segunda-feira, 21 de agosto de 2023

O BRASIL REGRIDE ATÉ NO FUTEBOL

Sob o olhar de defensores palmeirenses, Tiquinho Soares
comemora seu gol: Botafogo 1x0, em pleno Allianz Park
.
Lembram do frevo do bi, interpretado pelo saudoso Jackson do Pandeiro? Começava assim: "Vocês 
vão ver como é Didi, Garrincha e Pelé dando seu baile de bola. Quando eles pegam no couro, o nosso escrete de ouro mostra o que é nossa escola".

Evidentemente, como foi composto antes mesmo de começar o Mundial Fifa de 1962, caducou logo de cara, pois o baile de bola do Pelé ficou restrito à vitória fácil e sem brilho contra o freguês mexicano por 2x0, gols marcados por ele e Zagallo. 

Na segunda partida, lá pela metade do 1º tempo, Pelé arrematou de fora da área contra a meta da Tchecoslováquia, acertou a trave e desabou no chão, com estiramento muscular. Estava definitivamente fora de combate.

Coube a Mané Garrincha carregar o um tanto envelhecido selecionado brasileiro nas costas, em Copa na qual o Sobrenatural de Almeida do Nelson Rodrigues assombrou imparcialmente a nós e à nossa principal adversária:
— nas oitavas-de-final tirou Pelé do gramado e a partida terminou em 0x0; 
— mas na final, os 3x1 para nós dependeram de duas falhas bizarras daquele que vinha sendo o melhor goleiro daquela Copa, Schroif (no primeiro gol se adiantou para interceptar um cruzamento de Amarildo, que saiu fechado e acabou entrando, para surpresa do próprio possesso, enquanto no terceiro gol ele soltou aos pés do Vavá uma bola que praticamente já havia dominado).  
Com Jorge Jesus o Flamengo foi vitorioso e
goleador como não se via desde a era Zico

Nossa escola realmente deslumbrou o mundo em 1958, 1970 e 1982 (apesar de eliminada pela Itália graças a erros bobos dos zagueiros). No entanto, lamentavelmente, ela deixou de existir.

Não estou exagerando. É que o Botafogo, após passar décadas como coadjuvante até mesmo no futebol carioca, acaba de renascer pelas mãos do investidor estadunidense John Textor. E, no Brasileirão de 2023, cravou o melhor 1º turno na história dos pontos corridos com 20 equipes, tendo um aproveitamento de estratosféricos 82,5%.

Qual o segredo de tal excelência de desempenho, obtida com jogadores já rodados e, individualmente, bem menos brilhantes do que, p. ex., os craques do Flamengo?    

O blog do Rafael Reis matou a charada: nada menos que 15 integrantes do elenco atual do Botafogo haviam anteriormente atuado na Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha, França, Portugal ou Holanda. E aqui foram confiados a técnicos portugueses, um depois do outro.  
"Encher o Botafogo de atletas acostumados à competitividade daqueles que são considerados os campeonatos nacionais mais fortes do mundo foi uma ideia implantada por John Textor desde o momento em que comprou a SAF do clube, no primeiro semestre do ano passado".
Nossa escola, apesar das glórias passadas, hoje tem pouco a mostrar ao mundo e muito a aprender com a europeia, o que acaba de ser comprovado inclusive na competição feminina.
Eliminadas pelas jamaicanas, as brasileiras só
podiam mesmo esconder a cara. Que vexame!

E o pior é que escolhemos os mestres errados: a CBF vai para o Mundial 2026 de Carlos Ancelotti, um técnico geralmente reativo, que combina defesas fortes com alguns craques no ataque, suficientes apenas para marcarem os gols necessários. Suas campanhas são amiúde vitoriosas, mas raramente memoráveis.

O Flamengo teve o melhor desempenho desde a era Zico graças a um discípulo menor daquele que é, disparado, o técnico máximo do século 21, Pep Guardiola. E sua diretoria desde então bate cabeça, desperdiçando sucessivas chances de recontratar Jorge Jesus. 

Quanto ao Palmeiras, ganha títulos mas não dá espetáculo sob a batuta de Abel Ferreira, de carreira inexpressiva lá fora mas superestimada aqui dentro. 

Este é outro discípulo menor, ainda por cima de um treinador inimigo do futebol: o retranqueiro-mor José Mourinho (Guardiola o fazia de gato e sapato nos clássicos entre Barcelona e Real Madrid de 2008 a 2012).

Até no futebol estamos ultimamente preferindo os conservadores aos revolucionários. E nos saindo muito mal. (por Celso Lungaretti)  

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