
A realidade é que evoluímos. Criamos escrúpulos.

E de alguma maneira o trabalho coletivo resulta em algum benefício a comunidade.

Ou resultava, pois, no íntimo de cada bicho homem, ainda é recitada a quadrinha jocosa.

Quem é justo "é bobo e não entende da arte".

Esse é o clima moral da humanidade.
*
A injustiça elevada ao estado de arte.
*
Ocorre que não é o capital quem periclita.

O que está se acabando são as moedas fiduciárias dos estados nação.

A forma-valor e suas consequências na sociedade ainda são preciosos instrumentos de progresso e justiça nas relações sociais.
*
O que vem aí é resultante da virtude do sistema: o avanço tecnológico.

A mercadoria dinheiro será baseada em informação e não mais em cédula.

Isso implicará em deflação. Diminuição ou mesmo extinção de impostos e barreiras alfandegárias permitindo que a grande famĺia humana dialogue e negocie sem barreiras e atravessadores.
*
Haverá governo, como sempre houve, porém, com grande possibilidade de gestão e controle de como está sendo usado o recurso público.

Será, cada vez mais, virtuoso o processo.

E vejo que um período de grande prosperidade se aproxima.
*
Nunca fomos tão capacitados para isso.
Nunca tivemos tanta riqueza e conhecimento.
E nunca os brigões e causadores de cizânias estiveram tão expostos em suas patranhas.
Avante!
***
SF

Anônimo disse...

Caro SF,
Permita-me discordar fraternalmente de alguns conceitos e cconclusões do seu comentario:
1. A forma-valor se constitui como modo de relação social criada pelo ser humano como forma de apropriação privada estranha aos interesses comunitários. Isso se deu originalmente com o escambo e sua trocas quantificadas transformando objetos de consumo em mercadorias e toda a sua negatividade daí resultante. Agora tal processo entra em disfunção social e se cinstitui comonum desastre social;
2. A evolução do saber da humanidade se deu gradativamente e expõe a idiossincrasia do sistema produtor de mercadorias que clama por formas alternativas de relação social que nao seja excludente e nem ecologicamente predaroria;
3. O dinheiro é representação numérica do valor, abstrações que se materializam nas mercadorias e escravizam em nome do acúmulo do capital. As cédulas estão dando lugar aos cartões de crédito e o valor das contas bancárias são numeros abstratos que comandam a vida real destrutivamente;
4. A forma politica atual tende a desaparecer quando superarmos o sistema produtor de mercadorias e suas mazelas sociais;
5. Se não sucumbirmos como espécie (explosão neclear e aquecimento global, entre outras terríveis possibilidades) e superarmos as cacategorias capitalistas, aproveitando o saber adquirido a nosso favor, poderemos ter um futuro promissor.
Um abraço.

Anônimo disse...

Violência política de gênero
https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/RYFHXSAEPP6BFZL5PLFSIR7BZ4.jpg?auth=ebededd6da5e36f12202a51f87cda9aefb76b62d25a9d786dffd3b42a8d6113b&width=1200

Related Posts with Thumbnails